No mês passado, falamos aqui sobre uma mudança importante no aplicativo Buscar (Find My), da Apple: a partir do iOS 14, dispositivos de rastreamento de terceiros poderão se integrar à plataforma, exibindo informações de localização de todos os seus objetos e pessoas em um só lugar.
A notícia foi muito comemorada por usuários e especialmente por desenvolvedores/fabricantes — até porque, anteriormente, muitas empresas expressaram descontentamento com mudanças implementadas no iOS 13 pertinentes à captura de localização, e a entrada dos dispositivos de terceiros no Buscar solucionaria vários desses problemas criados pela Apple. Mas a história, como sempre, tem algumas ressalvas.
O Washington Post publicou hoje uma reportagem revelando algumas especificidades do documento que detalha as diretrizes do programa — detalhes que, até o momento, não tinham sido revelados por conta dos trocentos contratos de confidencialidade impostos pela Apple. Resumindo a história: fabricantes que quiserem integrar seus dispositivos ao Buscar precisarão se submeter a algumas restrições bem drásticas.
A maior das restrições: caso um usuário compre um dispositivo de rastreamento e conecte-o ao Buscar, não será possível usar esse dispositivo simultaneamente com um aplicativo ou serviço próprio. Por exemplo, ao comprar um rastreador da Tile (caso a Tile ofereça suporte ao Buscar, isto é), o usuário precisará escolher se conectará o produto à plataforma da Apple ou ao aplicativo da própria Tile — os dois, ao mesmo tempo, não rola.
Dispositivos de terceiros também terão de pedir permissão aos usuários para obter a localização deles, mesmo dentro do app Buscar. Além disso, esses dispositivos terão acesso limitado a elementos do hardware, como a antena do Bluetooth (importante para efetuar a localização precisa de um objeto) — os desenvolvedores só podem usar esses elementos até um certo limite, que não foi revelado; caso ultrapassado, a Apple pode cortar o acesso do dispositivo em questão à plataforma Buscar.
Desenvolvedores e fabricantes, naturalmente, não ficaram nada satisfeitos com os termos da Apple. Alguns, ouvidos pela reportagem, classificaram as regras como “pouco usuais” — afinal, quando um consumidor escolhe o seu dispositivo de rastreamento, o natural é que ele possa usá-lo com quaisquer serviços ou aplicativos ele queira, incluindo mais de um ao mesmo tempo.
Outros especularam que a ideia da Apple com as diretrizes é afastar gigantes do segmento, como a própria Tile, do aplicativo Buscar — uma vez que essas empresas, já com suas plataformas de localização bem desenvolvidas, não iriam querer abrir mão dos seus anos de trabalho para entregar seus dispositivos “na mão da Apple”, basicamente. Caso isso se prove real, a integração do Buscar com dispositivos de terceiros ficaria concentrada em fabricantes menores, sem ecossistemas ou aplicativos próprios.
A Apple meio que confirmou essa hipótese pelo seu porta-voz Alex Kirschner, que deu a seguinte declaração à reportagem:
Se você for uma fabricante menor interessada em entrar no mercado dos rastreadores e ainda não construiu sua rede de rastreamento, isso [a integração com o Buscar] permite que você dê seu passo inicial.
Naturalmente, a Maçã negou que suas regras sejam anticompetitivas — mas nós teremos que ver o que os órgãos reguladores do mundo acharão disso. De novo.
via 9to5Mac