Já sabemos que o Clubhouse é a rede social do momento, que seus concorrentes estão se mexendo rapidamente para entregar alternativas à sua funcionalidade e que os desenvolvedores do app estão criando uma estratégia de interesse inflado ao mantê-lo como exclusivo para o iOS e disponível apenas com base em convites. O que faltava? Uma polêmica de privacidade, é claro.
Uma reportagem do Inc. detalhou algumas práticas, digamos, não muito amigáveis realizadas pelo app na forma como ele lida com os dados dos usuários. Por exemplo: apesar de não permitir que usuários gravem conversas realizadas na plataforma, o Clubhouse grava, sim, todas as salas de conversa mantidas no app.
A justificativa dos desenvolvedores é até válida, afirmando que os clipes de áudio são mantidos apenas caso um usuário indique alguma violação das regras de segurança da rede (eles podem ser utilizados posteriormente para investigações e procedimentos legais); se a conversa é encerrada sem incidentes, os arquivos são removidos. O problema é a falta de transparência: o Clubhouse não informa onde são armazenados os arquivos, quem pode escutá-los ou em que circunstâncias.
Querem mais? A reportagem cita a inexistência de uma opção para apagar sua conta — se você tiver um perfil no Clubhouse e quiser apagá-lo, a única solução é entrar em contato com os desenvolvedores da plataforma para solicitar a sua exclusão… e aguardar a resposta, que pode levar dias para chegar.
Outro ponto deveras questionável: para enviar um convite do Clubhouse a outra pessoa, você precisa ceder acesso a toda a sua lista de contatos — não, não é possível enviar ao app somente as informações da pessoa que você quer convidar. Se você compartilhar essa lista de contatos por meio de um outro serviço, como o Twitter, o Clubhouse pode armazenar dados sociais dos perfis e atualizá-los periodicamente. E se você estiver em alguma dessas listas de contatos, não há nenhum meio para solicitar que seus dados sejam apagados, mesmo que você não tenha nenhum interesse em participar da rede.
Essa última questão, inclusive, tornou-se um ponto sensível para profissionais do sexo que utilizam a plataforma. A maioria está no app para fins de trabalho, utilizando pseudônimos (frequentemente com termos picantes ou sugestivos), mas o Clubhouse notifica a presença da pessoa para toda a sua lista de contatos — ou seja, uma profissional do sexo que prefere não compartilhar seu trabalho com seus círculos sociais terá seu username compartilhado com familiares e amigos mesmo que não tenha solicitado isso. Uma reportagem do Mashable traz vários desses casos, inclusive.
No fim das contas, fica claro que, em meio à explosão de popularidade, os desenvolvedores do Clubhouse acabaram não se dando conta que, com grandes poderes se recebem grandes responsabilidades — e agora, que a plataforma está na boca do povo, todas essas questões terão de ser resolvidas rapidamente para não levar a escândalos maiores, como já vimos tantas vezes.
Fica, portanto, o aviso para quem já está por lá ou pretende(ia?) entrar na brincadeira.
via WIRED