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Apple para todos

Ícone - VoiceOver

por Lucas Gil Nadólskis

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Por muito tempo, deficientes visuais imaginaram como usariam um Mac, computador focado em gráficos e design, feito para encher os olhos. A resposta apareceu em abril de 2005, com o surgimento do VoiceOver, no Mac OS X 10.4 (Tiger).

Acessibilidade no OS X

Painel de configurações de acessibilidade no OS X 10.8.

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Depois, chegou uma dúvida ainda maior: com o surgimento do iPhone em 2007, ficamos perdidos. Lembro quando meu pai chegou em casa com o primeiro iPhone. Fiquei muito feliz por ter na mão o telefone daquela empresa que sempre admirei desde quando tive o meu primeiro iPod. Mas depois parei e pensei: “Como vou usar um telefone desses, com apenas um botão?” Todos falando em telas sensíveis ao toque e a gente (deficientes visuais) pensando: “Como faço para usar isso?”

VoiceOver no iPhoneAté que, no iPhone 3GS, veio a resolução do problema: o VoiceOver para iPhones. Revolucionou tudo, quebrando barreiras e mostrando que, sim, poderíamos usar um telefone que só tinha um botão. E o mais legal: o recurso era nativo! Não era preciso comprar nada, nós podíamos sair de uma loja já usando o telefone, falando.

Foi a inclusão! Para mim, inclusão não é criar um produto específico para alguém — pelo contrário. Inclusão é tornar um mesmo produto acessível a todos. Um produto que pode ser usado tanto por uma pessoa que enxerga quanto por um deficiente visual, por alguém com baixa visão ou que tem dificuldades motoras. E aqui entra o mérito da Apple. Eles não criaram um jeito de o iPhone ter um programa instalado e funcionar; criaram um iPhone que já falava com todos os tipos de públicos!

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O VoiceOver tem seu funcionamento baseado no que seria o uso normal de um iPhone, com enorme utilização do multi-touch. Ele fala onde está posicionado o cursor. Se nós colocamos o dedo no primeiro ícone da primeira linha, ele falará “Mensagens”, e assim por diante. A navegação pode ser feita tanto colocando o dedo sobre o ícone quanto como arrastando o dedo para a direita. Dessa forma, ele irá passando os ícones: Mensagens, Calendário, Fotos, Câmera, etc.

Esse modelo de navegação é usado em iPhones/iPods touch e em iPads, e o funcionamento descrito por mim, acima, é válido tanto na tela inicial quanto dentro de um aplicativo, como por exemplo o Twitter. Dentro dele, se você deslizar o dedo para a direita, irá passando pelos tweets e tudo mais. Para abrir um aplicativo, basta dar dois toques sobre o ícone dele.

Uma função muito interessante e útil do VoiceOver é quando colocamos dois dedos sobre a tela e a rotacionamos. Assim, alternamos entre os modos, palavras, caracteres, títulos, etc. Isso pode ser muito útil num página da internet — se colocarmos em modo título, é só deslizar o dedo para baixo que o iOS passará direto de título em título; quando se quer saber como se escreve uma palavra, é só colocar em modo caractere e, deslizando o dedo para baixo, o sistema lê letra por letra.

VoiceOver no iPhone

Basicamente, o VoiceOver altera como as coisas funcionam no iOS, como dois toques com dois dedos para pausar/reproduzir músicas, três toques para ativar/desativar a “cortina de tela” (modo que ativa uma tela escura no iPhone), um toque com três dedos para dizer onde o cursor está posicionado na tela, etc. O VoiceOver também pode alternar o idioma do sistema. Se você costuma ler textos em inglês ou espanhol, pode configurar esses idiomas numa parte específica do VoiceOver. Se fizer isso, a opção de idiomas aparecerá junto aos modos palavras, caracteres, títulos, etc.

Alguns desses comandos e facilidades são idênticos tanto no iOS quanto no OS X, quando estamos utilizando um Mac dotado de trackpad — em caso de desktops, através do Magic Trackpad.

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É legal lembrar que, nos aparelhos que já contam com a Siri, o VoiceOver interfere diretamente nela. Se você utilizar a Siri com o recurso ligado, escutará a tradicional voz do VoiceOver em vez da Siri.

VoiceOver no iPhoneMas alguém já parou para pensar o que trouxe o surgimento do VoiceOver? Por que uma empresa do tamanho da Apple resolveu fazer um sistema operacional e, mais tarde, um telefone que pudesse ser usado por todos? Historicamente, a Apple é uma empresa que se preocupa com todos os públicos, não só por uma questão de consciência — principalmente nos Estados Unidos, onde cegos contam com provisões bem legais. No começo, a Apple não oferecia muitas delas — provisões essas que, no Brasil, não são claras e muita coisa pode ser melhorada. Mas se a Maçã estivesse pensando apenas no “legal”, eles poderiam ter parado no Mac OS X 10.4. Porém, não! Continuaram desenvolvendo e melhorando cada vez mais o recurso — o VoiceOver está disponível, por exemplo, em vários idiomas, incluindo o português!

Há coisas que ainda podem melhorar? A resposta varia de usuário para usuário, mas grande parte pediria algo relacionado a acessibilidade em tabelas de arquivos de textos e outros recursos de processamento de palavras. Mas a verdade é que os problemas com o Office estão mais relacionados à Microsoft do que à Apple. Pessoalmente sinto falta do recurso Ditado (Dictation), disponível quando se coloca o idioma do VoiceOver em inglês. Como é um recurso muito útil e ligado ao idioma, a Apple poderia disponibilizá-lo em outros, também — espero que isso chegue em breve.

Mas o resumo da história é: o mundo seria um lugar melhor para deficientes visuais se outras empresas — e até mesmo governos — fizessem o que a Apple faz!

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