Se você tem um iPhone, certamente já deve ter se deparado com o excelente app Buscar (Find My). Por aqui, ele é mais utilizado para ficar a par da localização dos nossos dispositivos — principalmente quando os perdemos —, mas nos Estados Unidos ele vem exercendo também um papel social.
É que o Buscar, vale recordar, além das abas “Dispositivos” e “Itens”, também conta com uma para “Pessoas”. Ela, por sua vez, tem uma opção para compartilhar a localização com amigos, permitindo a qualquer pessoa que integre essa rede saber onde (e até mesmo com quem) o amigo está.
A princípio, pode parecer um recurso benéfico, visto que é bastante útil para fins de segurança. O The New York Times, no entanto, mostrou que o app vem sendo utilizado principalmente por adolescentes para compartilhar a localização de maneira discriminada, ultrapassando as barreiras da privacidade e trazendo alguns problemas.
Mudando a forma como os amigos se comunicam, o app Buscar é capaz de fazer com que amigos ignorem conversas inteiras apenas por saber onde alguém está. Ele também se tornou uma espécie de teste de intimidade, virando algo semelhante ao “Amigos próximos” do Instagram, por exemplo.
Com alguns adolescentes compartilhando suas localizações com até uma dúzia de pessoas, o Find My envia uma notificação via iMessage quando alguém é adicionado ou removido de determinada rede — o que pode ser muito gratificante no primeiro caso, mas pode soar como uma “facada nas costas” no segundo.
O Buscar sendo usado como rede social também pode ampliar os sintomas da FOMO (fear of missing out), o famoso medo de estar perdendo algum acontecimento importante. Isso porque é possível ver se seus amigos estão juntos e não lhe chamaram para determinado encontro — o que pode ser emocionalmente traumático para quem fica de fora.
Quando a projetamos, nunca imaginamos que fosse uma rede social. Você não pode imaginar produtos ganhando vida própria como designer. Você nunca conhece seus usuários — especialmente no futuro.
Ainda há a preocupação de você estar entregando a localização a alguém sem ao menos lembrar de ter ativado o recurso algum dia, visto que há uma pressão social por esse tipo de compartilhamento e ele é normalmente incentivado por familiares e amigos.
Mas e no Brasil?
Embora não estejamos tão familiarizados com essa função do app Buscar — e muito menos com o iMessage —, o mensageiro amplamente utilizado pelos brasileiros (o WhatsApp) também conta com uma opção de compartilhamento da localização em tempo real.
Porém, por aqui ele parece ser mais utilizado para enviar localizações pontuais a amigos. A falta de uma seção ou aba onde seja possível enxergar todo mundo que compartilhou sua localização também pode contribuir para que ele não tenha essa “utilidade social”.