A automação nas linhas de montagem das empresas é uma realidade que já se estende há quase um século, mas isso não significa que ela não representa um desafio — mesmo em multinacionais tecnológicas com centenas de bilhões de dólares em caixa.
Uma matéria recente do The Information1Matéria fechada para assinantes. mostra que foi exatamente esse o problema vivido pela Apple ao longo da última década: de acordo com a reportagem, a empresa investiu milhões de dólares para automatizar algumas partes da sua linha de produção, mas falhou repetidas vezes — e, em (quase) todos os casos, acabou voltando a usar as boas e velhas mãos humanas para montar seus produtos.
A reportagem cita uma iniciativa montada pela Apple em 2012, quando a empresa reuniu um grupo de especialistas em robótica e automação num laboratório em Sunnyvale (Califórnia). A ideia era desenvolver soluções que substituíssem o trabalho manual nas fábricas das parceiras da Apple, como a Foxconn, para aumentar a produtividade e reduzir possíveis falhas — foi a própria Foxconn, inclusive, que apresentou a ideia à Maçã e incentivou a empresa a desenvolver essas tecnologias.
Rapidamente, entretanto, o desafio provou-se quase insuperável: fontes ouvidas pela matéria descreveram a dificuldade de construir robôs que substituíssem as mãos humanas com perfeição. Aparentemente, mesmo para uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, é difícil construir traquitanas robóticas que realizem determinados trabalhos de precisão — robôs são capazes de posicionar e apertar parafusos minúsculos, mas não conseguem detectar problemas sutis de montagem que seriam facilmente percebidos por seres humanos, por exemplo.
Enquanto a Apple desenvolvia suas tecnologias de automação, a Foxconn implementava técnicas parecidas num laboratório experimental na China; convidados para checar os resultados do experimento, os executivos da Apple saíram insatisfeitos. Isso explicaria o fato de a montadora, em 2019, ter apenas 100.000 pontos robóticos na sua linha de produção — em 2012, Terry Gou (então presidente da Foxconn) afirmou que rapidamente a empresa chegaria a 1 milhão de pontos robóticos.
O laboratório de Sunnyvale, por sua vez, foi abandonado em 2018 — mas não sem causar problemas antes disso: de acordo com a reportagem, o lançamento do MacBook Retina teve de ser adiado em alguns meses porque os especialistas em automação não conseguiram projetar uma linha de montagem robotizada para o computador. Peças quebravam continuamente, a produção era inconstante e os robôs não conseguiam detectar problemas na linha imediatamente — um ser humano tinha que perceber o problema, parar a fabricação, corrigir a questão e voltar ao ritmo anterior.
É bem verdade que a iniciativa de automação gerou, sim, alguns frutos — mas para desmontar produtos, e não montá-los: o robô Daisy, que desmonta iPhones e separa suas peças para reciclagem, é um ótimo exemplo de processo automático que deu certo e serve a uma função importante. A Apple também emprega robôs para testar produtos, como a Apple TV, o Apple Watch e o iPad.
Montar coisas, por outro lado, é uma atividade que parece que continuará em boa parte sendo monopólio dos humanos. Por enquanto.
via MacRumors
Notas de rodapé
- 1Matéria fechada para assinantes.