Uma série de narradores está relatando na internet que o Spotify vendeu os seus diretos de voz para a Apple e outras empresas sem o seu consentimento. As gravações, segundo informações da WIRED, estariam sendo utilizadas para treinar uma inteligência artificial da gigante de Cupertino, usada para criar audiolivros para seu aplicativo Livros (Apple Books).
Boa parte desses narradores faz parte da Findaway, uma empresa do ramo de audiolivros que foi comprada pelo serviço de streaming sueco — que também conta com audiolivros em sua plataforma — no ano passado. Além de não terem sido consultados, esses profissionais também não receberam nenhum tipo de pagamento pelo uso de suas vozes.
Ainda de acordo com as informações, a cláusula que permitia a venda dos áudios gravados pelos narradores estava presente apenas no contrato do Spotify apresentado aos autores dos livros. Os funcionários da Findaway, por sua vez, nunca chegaram a ser comunicados dessa mudança.
Alguns autores reclamaram que a cláusula não foi devidamente apresentada para eles quando o Spotify atualizou o seu contrato. A narradora Andy Garcia-Ruse expressou sua indignação ao ser questionada pela WIRED:
Parece uma violação ter nossas vozes sendo usadas para treinar algo para o qual o propósito é justamente tomar o nosso lugar.
De acordo com a SAG-AFTRA (o sindicato responsável por representar a categoria), essa revelação fez a Apple reverter seu acordo com a Findaway nesta semana. Mais especificamente, as duas empresas teriam concordado em interromper o uso dos áudios para treinar qualquer IA, sendo que isso contemplaria todos os arquivos afetados desde que a cláusula entrou em vigor.
O sindicato ainda está negociando com a Findaway para que as reivindicações dos narradores sejam atendidas. Entre elas, está o armazenamento seguro das gravações e dos dados, o estabelecimento de limitações de uso e uma compensação apropriada.
Ainda segundo a SAG-AFTRA, autores e narradores podem solicitar a revogação da opção que dá à Apple a chance de usar as gravações mesmo se não fizerem parte do sindicato.
Tanto o Spotify quanto a Apple não comentaram a questão, ainda.