Se você acompanhou as manchetes tecnológicas gerais do dia de hoje, certamente soube que o Google foi acusado formalmente pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos de práticas monopolistas e abusivas — o processo subsequente dessa determinação será o mais importante do setor desde que a Microsoft enfrentou algo similar nos anos 1990.
As notícias de hoje são a culminância de uma investigação de meses do governo dos EUA, e as coisas não pararão por aí: ainda precisaremos aguardar para saber se as outras gigantes tecnológicas, como a Apple, a Amazon e o Facebook, também sofrerão processos parecidos. Em relação ao Google, entretanto, já há participação da Maçã no imbróglio todo.
Explico: grande parte das acusações do DoJ1United States Department of Justice. em relação ao Google giram em torno do seu mecanismo de busca — e, mais precisamente, dos bilhões de dólares gastos pela empresa anualmente para que seu buscador seja posto como padrão em diversos navegadores e sistemas operacionais… incluindo o Safari no iOS/iPadOS e no macOS, naturalmente.
Segundo a Bloomberg2Matéria fechada para assinantes., os documentos liberados pela investigação indicam que, mais que isso, Google e Apple trabalharam juntas ao longo dos anos para que o buscador de Mountain View se mantivesse como padrão nos dispositivos da Maçã. Após uma reunião entre Tim Cook e o CEO3Chief executive officer, ou diretor executivo. da Alphabet, Sundar Pichai, um executivo de alto padrão da Maçã teria enviado um email afirmando que, na visão dele, a Apple e o Google “trabalhariam como se fossem uma empresa só” para concretizar os acordos continuamente.
O subcomitê responsável pela apuração revelou, também, que quase metade do tráfego de buscas do Google vem de produtos da Apple. Por isso, a gigante considera prioridade absoluta renovar anualmente seu acordo com a Maçã — perder esse tráfego geraria um alerta de “código vermelho” em Mountain View, com impactos profundos na sua receita anual.
Na estimativa do subcomitê, o Google tem investido entre US$8 e US$12 bilhões anuais para manter o seu buscador como padrão nos iPhones, iPads e Macs ao redor do mundo. A estimativa está dentro da mais recente que publicamos, em 2018, e representa cerca de 20% de toda a receita anual do setor de serviços da Apple — ou seja, estamos falando de um acordo importantíssimo para os dois lados, o que explica todo o papo da “empresa única”.

Por outro lado, claro, o DoJ não está nada satisfeito com isso. No processo movido contra o Google, o órgão afirmou que a empresa mantém práticas predatórias que inibem o crescimento de concorrentes na área por meio do seu poderio financeiro:
Ao pagar à Apple uma parte dos lucros do seu monopólio extraído de anunciantes, o Google alinhou os incentivos financeiros da Apple com os seus próprios e jogou nas alturas o preço dos lances para a distribuição [dos mecanismos de busca].
Vamos ver, agora, quais serão os resultados desse processo todo e se alguma consequência da investigação respingará sobre a Apple. Afinal, não é como se a Maçã, do seu lado, estivesse livre de preocupações…
Notas de rodapé
- 1United States Department of Justice.
- 2Matéria fechada para assinantes.
- 3Chief executive officer, ou diretor executivo.