Como corredor, uma coisa que mais tem me afetado nesta quarentena é o fato de não poder ir para a rua ou para a academia (esteira) fazer meus exercícios.
Logo que resolvi treinar para triathlon (que inclui bicicleta e natação), começaram a falar da COVID-19 e as restrições começaram. Eu tinha literalmente acabado de comprar uma bicicleta de competição e fiquei trancado com ela em casa.
Vendo todo esse cenário, comecei a procurar alternativas para continuar me exercitando — e, como eu moro em um apartamento pequeno, colocar uma esteira dentro de casa não seria uma solução muito fácil. Então, fui atrás de acessórios para conseguir pedalar em casa, visto que já tinha a bicicleta — pegar uma ergométrica não me parecia uma boa alternativa, pois a ideia é justamente me acostumar com o meu equipamento, para quando tudo voltar ao “normal” eu não estranhá-la.
O que você precisa
Não vou me aprofundar muito nas possibilidades de acessórios, do contrário terei que escrever um livro aqui sobre o que pode ser utilizado. Mas, resumidamente, para conseguir pedalar dentro de casa você precisará de:
- Uma bicicleta (a principio de qualquer tipo: speed, mountain bike, passeio, etc. — veja a que você gosta mais).
- Um rolo (equipamento no qual você apoia a roda de trás da bicicleta, possibilitando pedalar parado, no mesmo lugar).
- Existem rolos simples, que você apoia a bicicleta pelo eixo onde a roda fica presa. Nesse, o pneu da bicicleta encosta em um rolo, e você regula a pressão entre ele e o pneu traseiro (isso determinará o esforço que você precisa fazer para pedalar).
- Existem rolos como o que comentei acima, mas que também contam com um comando manual (um cabo) o qual você coloca no guidão e pode fazer regulagens extras de esforço, aumentando ou diminuindo a pressão entre o rolo e o pneu (no mesmo estilo de regularem que você faz em bicicleta de academia).
- Há, também, rolos que você tira a roda traseira e encaixa a bicicleta direto nele; o câmbio traseiro vai direto no cassete (coroas que tem na roda de trás, com as marchas da bicicleta) que tem no rolo.
- Além disso, existem rolos simples e inteligentes: no geral, esses que você tira o pneu da bicicleta já entram na categoria inteligente, ou seja, conseguem simular a situação que você encontrará na rua se forem conectados a um sistema que identifique subidas e descidas virtuais no trajeto que você está pedalando. Alguns rolos do modelo que você mantém o pneu também têm essa tecnologia para criar uma resistência automática nas subidas e descidas, é bom notar.
- Os rolos simples também podem ser conectados a sistemas que possibilitam visualizar a sua velocidade e cadência enquanto faz os exercícios; para isso, é necessário colocar sensores na bicicleta. Existem vários modelos de dispositivos, mas vejo as pessoas usando mais os da Garmin e da Wahoo. O dispositivo de velocidade vai na parte de dentro da roda, e o de cadência vai no pedal. Eles podem ser sincronizados com relógios inteligentes ou a dispositivos conectados à bicicleta, como um tipo de computador de bordo.
Abaixo, algumas fotos para ilustrar melhor o que tentei explicar acima:
Rolo simples com ajuste manual de esforço
Sensor de velocidade “dentro” da roda
Sensor de cadência no pedal
Rolo inteligente, removendo a roda da bicicleta
Computador de bordo
Exemplos de rolos inteligentes que mantêm a roda da bicicleta
Os rolos têm uma variação de preço que pode ir de R$650 a aproximadamente R$12.500, por isso comentei que existem diversas possibilidades no mercado. Sendo sincero, para a grande maioria que precisa apenas se movimentar, os mais básicos já atenderão superbem!
Contudo, ficar pedalando parado pode ser algo extremamente chato. Alguns vão se virar com música; outros assistindo a alguma série, principalmente por estar em casa e poder colocar a bike onde você quiser (ou puder).
A plataforma do Zwift
Aí, para tornar a coisa mais interessante, chegamos ao tema principal desta matéria que é a plataforma do Zwift, um sistema que podemos até chamar de “rede social”, visto que você conseguirá inclusive se conectar com amigos para realizar treinos juntos — ou até mesmo encontrar desconhecidos que lhe ajudam a completar seu percurso do dia, como se estivesse pedalando no estrada ou no parque.
Para usar o Zwift, você precisa basicamente de um smartphone, um tablet, um computador ou uma Apple TV. O dispositivo precisa ter Bluetooth ou ANT+ (uma outra forma de conexão sem fio entre dispositivos); assim, você sincroniza seu rolo inteligente ou os sensores da sua bicicleta com a plataforma e poderá interagir com outros ciclistas.
Você cria um avatar, escolhe o modelo da bicicleta que está utilizando (existem três disponíveis: speed, mountain bike e aero dinâmica) e ainda pode fazer personalizações de cores (para a bicicleta) e de roupa (para seu avatar).
Como todo “jogo” que conta com uma rede social, quanto mais você usa, mais pontos ganha e mais opções de personalização são liberadas. Nesse ponto, o Zwift tem uma parceria com diversas marcas esportivas as quais lhe possibilitam até mesmo configurar com seu modelo de bicicleta real (se juntar pontos suficientes para isso e for desbloqueando os níveis, é claro).
Dentre os percursos famosos para pedalar, temos o Central Park (que é cheio de subidas e descidas) de Nova York, uma bela volta por Londres e mais. Existem percursos com muita subida em montanhas, que no caso de rolos inteligentes, você tem até que pedalar em pé para conseguir subir — tamanha é a resistência gerada.
A plataforma lhe permite incentivar amigos (dando likes no histórico publicado por eles) e convidar pessoas para pedalar junto em formato “reunião” (no qual uma pessoa puxa o grupo — dependendo da configuração de equipamento que você tem, faz diferença se você está pedalando na frente ou atrás de alguém, simulando a resistência do vento.
O poder do treino coletivo é muito legal! Eu nunca tinha pedalado mais de 55km dentro de casa (na verdade, acho que nem na rua), mas no dia 19/4, foi criado um desafio por um grupo de ciclistas — liderados por Tatiane Bergamo (uma amiga de corrida que também foi para o triathlon amador) e Tiago Vinhalpara (triatleta profissional) — para tentar atingir 100km. Resumindo: fomos todos incentivados virtualmente nesse desafio e eu consegui completar essa “loucura”! 😅
Embora eu tenha falado muito sobre ciclismo virtual, o Zwift também é utilizado para corrida.
Se você possui uma esteira, precisará utilizar um dispositivo no tênis que vai lhe ajudar a simular a sua passada e calcular a velocidade que você está correndo — e toda interatividade com bicicleta que eu comentei acima também se aplica à corrida: é possível, por exemplo, ver pessoas na plataforma pedalando pela rua e correndo pelo acostamento.
Os percursos de corrida podem ser similares aos de bicicleta, mas existem locais específicos também para quem só corre (como por exemplo, pistas de atletismo).
A plataforma tem sido muito utilizada por profissionais de triathlon para se manterem em alta performance, visto que boa parte deles tem esteira e bicicleta(s) em casa — alguns, inclusive, têm piscina —, e conseguem manter o ritmo de treino quase normal. Tem gente fazendo campanha para arrecadar doações, fazendo um Ironman dentro de casa (nadando quase 4km, pedalando 180km e correndo 42km)! Um dia eu chego a esse nível…
Abaixo, um video (bem amador, dentro das possibilidades que temos nessa quarentena) do setup que eu tenho em casa (para mim e minha esposa), para continuar treinando um pouco:
Mais acessórios
Enquanto eu escrevia esta matéria — e pouco tempo depois de fazer o video que mostrei acima para vocês —, comprei um Kickr Climb (da Wahoo) para colocar na roda da frente da bicicleta.
Trata-se de um simulador de subida que funciona integrado ao rolo inteligente, também da Wahoo, que mostrei no vídeo. Agora, além de ficar mais pesado, quando tiver uma subida no simulador, a bicicleta realmente sobe e desce. A vantagem disso é ativar os músculos corretos que você utiliza quando está subindo ou descendo — isso faz diferença para provas longas. Lembra daquela vez que você voltou para casa com dores em músculos que nem sabia que tinha, por fazer um exercício novo? Então, esse simulador ajuda a exercitar todos os músculos que você precisa para andar de bicicleta.
O climber tem um modo automático, que reage da mesma forma que o simulador (subindo e descendo). Conforme isso muda, você tem como travar em uma altura especifica ou até mesmo subir/descer ele manualmente, com um pequeno controle remoto que tem acoplado.
Legal, né?
Quanto custa?
A plataforma do Zwift não é gratuita, mas conta com 30 dias de testes. No Brasil, o preço está próximo de R$50 por mês — sinceramente, eu prevejo uma mexida nesses preços em breve, pois algumas plataformas de marcas fortes estão vindo para concorrer com ela.
Para complementar o app Zwift, você pode baixar o Zwift Companion.
Ele funciona como um painel com informações extras para deixar no celular enquanto você pedala. Se conectado, ele serve como controle do está acontecendo no seu tablet/computador/Apple TV — durante o percurso você tem opções de mudar de rota, então pode alterar o percurso pelo celular, mandar um “tchau” pra outros ciclistas, ativar “poderes” temporários para ganhar um pouco mais de velocidade (como aquele gás extra na subida ou na descida), mandar mensagens para pessoas próximas, etc.
Faz todo sentido essa integração, pois seu outro dispositivo está ocupado com o simulador ligado.
Espero que essas dicas possam lhe ajudar a tomar algumas decisões, caso você esteja querendo entrar para o mundo do triathlon — ou para o de exercícios em casa. 😛