A imagem pública da Apple é de uma empresa amigável com o consumidor, preocupada com o planeta e responsável com suas parceiras — ou seja, uma verdadeira boa moça materializada numa empresa de US$1,4 trilhão. A questão é que, naturalmente, esses 1,4 trilhão de dólares não saíram desse bom mocismo, e sim de muita estratégia e táticas duras de negociação.
É justamente isso que mostra um perfil publicado recentemente pelo Wall Street Journal, focado no vice-presidente de aquisições da Maçã, Tony Blevins. Baseado em fontes internas (e não-nomeadas) da Apple, a reportagem mostra o lado menos “público” — e menos amigável — das negociações da empresa, evidenciando a batalha de Blevins e sua equipe para cortar custos em todos os lados.
O executivo chegou à Apple em 2000, selecionado por Tim Cook em pessoa (à época, COO1Chief operating officer, ou diretor de operações. da Maçã) após um período em que os dois trabalharam juntos na IBM. Inicialmente, Blevins cuidava das negociações de elementos mais espartanos da operação da empresa, como o papel higiênico utilizado em suas sedes; eventualmente, ele foi escalando as tabelas da Apple com suas táticas e mão-de-ferro nos negócios — sua primeira operação com componentes de produtos foi negociando peças para iPods, em meados dos anos 2000.
Com o tempo, Blevins passou a ser conhecido dentro da empresa como “The Blevinator”, quase como se suas ações se comparassem às de uma máquina de negociação. Foi ele, por exemplo, que liderou a parte administrativa da empresa na guerra contra a Qualcomm, convencendo outras fornecedoras a suspenderem o pagamento de royalties à rival.
As práticas do executivo são conhecidas pela intransigência: em uma certa ocasião, em 2013, a STMicroeletronics não baixou o preço dos giroscópios fornecidos para iPhones e iPads; mesmo com uma relação duradoura com a parceira, Blevins cancelou imediatamente o contrato com a STM e foi à procura de outra fornecedora.
Considerando esse tipo de tática e contratos de confidencialidade extremamente protegidos, exigidos por Blevins, as parceiras da Maçã ouvidas pela reportagem descreveram uma relação tensa com a empresa — como se todos estivessem a todo momento pisando em ovos para não chamar a atenção (negativamente) do “The Blevinator”.
Nada do que foi descrito aqui chega a ser surpreendente — é óbvio que qualquer empresa, especialmente uma tão grande como a Apple, precisa de figuras desse tipo para garantir sua competitividade. Ainda assim, não deixa de ser uma história interessante para mostrar que a Maçã não é, debaixo dos panos, a boa moça que aparenta ser em todos os momentos.
via MacRumors
Notas de rodapé
- 1Chief operating officer, ou diretor de operações.