E vamos nós para mais um capítulo da novela longa e tortuosa das taxas da App Store — hoje, com uma declaração um tanto quanto… inusitada.
Em entrevista recente ao podcast Decoder, do The Verge, o CEO1Chief executive officer, ou diretor executivo. do Patreon, Jack Conte, afirmou “não saber” a razão da sua empresa ser beneficiada na App Store. O Patreon, para quem não sabe, é uma das maiores plataformas de contribuição financeira do mundo (não deixe de nos apoiar por lá, inclusive), e seu aplicativo para iOS permite que usuários façam esses apoios quase diretamente.
Digo “quase” porque, ao encontrar um criador de conteúdo pelo aplicativo do Patreon para iOS/iPadOS, o usuário pode tocar na opção “Become a Patreon” e ser diretamente levado à página na web onde a transação será realizada. Com isso, a empresa consegue “driblar” as taxas da App Store — o Patreon fica com uma parcela do valor pago pelos patrões, e o restante é repassado aos criadores.
É aí que reside toda a polêmica: nas políticas da App Store, a Apple proíbe explicitamente que desenvolvedores direcionem usuários a páginas externas para fazer pagamentos. É por conta dessa regra que gigantes como Netflix e Spotify deixaram de oferecer suas assinaturas nos aplicativos para iOS — e, por algum motivo, o Patreon parece estar livre dessa limitação.
Segundo Conte:
Eu gostaria muito que nós tivéssemos algum tipo de acordo especial com a Apple, mas não temos. Precisamos lidar com as diretrizes e o processo de análise da App Store como qualquer outro desenvolvedor.
A controvérsia é ainda mais significativa considerando o caso recente da Fanhouse, uma outra plataforma de apoio a criadores de conteúdo: recentemente, a Apple deu um ultimato à empresa, afirmando que o seu aplicativo precisava incluir pagamentos por meio do sistema de pagamento da Maçã ou seria removido da App Store. A Fanhouse lançou uma campanha denunciando as taxas abusivas da loja e conseguiu uma extensão de prazo — agora, eles terão até o fim do ano para incluir o suporte aos pagamentos da App Store ou serão removidos da loja.
Os criadores do Fanhouse afirmam que não há uma explicação para que seu app não possa apresentar o mesmo funcionamento do aplicativo do Patreon. O próprio Conte também não tem essa resposta, mas sugere que a diferença possa estar na forma de engajamento do Patreon — na maioria dos casos, os usuários já entram no aplicativo da plataforma sabendo qual criador de conteúdo querem apoiar, então as interações ocorrem em outros locais da internet. Se essa é uma justificativa plausível ou não, teremos de aguardar para ver.
O fato é que, mais uma vez, temos um exemplo das políticas da App Store sendo postas na fogueira por um caso de inconstância e (possível) favorecimento. É a última coisa que a Apple poderia querer num momento em que a loja já está sob escrutínio de tantos tribunais e órgãos reguladores ao redor do mundo.
Notas de rodapé
- 1Chief executive officer, ou diretor executivo.