Quando parecia que ninguém mais no mundo — além de Andrew Garfield como “O Espetacular Homem-Aranha” e um grupo seleto de usuários — usaria o Bing para realizar buscas na internet, a Microsoft provou que ainda surpreenderia a todos.
Nesta semana, durante um evento de anúncio de produtos, Satya Nadella (CEO1Chief executive officer, ou diretor executivo. da empresa) apresentou uma grande atualização do mecanismo de buscas, agora totalmente integrado a recursos poderosos de inteligência artificial da OpenAI, empresa dona do famoso ChatGPT.
Para quem ainda não é familiarizado com o tema, o ChatGPT é um programa de buscas construído a partir de uma IA que apresenta respostas a partir de uma linha de raciocínio conversacional (em prosa), contextual e rica em detalhes, de acordo com o que é pesquisado.
O ChatGPT foi treinado em uma grande variedade de fontes de texto na internet, incluindo artigos de notícias, livros, blogs, fóruns e conversas online. No entanto, é importante notar que o conhecimento incorporado pelo modelo é baseado em informações disponíveis na internet até 2021, e que ele pode conter informações incorretas ou desatualizadas. Portanto, sempre é uma boa ideia verificar a precisão das informações geradas pelo modelo antes de confiar nelas completamente.
Apesar da acurácia das respostas não ser correta em 100% das vezes, o ChatGPT surpreende com a alta assertividade e fluidez das respostas, e conta com um uso recorrente para o aprimoramento constante dos resultados, como qualquer sistema baseado em aprendizagem de máquina e de inteligência artificial.
Segundo a nota divulgada pela Microsoft, o Bing foi agora integrado a um modelo ainda mais poderoso que o ChatGPT, personalizado especificamente para buscas e com sistemas de aprendizado-chave ainda mais avançados, capazes e acurados. Essa integração entre as inteligências da Microsoft e os sistemas da OpenAI é proprietária e chamada pela empresa de Modelo Prometeu. Ainda de acordo com a nota, a aplicação de inteligência artificial foi realizada no núcleo do mecanismo de buscas do Bing para promover um ranking de resultados ainda melhor, o que resultou no “maior salto de relevância de resultados em duas décadas”.
De acordo com a Microsoft, o “novo Bing” propõe uma nova proposta de experiência do usuário, que agora preza pela unidade da busca, navegação e conversão como pontos centrais para a interação do usuário com a web. Por isso, a empresa também apresentou um redesenho completo do Edge, apelidado de “copiloto da web”.
Agora, o navegador da Microsoft conta com aprimoramentos na busca por resultados mais relevantes de pontuações esportivas, preços de ações e detalhes de tempo, além de repostas mais completas e um chat interativo que, já integrado ao novo Bing, pode planejar pelo itinerário completo de uma viagem, criar publicações para o LinkedIn, buscar por promoções, ofertas e até mesmo sugerir ingredientes alternativos para uma receita de bolo sem qualquer necessidade de navegação entre dezenas de diferentes resultados — tudo em uma única conversa a partir de poucas entradas de palavras para essas buscas.
E o Google com isso?
A apresentação da Microsoft aconteceu apenas dois dias depois de o Google apresentar o Bard, sua versão concorrente do ChatGPT, totalmente experimental, ainda em uma fase de testes limitada ao público.
O mais curioso é que o Google já implementa inteligência artificial no estilo conversacional há pelo menos seis anos no Android — haja vista o Google Assistente que, desde então, vem destruindo a Siri em comparações qualitativas de desempenho de buscas —, mas nunca chegou a expandir essa inteligência para outros produtos como Gmail, Mapas e até mesmo sua rede de buscas.
Por outro lado, o Google, afogado em seu oceano azul, tem muito com o que se preocupar, uma vez que novos concorrentes de busca poderão propor novos canais de publicidade à medida em que atraem mais e mais usuários ávidos por respostas cada vez melhores para suas pesquisas.
A falta de inovação do Google para o seu mecanismo de buscas ficou evidente com o lançamento recente do ChatGPT, que não tardou a deixar claro que poderia ameaçar seu modelo de negócios com respostas mais completas, relevantes e fluídas — tal como propõe a solução da OpenAI, agora junto à Microsoft.
É evidente que, por ora, não há como afirmar que a OpenAI matará o Google enquanto player no mercado de buscas com o ChatGPT. Além de ser cedo demais para fazermos qualquer aposta precoce e desenfreada, estamos a ver novos players ingressando nesse mercado para definirem os próximos anos de uma competição a ser muito acirrada — e isso inclui a Apple.
A Apple e sua própria rede de buscas
Há alguns dias, publicamos um artigo que trata sobre os próximos passos que a Apple poderá dar para se tornar completamente independente dos serviços do Google, entre os quais incluem um buscador próprio, segundo rumores recentes.
Com uma rede de buscas própria, a Apple teria muito mais controle dos seus usuários, que contariam com um grande fortalecimento da sua privacidade de dados a partir desse novo mecanismo de buscas padrão do iOS, no iPadOS e no macOS — ao passo que, inicialmente, enfraqueceria uma grande proporção de tráfego para a rede de buscas do Google com seus 2 bilhões de aparelhos em atividade. Além disso, a Apple abriria uma nova fonte de renda para a empresa a partir da publicidade, possibilitada por esse novo canal.
A rápida e imbatível evolução da inteligência artificial somada a investimentos oriundos de seu grande montante em caixa garantiriam à Apple uma grande entrada em uma jornada competitiva contra a rede de buscas do Google, diga-se de passagem muito mais tranquila do que foi com o lançamento premeditado (e forçado) de seu sistema de mapas em 2011 — que há anos já é levado a sério em diversos países mundo afora.
Por anos não vimos qualquer concorrente de buscas páreo para o Google, a ponto de o “velho Bing” ter virado motivo de piada… até o surgimento do ChatGPT há poucas semanas e, agora, à reestruturação do novo Bing apresentado pela Microsoft. Pois agora, na expectativa da apresentação de uma solução da Apple, só podemos esperar por mais benefícios para nós, usuários, que só temos a ganhar com mais essa briga de gigantes.
Os novos Bing e Edge já estão disponíveis para testes no programa Insider da Microsoft — e, segundo a empresa, serão disponibilizados ao grande público muito em breve.
Notas de rodapé
- 1Chief executive officer, ou diretor executivo.