Após ser demitido da Apple em 2012, o ex-chefão do iOS, Scott Forstall, tomou um chá de sumiço e reapareceu apenas em 2015 (como produtor da Broadway) para falar sobre a companhia. De lá para cá, Forstall deu algumas (poucas) entrevistas acerca da gigante de Cupertino.
Em outubro passado, no entanto, ele participou de um episódio do programa “Philosophy Talk”, intitulado “The Creative Life” (“A Vida Criativa”), no qual discutiu vários tópicos sobre os bastidores da criação da Apple TV, a relação Steve Jobs, entre outros.
Ainda que tenha sido gravado há cerca de três meses, o vídeo da entrevista só foi publicado nesta semana no YouTube. Como o próprio nome do programa sugere, são debatidas algumas ideologias por trás das ações humanas, o que permitiu que Forstall recontasse seu tempo na Apple a partir das suas criações.
A primeira menção à gigante de Cupertino aconteceu quando Forstall tentou comparar sua mudança de carreira com um período de quase falência da companhia. Segundo ele, a tomada de riscos anda de mãos dadas com a inovação.
Na Apple, uma vez, estávamos perto da falência e lançamos o iPod, que finalmente vendeu bem e tivemos o produto mais vendido na história da empresa e, então, lançamos o iPod nano. Sabíamos que iríamos desenvolvê-lo e cancelamos toda a linha do iPod mini antes mesmo de enviarmos o novo produto e isso poderia ter devastado a empresa. Mas fizemos porque acreditávamos nisso e, portanto, assumimos o risco.
Durante a conversa, o co-anfitrião do programa, Ken Taylor, descreveu a reputação de Jobs como “um homem brutalmente honesto” e perguntou para Forstall como a criatividade era capaz de prosperar naquele ambiente. O antigo executivo da companhia contou que todos se comprometeriam 100% com algo quando fosse constatado que aquilo era uma boa ideia.
Eu acho que quando estávamos trabalhando em um determinado projeto, em novos recursos, protegemos esse broto de uma nova ideia e tomamos muito cuidado com isso. Certamente, se chegássemos a um ponto em que uma ideia não fosse boa, nós a cortaríamos, mas no momento em que considerávamos se isso valeria a pena, 100% apoiariam isso. Você pode realmente criar um ambiente para apoiar a criatividade.
Quando esteve à frente da equipe Mac, Forstall contou que depois de grandes lançamentos, dava a cada funcionário de seu departamento um mês para trabalhar em qualquer projeto que quisessem. Todos, então, apresentavam suas criações para Forstall. E uma dessas apresentações levou à criação da Apple TV.
Uma [apresentação] que eu vi foi sobre uma interface de usuário de 3 metros que eu adorei e nós a transformamos na Apple TV. A Apple TV foi inventada porque alguém foi estimulado a fazer o que quisesse por um mês e nós a transformamos em um produto. Você pode apoiar a criatividade nesse tipo de ambiente.
Ao fim da entrevista, Forstall discutiu o que mais lhe incomoda sobre como as pessoas usam o iPhone, sugerindo que o dispositivo se tornou “muito onipresente” na vida moderna. Na sua casa, por exemplo, nenhum dispositivo é permitido na mesa durante as refeições, tempo reservado para a interação humana.
Eu não gosto quando as pessoas andam pela rua apenas olhando para seus smartphones, em vez de olhar ao redor e realmente conversar com as pessoas. Então, eu realmente acho que o iPhone é uma ferramenta. Agora eu olho para isso e digo: “Bem, isso permitiu que as pessoas tivessem mídias sociais.” Mas agora existem esses cones de… essas câmaras de eco que estão destruindo muitas coisas. E isso é muito mais preocupante, mas eu acho que você pode criar algo e vai haver usos bons e ruins. Nós temos que nos sentir moralmente responsáveis pela criação ética e uso de nossos produtos.
A entrevista completa dura cerca de 1h30 — boa parte se concentra no discurso filosófico. A entrevista com Forstall começa pouco antes dos 17 minutos no vídeo acima.
via 9to5Mac
