Há alguns meses, a questão do trabalho na Apple vem sendo discutida na mídia após múltiplos relatos de ex e atuais funcionários sobre desigualdade salarial e problemas que incluem assédio, abusos, etc. — o que deu origem, inclusive, ao movimento #AppleToo
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Após várias acusações de tentar silenciar seus funcionários sobre o ambiente de trabalho, a empresa se posicionou publicamente dizendo que apoia o direito de os seus funcionários falarem sobre essas questões — e eles estão, de fato, falando.
Em uma nova reportagem do The Verge, trabalhadores horistas nas lojas de varejo da Apple — e também remotos — revelaram como as más condições de trabalho levaram a dificuldades para pagar o aluguel e, até mesmo, ao suicídio.
No varejo, parte do problema está relacionada a remuneração e avaliação de funcionários (feitas pelos clientes). Mais precisamente, os funcionários de varejo da Apple ganham, em média, entre US$19 e US$25 por hora nos Estados Unidos — o que é bom para o setor de varejo, mas pode ser desagradável para funcionários que desejam construir uma carreira na gigante da tecnologia. Alguns dizem que, depois de permanecerem na empresa por seis anos, eles estão ganhando menos de US$21/hora.
Com relação à avaliação, a Apple usa algo chamado Net Promoter Score para analisar o desempenho de suas lojas. Depois que um cliente sai, ele recebe uma pesquisa solicitando que avalie o funcionário que o ajudou, bem como a experiência geral da loja.
Pontuações baixas muitas vezes podem ser sobre fatores fora do controle dos funcionários — coisas como estoque baixo ou tempo de espera. Mas eles ainda refletem mal na equipe. “Nunca se presume uma intenção positiva”, diz um funcionário atual em Pittsburgh. “Sempre parece que você é uma criança se metendo em problemas e está dando uma desculpa.” As pesquisas têm o objetivo de fornecer aos clientes uma maneira consistente de dizer se as lojas estão atendendo aos padrões da Apple — mas elas sistematicamente colocam o cliente acima do funcionário, por design.
Com relação ao trabalho remoto — o qual alguns funcionários do varejo passaram a executar com o fechamento das lojas durante a pandemia do novo Coronavírus (COVID-19) —, voltado principalmente ao suporte/atendimento ao cliente, as reclamações envolviam atender três clientes ao mesmo tempo e ter que finalizar o atendimento em até dois minutos, além da carga horária exaustiva e, é claro, a remuneração aquém do ideal.
A Apple tentou compensar o aumento da carga de trabalho dos funcionários em home office enviando a eles uma camisa como um presente por todo o seu trabalho árduo. Quando ela chegou, os funcionários perceberam que tinha um grande 14 nas costas (de iOS 14) e 2020 desenhado na frente. Eram sobras da WWDC20 — evento da Apple presencial que foi realizado virtualmente.
A camisa pareceu um tapa na cara. Os funcionários queriam um aumento. Alguns tinham vários colegas de quarto e trabalhavam em dois ou três empregos para tentar sobreviver. Além disso, eles estavam lidando com a mesma angústia existencial que o resto da população, enfrentando uma pandemia global — ao mesmo tempo em que gritavam no telefone por clientes que mal os tratavam como pessoas.
A reportagem do The Verge inclui uma série de relatórios chocantes — sendo o principal deles é o suicídio de Mark Calivas, funcionário de longa data da Apple, em setembro de 2021. Em um comunicado, a Apple afirmou que “está sempre comprometida em criar e manter um local de trabalho positivo e inclusivo” e que “sente pelo falecimento de seu colaborador”.
Que situação… 😢