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Elon Musk e Twitter

Para o novo Twitter, a crueldade não é um bug

Ontem finalmente aconteceu. Depois de sei lá quantos anos, deletei o app do Twitter do meu iPhone. É bem verdade que ele era basicamente decorativo, já que eu sempre usei o Tweetbot por motivos que não vêm ao caso. Ainda assim, deletar o Twitter do meu iPhone simbolizou uma mudança enorme, já que essa sempre foi a minha única rede social realmente ativa.

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Quem acompanha o podcast Área de Transferência sabe que há três tempos o Elon Musk tinha ativado meu Sentido Aranha. No fim de 2021, eu escolhi o “culto ao Elon Musk” como o “Fail do Ano”. Citei a forma como ele já vinha optando desnecessariamente pelo antagonismo e pela intimidação. Comentei que andava decepcionado com as chances que ele desperdiçava de ser um bom exemplo, dada a responsabilidade que ele tem por ser uma pessoa de tanto destaque. Falei, também, sobre o fato de ele vir direcionando seu crescente exército de fãs a atacarem desafetos, muitas vezes por motivos que beiravam a irrelevância. São pessoas que geralmente acreditam no conto de que intimidação é equivalente a respeito, e que agressividade significa poder.

Essa faceta de Musk não era novidade. Em 2016, por exemplo, ele cancelou a compra de um Model X feita por um cara que, dias antes, havia publicado um post em um blog criticando a falta de organização de um evento da Tesla. Já em 2018, ele chamou de pedófilo o mergulhador de resgate responsável por salvar 12 jovens presos em uma caverna na Tailândia. O motivo? Musk foi criticado por ter tentado se promover às custas do resgate. E nem vou comentar a fundo aqui os imbróglios envolvendo a manipulação do preço de criptomoedas ou o famoso caso furado do “financiamento assegurado” para recomprar as ações da Tesla.

Fato é que, em todas essas oportunidades, já dava para observar um padrão de comportamento mesquinho e covarde, o que nos traz ao fim dos apps de terceiros para o Twitter. Nestes últimos dias, não faltaram discussões — como no podcast do MacMagazine, em que eu participei — repercutindo a incongruência com a qual o Twitter levou essa situação. Todos listamos inúmeras alternativas que o Twitter poderia ter adotado para comunicar melhor essa decisão: avisar com qualquer antecedência, liberar apps de terceiros apenas para assinantes do Twitter Blue, explicar o que estava acontecendo, tratar os desenvolvedores com respeito, etc.

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O problema? Todas essas discussões foram, como diria Arthur Conan Doyle, um exercício em futilidade.

É claro que o Twitter sabia que existia a alternativa de informar aos desenvolvedores com antecedência sobre a mudança. É claro que a nova liderança sabia que essa era a coisa decente a se fazer. Assim como sabia que poderia ter tratado com mais dignidade os milhares de funcionários demitidos nos últimos meses, os jornalistas banidos há algumas semanas, as marcas clonadas com selo de verificação por meio do Twitter Blue, e por aí vai.

A grande questão é que essa falta de consideração não foi uma consequência impensada de atitudes impulsivas, mas sim parte do objetivo dessas manobras. Depois de tanto comentar essas mudanças, cheguei à conclusão de que essas discussões são completamente inúteis. Eu finamente entendi que o objetivo é causar exatamente essa indignação em pessoas como nós, que partem da premissa de que devemos sempre optar pela coisa certa a se fazer. Mais e mais, Musk parece agir com a intenção de revoltar. E apontar suas contradições não serve para nada além de dar-lhe algum tipo de prazer sádico em saber que ele mais uma vez irritou exatamente quem ele pretendia irritar. Score!

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Quando a crueldade é o objetivo de uma atitude, nenhum contra-argumento é eficaz. A essa altura, quem não vê problema na forma como Elon Musk vem agindo, nunca será convencido do contrário. Cada um faz o que quer, é claro. E para quem não se incomoda com nada disso e segue usando o Twitter normalmente, devo confessar que sinto até um pouco de inveja. Eu mesmo não estou cravando que nunca mais utilizarei a rede. Mas, neste momento, usar o Twitter me dá a sensação de que estou sinalizando estar de acordo com o que vem acontecendo. E isso a minha consciência definitivamente não vinha conseguindo aceitar.

Muitos desenvolvedores e empresas independentes foram gravemente afetadas pelo fim inadvertido dos apps de terceiros para Twitter. São equipes que passaram mais de uma década se dedicando a apps que, em grande parte, definiram o significado de usar o Twitter.

Sabia, por exemplo, que o termo “tweet” foi inventado pela Iconfactory? Pois é. Com o fim do Tweetbot, do Twitterrific e de tantos outros, esse pessoal literalmente viu seu ganha-pão sumir da noite pro dia. Se você puder, considere assinar ou comprar algum outro aplicativo que eles oferecem. Ou então, separe um minutinho mandar um email de incentivo ou de agradecimento. Especialmente em momentos de crise, uma manifestação de apoio pode fazer toda a diferença.

Acredite: falo por experiência própria. 😉

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