Mesmo com todo o rebuliço nos bastidores — pressão de acionistas, executivos transparecendo tranquilidade e até debochando da Apple —, oficialmente a Intel manteve-se bastante quieta nos últimos meses, conforme concorrentes vinham fechando o cerco e apresentando chips formidáveis para ameaçar a líder do segmento de processadores.
Pois, agora, a gigante resolveu contra-atacar — e contra-atacar com endereço certo. A Intel publicou um comparativo de benchmarks entre o chip topo-de-linha da sua 11ª geração (a recém-anunciada “Tiger Lake”) e o Apple M1, com ampla vantagem, claro, para a sua própria criação. Só há um problema: os critérios escolhidos para a comparação não foram lá os mais científicos do mundo.
Os benchmarks, publicados pelo Tom’s Hardware, referem-se ao Core i7-1185G7, emparelhado com 16GB de RAM1Random access memory, ou memória de acesso aleatório.. Do outro lado, temos um MacBook Pro equipado com chip M1 e também com 16GB de memória.
Como vocês podem ver acima, o chip da Intel superou o concorrente em quase todas as tarefas — mas as selecionadas são estranhamente específicas, como alguns processos do Office 365 (exportação de PDF no PowerPoint e cálculos complexos no Excel) e benchmarks de tarefas do Chrome (como melhoria de fotos, organização de álbuns e “deveres de casa online”). O Core i7 superou o M1 na pontuação geral do Chrome, vale notar.
Em performance de jogos, a Intel também escolheu a dedo os títulos testados: metade deles já tem versão para M1 (e nessa categoria os resultados foram mistos), e a outra metade não tem — ou seja, nestes casos, a pontuação para o chip da Apple foi… zero. A empresa ainda adicionou um elemento final ao gráfico: “incontáveis outros”, querendo dizer que a quantidade de jogos ainda não adaptados para o chip da Maçã é enorme — o que não deixa de ser verdade.
O comparativo da Intel foi além dos benchmarks e tocou também em outros aspectos que, de fato, são limitações do M1, como o suporte a apenas um monitor externo (ou dois, no caso do Mac mini) e a maior oferta de modelos equipados com o Core i7. A empresa também afirmou que o consumo de bateria dos processadores é equiparável, com apenas seis minutos de diferença — só que, para esse teste, a Intel trocou o MacBook Pro por um MacBook Air e trocou o Core i7-1185G7 por um Core i7-1165G7, ligeiramente menos poderoso.
Ou seja: no fim das contas, fica claro que a Intel não se preocupou muito com o rigor científico da coisa para comparar suas novas criações com o M1. E, por favor, não pensem que eu estou dizendo que ela está errada — afinal de contas, é apenas o esperado que uma empresa divulgue os benefícios dos seus produtos e “maquie” a verdade para que ela torne-se favorável ao seu lado. Propaganda é basicamente isso, não é mesmo?
Por outro lado, parece que os engenheiros de Santa Clara ainda terão de trabalhar um pouquinho mais para que a equipe do marketing possa publicar comparativos mais… técnicos.
E, é claro, não custa repetir: o M1 é o primeiro chip para computadores apresentado pela Apple (a versão mais básica, que equipa os Macs menos potentes da linha). Na prática, é como se ele fosse o equivalente a um Core i3 da Intel. Muito em breve, a Apple lançará variações do M1 (quem sabe um “M1X” ou “M1Z”) ou até mesmo novas gerações (M2, M3…) que definitivamente serão muito mais competitivas ao serem colocadas lado a lado com os chips mais potentes da concorrência.
via Six Colors
Notas de rodapé
- 1Random access memory, ou memória de acesso aleatório.