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A saga da Apple com ferramentas para o mundo corporativo

Apple Business Essentials

Que a Apple tem crescido de maneira assombrosa, não é surpresa para ninguém. Além de bater sucessivamente seu recorde nos valores das ações, o aumento expressivo na venda de MacBooks e iPads mostra que os aparelhos da empresa estão cada vez mais presentes nos lares e escritórios. Apesar disso, o avanço da Apple em direção ao público profissional parece ser modesto quando se trata de desenvolver ferramentas e apps focados na produtividade e no gerenciamento de projetos.

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Sua grande concorrente na disputa pelo posto de maior empresa do mundo, a Microsoft, tem seguido um caminho bem diferente. Embora por muito tempo tenha mantido apenas o MS Project, nos últimos anos a empresa fundada por Bill Gates tem apostado suas fichas cada vez mais no desenvolvimento de interfaces de trabalho. O Microsoft 365 Business, antigo Office Business, é composto pelo já conhecido pacote Office, mas, acrescido de uma gama de outros recursos, como Planner, Power BI (o queridinho das empresas na atualidade) e o Teams, que cresceu muito durante a pandemia e passou a ser adotado como ferramenta principal de comunicação e trabalho remoto de muitas organizações, inclusive órgãos públicos.

Teria a Apple abandonado o mundo corporativo e se tornado uma empresa que pensa apenas no usuário individual? O perfil da empresa ainda vai mudar de direção? Vamos analisar e refletir sobre esse tópico para chegar a algumas conclusões.

Um pouco de história

A Apple foi fundada com foco no computador pessoal. A grande ideia dos Steves Jobs e Wozniak era tornar o computador uma máquina acessível e presente em todos os lares, como um eletrodoméstico comum e sendo utilizado por qualquer pessoa. Os computadores pessoais logo atraíram os executivos e as maiores empresas de computadores da época. A IBM despertou-se para o mercado, sendo alvo da famosa provocação de Jobs com um anúncio de página inteira em 1981 no Wall Street Journal, dando as boas-vindas à Big Blue no “revolucionário mercado” dos microcomputadores.

A icônica campanha “1984” é uma prova de que a Apple tinha em perspectiva o mercado corporativo. O anúncio mostrava os executivos tradicionais como zumbis focados em seu trabalho tradicional, enquanto a empresa apresentava seu Macintosh como o símbolo da revolução, inovação e mudanças da nova sociedade, que romperia com o paradigma de George Orwell, em seu livro que deu nome a campanha de um mundo onde as pessoas seriam controladas pelo big brother, no anúncio relacionado à Big Blue (IBM).

YouTube video

Como Walter Isaacson relata em sua biografia de Steve Jobs, muitos líderes da Apple nessa época tiveram receio de que o anúncio não fosse apenas uma provocação à IBM, mas uma ofensa aos executivos, já que até então a maioria deles utilizava um computador da marca. Talvez o receio estivesse bem fundamentado.

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Dessa época em diante, reforçado pelo lançamento dos Macintoshes coloridos, a Apple passou a ser conhecida como uma empresa mais focada em profissionais de design, marketing e comunicação — rótulo que, de certa forma, ainda aparece hoje entre profissionais mais antigos.

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Após a saída de Jobs, a Apple teve uma tentativa de lançamento focada em executivos, o Newton, uma espécie de Palmtop (lembram disso?) que foi extremamente mal sucedida — uma das primeiras ações de Steve após seu retorno à empresa foi tirar esse produto de linha. 

AppleWorks, iWork e Office for Mac

Em termos de software, os primeiros computadores Apple vinham equipados com o AppleWorks, uma suíte equipada com editor de texto, base de dados e planilhas — desenvolvidos por sua subsidiária Claris. O produto era bastante básico, mas atendia às necessidades de seu tempo.

Em uma parceria inusitada, Jobs apresentou, em 1997, um investimento de US$150 milhões da Microsoft na Apple, com a presença via teleconferência de Bill Gates. O acordo trouxe também o pacote Office com maior eficiência para dentro dos Macs, eliminando uma antiga barreira de migração dos usuários de PCs para Macs.

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Em 2005 foi lançado o iWork, com softwares equivalentes ao pacote Office, porém com versões mais “intuitivas” — o Pages, o Numbers e o Keynote, que permanecem até hoje. Sendo francos, esses produtos passaram por evoluções modestas nos últimos 16 anos. Não estou dizendo que não evoluíram, mas se você comparar com a evolução dos hardwares da empresa — e mesmo com a suíte da Microsoft —, os softwares não passaram por grandes revoluções.

iPod, iPhone e iPad

Como todos sabemos, o lançamento do iPod em 2001 foi uma revolução no mundo da música, mas especialmente na Apple. Além de trazer a empresa de volta ao palco da inovação, o produto marcou um perfil altamente voltado para o usuário final, reforçado inclusivo pelo prefixo “i”, presente também em softwares como iWork, iTunes, iMessage, iCal (hoje Calendário), etc. Definitivamente esse era um produto que mirava consumidores de maneira geral, e não o mercado profissional.

Em 2007, Jobs abalou as bases do recente mercado de smartphones, nessa época liderado pela BlackBerry (sim, este texto está quase com cheiro de naftalina), com a chegada do iPhone.

Um dos grandes argumentos do lançamento foi que o aparelho chegava para mostrar que os smartphones não precisavam ser focados apenas no trabalho, mas também para entretenimento — mais uma vez, focando no usuário comum. É fato relevante que os iPhones invadiram os escritórios, mas sem dúvida nenhuma, se tornaram o objeto de desejo de jovens, adolescentes e do público em geral (não é à toa sua participação majoritária no faturamento da Apple até hoje).

iPhone original

Finalmente, em 2010, o lançamento do iPad demonstrou que a Apple era uma empresa de usuários de todas as idades e com foco no entretenimento, além do trabalho. Aliás, uma das críticas à primeira versão do iPad foi que o produto era apenas pensado para consumir conteúdo, e não para produzir. Jobs reconheceu isso e promoveu mudanças já no iPad 2, na direção de outros usos para o tablet. 

A volta do perfil “Pro”

Os MacBooks de 2016 dividiram opiniões, mas atraíram mais críticas do que elogios. A eliminação brutal de portas, a obsessão pela espessura fina e a Touch Bar (ah, eu gostava dela…), considerada inútil por muitos, fez com que a máquina fosse considerada inapropriada para o uso profissional.

Em 2018, o iPad Pro chegou com uma proposta arrojada de voltar a ocupar um espaço destacado para profissionais e produtores de conteúdo. O produto passou por melhorias interessantes em 2021, ganhando o poderoso chip M1, tela XDR nos modelos de 12,9″ e foi apresentado como uma alternativa real ao computador.

Os vídeos publicitários e o slogan “seu próximo computador não será um computador” demonstraram uma mensagem clara de que o produto veio com tudo para ser usado no trabalho, além do foco em entretenimento. Na minha opinião, esse é hoje o produto mais inteligente e diferenciado da Apple — não é por acaso que lidera com folga seu nicho de mercado.

iPad Pro com Apple Pencil num Magic Keyboard branco de lado
iPad Pro com Magic Keyboard

Finalmente, o recente lançamento dos novos MacBooks Pro, com os ainda mais poderosos chips M1 Pro/Max, marcaram uma mudança no perfil das máquinas. Considerado por muitos, inclusive por Mark Gurman (da Bloomberg), como o “retorno do Pro” a máquina ficou mais espessa, mas por outro lado trouxe novamente o MagSafe, três portas Thunderbolt, entrada HDMI e slot para cartões SDXC — dá para acreditar?!

Sim, a Apple se rendeu e fez quase um “de volta a 2015”.

O que esperar do futuro

Ao que tudo indica, a maior empresa do mundo redescobriu seu DNA corporativo. O aprimoramento do app Lembretes (Reminders), permitindo melhor gerenciamento de tarefas e projetos até mesmo de maneira colaborativa, a possibilidade de compartilhar reuniões via FaceTime até com usuários Android ou Windows, a chegada do SharePlay; além do reforço Pro no MacBook e no iPad (já citados anteriormente) mostram que a Maçã quer olhar novamente para os escritórios.

Essa expectativa pode ser reforçada pelas recentes iniciativas dos programas Apple Business Manager e o Apple Business Essentials, focados em pequenos, médios e grandes negócios.

Se os famigerados óculos de realidade aumentada/virtual (AR/VR) realmente chegarem, pode ser que a Apple continue sua disputa com o Facebook a Meta, de Mark Zuckerberg, e entre no ambiente virtual de escritórios e reuniões com avatares, e outras ferramentas que despontam rapidamente no mundo pós-pandemia.

Conclusão

Você pode encontrar Macs, iPhones e iPads em muitos escritórios e sendo utilizados por muitos profissionais, mas existe um longo caminho até que a Apple seja uma alternativa real no mundo corporativo.

Microsoft, Zoom, Slack, Cisco, Trello e outras empresas já entraram pesado com suas ferramentas de gerenciamento de tarefas e projetos, e não será fácil conquistar mercado nesse ambiente. Será que a Apple deseja esse desafio? Uma coisa é certa: recursos tecnológicos, humanos e financeiros ela tem para entrar com tudo nessa briga. Resta saber o quanto ela deseja brilhar nesse mercado.

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