E o inevitável aconteceu: horas depois de a Epic Games peitar a Apple com força e implementar um sistema de pagamentos próprio dentro de Fortnite, principal título da empresa, o jogo já foi removido da App Store. A informação é de Mark Gurman, da Bloomberg.
Como explicamos hoje mais cedo, a Epic anunciou o “Fortnite Mega Drop”, uma queda generalizada nos preços dos itens adquiridos dentro do jogo. Mas havia um detalhe: usuários poderiam escolher se fariam o pagamento dentro do sistema da Apple/do Google ou por meio de uma plataforma de pagamento da própria Epic — apenas nesse segundo caso, o desconto seria aplicado.

Em comunicado enviado ao The Verge, a Apple explicou o motivo da decisão e notou que trabalhará com a Epic para proporcionar a volta de Fortnite à loja. Confira a declaração abaixo, com tradução literal nossa:
Hoje, a Epic Games tomou a infeliz atitude de violar as regras da App Store, que são aplicadas igualmente a todos os desenvolvedores e pensadas para manter a loja segura para todos os usuários. Como resultado, o aplicativo Fortnite foi removido da loja. A Epic implementou no aplicativo um recurso que não foi analisado ou aprovado pela Apple, e fez isso com o claro objetivo de violar as regras da App Store acerca de pagamentos dentro de apps — regras que valem para todos os desenvolvedores que distribuem bens ou serviços digitais.
A Epic distribui aplicativos na App Store há dez anos, e se beneficiou do ecossistema da Apple — incluindo suas ferramentas, testagem e distribuição que a Apple oferece a todos os desenvolvedores. A Epic concordou com as regras da App Store livremente e nós ficamos felizes que eles tenham construído um negócio tão bem-sucedido na loja. O fato de que os interesses deles agora fazem com que eles tentem negociar um acordo especial não muda o fato de que essas regras criam um campo de competitividade igualitário para todos os desenvolvedores e proporcionam um ambiente seguro para usuários. Nós não pouparemos esforços para trabalhar com a Epic de forma que as violações sejam resolvidas e Fortnite possa voltar à App Store.
Por outro lado, a Epic não parece estar nem um pouco disposta a colaborar com a Apple se for para submeter-se aos termos da gigante de Cupertino. Aliás, ela está literalmente tirando sarro da adversária: há alguns minutos, a desenvolvedora anunciou no Twitter a estreia de um novo curta-metragem, intitulado “Nineteen Eighty-Fortnite”, que claramente parodia o nome e a estética do icônico comercial “1984”, da Apple — só que, agora, é a própria Maçã que ocupa o espaço do “Grande Irmão” dominador na tela.
A situação, claro, é péssima para todos os envolvidos. Para a Apple, o banimento de Fortnite significa remover do seu ecossistema (ainda que temporariamente) um dos jogos mais populares do mundo, o que nunca é um bom prospecto. A Epic, do seu lado, fica de fora de um dos ecossistemas mais importantes do planeta (menor que o Android, porém gerador de ainda mais dinheiro). E os consumidores ficam apenas assistindo à briga — e, por ora, impossibilitados de baixar Fortnite em seus iPhones e iPads ou de realizar novas transações dentro do jogo.
Vamos ver, portanto, no que isso tudo vai dar. As próximas horas/dias serão interessantes.
Atualização 13/08/2020 às 16:55
E o inevitável aconteceu — de novo. A Epic entrou com um processo contra a Apple por conta das políticas da App Store e da remoção de Fortnite da loja, como anunciado na conta do jogo no Twitter:
No processo, a desenvolvedora reitera a visão de que as práticas da Apple são monopolistas e abusivas, impedindo a inovação e a competitividade justa dentro da sua loja.
A Apple impõe obstáculos despropositados e ilegais para monopolizar o mercado e impedir que desenvolvedores cheguem aos mais de 1 bilhão de usuários de dispositivos móveis (como o iPhone ou o iPad), a não ser que eles passem por uma loja única controlada pela Apple, a App Store — onde a empresa cobra uma taxa opressiva de 30% sobre as vendas de cada app. Para desenvolvedores que queiram vender conteúdo dentro dos seus aplicativos, a Apple exige o uso exclusivo de um sistema de pagamento processado pela própria empresa, as In-App Purchases, que também cobram uma taxa de 30%.
A Epic afirma também que o objetivo do processo não é receber um pagamento em dinheiro da Apple por danos ou receber tratamento preferencial, e sim abrir caminho para um ambiente mais competitivo na App Store.
A Epic não busca compensação financeira desta corte pelos prejuízos que sofreu, nem pede tratamento preferencial para si mesma, uma empresa única. Em vez disso, a Epic pede uma medida cautelar que permita a competição justa nesses dois mercados [a App Store e o sistema de In-App Purchases] que afetam diretamente centenas de milhões de consumidores e dezenas de milhares, senão mais, de desenvolvedores.
Vamos aguardar, agora, a resposta (judicial) da Apple.
Atualização II 13/08/2020 às 17:25
E a Epic liberou o curta “Nineteen Eighty-Fortnite” — que, como esperado, traz uma sátira pesada sobre a Maçã e suas supostas práticas anticompetitivas. Temos direito a uma “cara de Maçã mordida” no telão, personagens de Fortnite na plateia e uma mensagem provocativa no final:
A Epic Games desafiou o monopólio da App Store. Em retaliação, a Apple bloqueou Fortnite de um bilhão de dispositivos. Visite fn.gg/freefortnite e junte-se à luta para impedir que 2020 seja igual a “1984”.
Confiram o vídeo abaixo:
Considerando a liberação do vídeo e o documento do processo (acima), fica claro que a Epic já estava planejando isso tudo desde que adicionou a opção de pagamento próprio em Fortnite, hoje cedo. Ou seja: as cartas estão na mesa, e agora é a vez da Apple de fazer sua jogada. 🃏
Atualização III, por Rafael Fischmann 13/08/2020 às 18:16
O Spotify, que também tem suas rixas com a Apple, apoiou a iniciativa da Epic:
Nós aplaudimos a decisão da Epic Games de se impor contra a Apple e dar luz ao abuso da Apple em sua posição dominante. As práticas injustas da Apple prejudicaram concorrentes e privaram consumidores por tempo demais. O que está em jogo para consumidores e desenvolvedoras, pequenas e grandes, não poderia ser maior e garantir que a plataforma iOS opere de forma competitiva e justa é uma tarefa urgente com implicações bastante profundas.
Podem esperar outras manifestando apoio em breve, também.
Atualização IV 13/08/2020 às 19:55
E agora a bomba estourou do outro lado, também: de acordo com o The Verge, o Google removeu Fortnite da Play Store. Assim como a Apple, a gigante de Mountain View também tem regras para que desenvolvedoras distribuam seus apps pela loja usem o seu sistema de pagamentos; a atualização do jogo de hoje mais cedo, portanto, ia contra as regras do Google Play.
A diferença é que, ao contrário do iOS, usuários do Android ainda podem instalar o jogo — só que por fora do Google Play, baixando o arquivo .apk
diretamente do site da Epic Games. O jogo também pode ser encontrado na Galaxy Store, para donos de dispositivos da Samsung.
Vamos ver, agora, se a Epic terá uma resposta para o Google da mesma forma que teve para a Apple.
Atualização V, por Eduardo Marques 13/08/2020 às 22:56
E a Epic Games também abriu um processo contra o Google após o jogo ser banido no Google Play, como informou o The Verge. De acordo com eles, o Google “está usando seu tamanho para fazer o mal a concorrentes, inovadores, clientes e usuários em uma série de mercados que passou a monopolizar”.
As reclamações, obviamente, são as mesmas que as feitas no processo contra a Apple: monopólio sobre a distribuição de apps para smartphones e sobre sistemas de pagamento dentro dos apps.
A briga com o Google, porém, é um pouco mais complicada já que o gigante de Mountain View é mais flexível ao permitir que apps sejam distribuídos fora da sua loja oficial — a própria Epic Games, por exemplo, por muito tempo preferiu deixar Fortnite fora do Google Play, distribuindo-o somente por lojas alternativas.