Há alguns dias, cobrimos um comunicado interno da Apple assinado pelo diretor executivo (CEO) Tim Cook sobre o retorno gradual ao trabalho presencial a partir de setembro.
Mesmo esse plano começando só daqui a três meses, a Apple retornará num modelo híbrido permitindo que a maioria dos seus empregados trabalhe dois dias da semana de casa — às quartas e sextas-feiras.
Ainda assim, um grupo de ao menos 80 empregados não ficou nada satisfeito com a determinação da companhia e enviou uma longa carta basicamente clamando por uma maior flexibilização no trabalho remoto.
As alegações são de que, ao contrário do que a Apple diz, a colaboração entre profissionais estaria agora “maior do que nunca” e que o trabalho remoto inclusive trouxe benefícios inexistentes quando todos precisam estar fisicamente no mesmo lugar.
Eu não poderia concordar mais com John Gruber, do Daring Fireball:
Não posso deixar de pensar que o problema para a Apple é que ela cresceu tanto que acabou contratando muitas pessoas que não são adequadas para a empresa, e que foi um erro da Apple oferecer um Slack conectado por toda a corporação. Empresas não são democracias, mas os funcionários que escrevem essas cartas parecem pensar que a Apple é uma. Não é, e se fosse, a empresa iria afundar em um piscar de olhos. A nova política de “três dias presenciais” da Apple não foi uma sugestão — foi uma decisão — e a carta de Tim Cook para toda a empresa já deixa espaço para equipes individuais se ajustarem às suas próprias necessidades.
Conforme apurado pelo The Verge, alguns empregados mais determinados e descontentes com o plano da Apple já chegaram a pedir demissão. Muito bem, assim dão oportunidade a quem quer trabalhar de fato.
Atualização05/06/2021 às 15:10
Bom, diante da repercussão nos comentários, sinto-me na obrigação de esclarecer melhor o último parágrafo do artigo.
Antes de mais nada, óbvio que não faz sentido nenhum alguém achar que eu sou contra o trabalho remoto. Ora, o MacMagazine funciona em home office desde a sua concepção — e muito bem, diga-se.
Mas o MM não é a Apple. A Apple é uma empresa que existe há 45 anos, atualmente a empresa mais valiosa do mundo. Ela é, primordialmente, uma empresa de hardware. Todos os softwares e serviços desenvolvidos pela Apple existem para que ela venda o seu hardware. Portanto, na própria concepção da companhia, ela é uma empresa cuja maioria dos times necessita, sim, de trabalho presencial.
E, mesmo se não fosse esse o caso, não se muda o DNA de uma grande corporação como a Apple da noite pro dia. Ela já está planejando esse retorno presencial com um modelo híbrido que seria totalmente impensável há poucos anos, o que já é louvável em se tratando da Apple ou de qualquer outra grande empresa do porte dela — ponha aí no bolo Google, Microsoft, Samsung, etc.
Outro agravante, no caso da Apple, é a sua profunda — e até paranoica, eu diria — cultura do segredo. Ora, é claro e evidente que o trabalho remoto pode contribuir para mais vazamentos de informações do que quando tudo está contido dentro dos laboratórios e escritórios dela.
Independentemente de quais forem os motivos, a Apple é uma empresa privada e, tal como apontou John Gruber na citação que inseri no artigo, não funciona como um governo democrático. É claro que as pessoas têm o direito de se manifestar, mas o que estamos vendo nos últimos tempos é uma tendência a uma espécie de “sindicalismo” exagerado e descabido num ambiente como esse. Se uma empresa como a Apple começa a se curvar a cada “pio” que certos grupos de empregados derem, por n motivos, a coisa rapidamente sai dos trilhos.
Sendo assim, se o profissional está insatisfeito com os posicionamentos ou o modelo de negócios da empresa, ele tem todo o direito de se retirar e buscar um local que esteja mais de acordo com o que procura. Certamente, como eu coloquei na última frase do artigo, não faltam outros profissionais que sonhariam com a oportunidade de ir trabalhar no Apple Park.