A Apple é notoriamente inflexível no que diz respeito às taxas cobradas na App Store — mesmo com uma nova política de repasses para assinaturas duradouras, introduzida há alguns anos, várias plataformas (como o Spotify e a Netflix) preferem não oferecer uma forma de os usuários assinarem ou comprarem seus serviços pelo iOS, preferindo redirecioná-los aos seus sites oficiais e se livrando da obrigação de compartilhar 30% do valor da compra com a Maçã.
A Amazon realizava uma prática parecida com seu aplicativo de streaming, o Prime Video. Nos Estados Unidos e em alguns outros países, a plataforma oferece aluguel e venda de filmes/séries avulsos aos usuários, como acontece no app Apple TV, da Apple — vale notar que, no Brasil, o app oferece apenas acesso a conteúdos originais ou licenciados por uma taxa fixa mensal.
A questão é que, no aplicativo para iOS, até agora, usuários que tentassem comprar ou alugar conteúdo no app eram indicados a realizar a transação no site da Amazon. Agora, não mais.
Desde ontem, usuários dos EUA podem comprar e alugar conteúdos do Prime Video para iOS sem sair do aplicativo; a infraestrutura de pagamento, entretanto, é da própria Amazon, e não da Apple — o que, a princípio, não seria possível segundo as regras da App Store. Que bruxaria é essa?
Segundo a Apple, é simples: a Amazon passou a fazer parte de um “programa para aplicativos de vídeo premium” — programa esse cuja existência era desconhecida por basicamente todo mundo até agora, mas que, de acordo com informações da Bloomberg, já é utilizado por outros serviços, como o Altice One e o myCANAL, do Canal+ (este último, pasmem, desde 2018).
O programa permite que os serviços utilizem seus próprios sistemas de pagamento dentro dos aplicativos para iOS, presumivelmente podendo ficar com toda a receita gerada com as compras, aluguéis e assinatura. Pelo visto, o benefício é oferecido apenas a algumas parceiras selecionadas da Maçã, e não de forma generalizada — o que pode explicar o fato de a Netflix e o Spotify, por exemplo, nunca terem entrado num esquema semelhante.
Em outras palavras, o programa é basicamente um acordo de comadres: a Apple oferece o benefício a empresas com quem mantém relações amigáveis (e que, na visão dela, não ameaçarão seus próprios negócios) e, em troca, possibilita uma experiência de uso mais satisfatória aos clientes desses apps — o que, às vezes, é preferível a receber alguns dólares a mais na receita trimestral.
Resta saber se agora, que o programa é conhecido publicamente, a Maçã o expandirá para outras empresas. Fica a torcida para que sim.