Ainda que criada com o (provável) nobre intuito de conter o avanço de uma pandemia assustadora, a API1Application programming interface, ou interface de programação de aplicações. de rastreamento para combate ao Coronavírus (COVID-19) anunciada conjuntamente pela Apple e pelo Google já gerou sua boa dose de polêmica.
É natural: quando grandes empresas de tecnologia afirmam que vão rastrear seus usuários, sinais vermelhos começam a apitar na cabeça de qualquer usuário e organização preocupados com questões de privacidade — mesmo se a razão for das mais importantes.
Pois hoje, depois de críticas da União Americana pelos Direitos Civis (American Civil Liberties Union, ou ACLU) e de outros grupos defensores da privacidade digital, as companhias anunciaram mudanças e melhorias importantes na API de combate ao Coronavírus. A primeira novidade está no próprio nome da tecnologia, que não é mais chamada de “Contact Tracing” (“Rastreamento de Contato”), e sim de “Exposure Notification” (“Alerta de Exposição”).
O rastreamento dos usuários e contatos continua sendo baseado no protocolo Bluetooth, mas agora todos os metadados desse rastreamento serão criptografados. As chaves geradas por cada smartphone (para identificar eventos de contato e possível infecção) serão totalmente aleatórias e geradas aleatoriamente; antes, cada uma dessas chaves seria baseada num número “fixo” atrelado a cada dispositivo, o que poderia fazer com que os números fossem rastreados de volta ao usuário.
Além disso, a tecnologia disponibilizará às autoridades apenas um número aproximado do tempo de contato com uma pessoa infectada — de 5 até 30 minutos, sempre em múltiplos de cinco. Em compensação, o sistema poderá compartilhar com as autoridades a força do sinal Bluetooth de cada dispositivo; com isso, cada órgão de saúde pública poderá decidir o que constitui um “contato” com pessoa infectada de acordo com as próprias necessidades.
Vale notar que, hoje mesmo, noticiamos que Tim Cook tinha anunciado a próxima terça-feira (28/4) como data de lançamento da primeira fase da tecnologia. De acordo com a Bloomberg, a data está mantida, mas o lançamento será realizado ainda em fase beta para desenvolvedores; a tecnologia será de fato liberada para uso geral somente no próximo mês, como primeiramente informado.
Funcionários da Apple falam de desafios no home office
Enquanto a Apple e o Google se mexem para atender o máximo possível de expectativas e exigências com a API de combate ao Coronavírus, funcionários das duas (e de outras) empresas têm enfrentado desafios para se adaptar à rotina do home office.
É o que afirma uma reportagem recente da CNET, que destaca um problema fundamental da cultura de trabalho do Vale do Silício: as gigantes tecnológicas estabeleceram uma rotina de exigências extenuante, compensada com benefícios e “mimos” no local de trabalho. Com o período de isolamento social e quase todos os trabalhadores exercendo suas atividades de casa, entretanto, esse segundo elemento some — e outros desafios surgem.
Com as escolas fechadas, os empregados que têm filhos precisam equilibrar sua atividade profissional com o cuidar das crianças. O problema é que, segundo alguns funcionários ouvidos pela reportagem, as exigências das empresas têm feito com que o tempo dedicado aos filhos seja pouco.
As empresas, para tentar balancear esses novos desafios, introduziram novas políticas de flexibilidade. A Apple, por exemplo, afirmou que está aberta a pedidos de ajuda por parte dos seus 137.000 empregados, e instruiu seus gerentes e executivos a oferecer ajuda de forma proativa, também. A porta-voz da Maçã Kristin Huguet afirmou o seguinte:
Nenhum prazo é tão importante, nenhuma prioridade é mais urgente do que cuidar dos seus entes queridos. Nossa meta é sermos flexíveis, colaborativos e ajudarmos todos os pais ou cuidadores nas nossas equipes. Essa é uma época desafiadora para todos — especialmente pais —, e nós queremos fazer tudo o que for possível para ajudar todos os membros da nossa família Apple.
Tomara que consigam, portanto.
via The Verge
Notas de rodapé
- 1Application programming interface, ou interface de programação de aplicações.