O atual vice-presidente sênior de tecnologias de hardware da Apple, Johny Srouji, concedeu uma rara entrevista ao Wall Street Journal. Nela, o executivo, que liderou a criação do chip M1, rememorou a transição entre diferentes arquiteturas, bem como revelou novos detalhes sobre a criação da Maçã.
Inicialmente, tem-se uma questão bastante cara à Apple, que é o controle da cadeia de produção. Ao abandonar o uso de um componente de terceiros, a empresa elimina incertezas e instabilidades, além de promover maior integração entre hardware e software, como nos iPhones.
Sobre o tema, Srouji afirmou que “você pensa em todas as coisas que pode controlar e, então, tem de ser flexível, adaptável e forte o suficiente para seguir em frente quando as coisas não acontecem como planejado”. Pode-se refletir como o raio de “coisas que se pode controlar” aumentou com a criação do novo SoC (system-on-a-chip).
Até o lançamento da arquitetura renovada, os Macs vinham sofrendo com baixos números de vendas. Os motivos eram vários: falta de novidades, alto número de bugs e problemas, entre outros. O fato de os processadores não serem próprios da Apple impedia, assim, níveis mais profundos de ajustes, o que motivou seu desenvolvimento.
É aí que entra um debate muito importante que, segundo o engenheiro, aconteceu internamente na empresa. “Em primeiro lugar, se fizermos isso, podemos entregar produtos melhores? Essa é a questão número um. Não é sobre o chip. A Apple não é uma companhia de chips”, mencionou ele. Ou seja, essa nova fronteira deveria servir ao objetivo de melhorar os computadores, e não o contrário.
Havia, ainda, um medo de repetir o que aconteceu em 2006. Naquele ano, a empresa começou a adotar os chips da Intel, movendo de uma arquitetura chamada PowerPC. Na ocasião, ocorreram falhas que levaram a revisões de última hora, algo a não ser repetido. Estava, pois, posto o desafio de desenvolver um software que pudesse funcionar nos chips antigos e nos novos.
Após consolidado o entendimento de seguir com a criação do que seria o M1, Srouji afirmou que reuniu um time que começou com 54 pessoas, vindo a ter milhares, de todo o mundo. O trabalho durou 14 anos e atravessou momentos desafiadores, como mais recentemente a própria pandemia.
Foram necessários diversos esforços, como a instalação de câmeras para que as equipes inspecionassem chips remotamente. Os times estavam baseados em diferentes locais do mundo, com diferentes fusos horários, em especial San Diego e Munique — centros que estão recebendo grandes investimentos da Apple no setor de desenvolvimento de chips.
Finalmente, após todo o tempo de desenvolvimento e árduos esforços finais de testes, o M1 foi lançado em 2020, marcando uma nova página na história dos chips de computadores da Apple e até mesmo da indústria como um todo. Dessa forma, a empresa passou a não depender mais da cadeia de produção da Intel, o que também a permitiu economizar recursos.
A cereja no bolo é o desempenho ainda maior, com uma economia energética bastante eficiente. E, apesar do pouco tempo, já estão acontecendo avanços desde 2020: enquanto o M1 original conta com 16 bilhões de transistores, o M1 Ultra, que equipa a versão mais avançada do Mac Studio, é equipado com 114 bilhões de transistores.
Interessante ver como a inovação é um espectro, não?