A Apple possui inúmeros empreendimentos em andamento, alguns dos quais se materializam em produtos e serviços; outros, simplesmente não são voltados para clientes/consumidores — e sim para a própria companhia.
É nesse segundo espectro que está o contínuo esforço dela para reduzir a sua dependência da China, um assunto que certamente muitos já acompanham há bastante tempo aqui no MacMagazine.
Como dissemos, esse é um esforço ainda em curso pela Maçã — justamente por isso esse assunto recorrentemente volta à tona —, cujos novos detalhes foram divulgados pelo conhecido jornalista Mark Gurman, da Bloomberg.
Diversificação
Como ressaltado por Gurman e conforme temos acompanhado, os esforços de diversificação da cadeia de produção da Apple tornaram-se urgentes durante o aumento das tensões comerciais entre os EUA e a China (sob o governo Trump) e depois se intensificaram durante a pandemia da COVID-19.
Nesse sentido, Gurman inferiu que uma das conquistas mais marcantes da carreira de Tim Cook, CEO1Chief executive officer, ou diretor executivo. da Apple, foi seu trabalho na manutenção do seu relacionamento com a China — que é “extraordinariamente positivo em comparação aos de outras empresas de tecnologia dos EUA”.
Ao longo de mais de duas décadas, a Apple construiu uma vasta operação de fabricação e montagem no país envolvendo milhares de parceiros de negócios. Existem mais de 40 lojas da Apple na China continental, e a Apple obtém quase 20% da sua receita de sua região “Grande China”, que inclui Taiwan e Hong Kong.
Com o envolvimento direto de Cook, a Apple também reuniu centenas de funcionários no que algumas pessoas dentro da empresa chamaram de “equipes de tigres” para resolver os pontos fracos da sua cadeia de suprimentos, segundo o jornalista.
Ele ampliou os esforços dessas equipes, que se instalam nas fábricas dos fornecedores na China e em outros países, avaliam os cronogramas de manutenção das instalações e montam listas mais extensas de fornecedores de backup para cada componente, até parafusos e inserções plásticas. A empresa está trabalhando para melhorar suas previsões, componente por componente, para antecipar melhor possíveis escassezes.
Mais do que isso, os gerentes do departamento de operações da Apple instruíram os funcionários a se concentrarem no fornecimento de componentes adicionais e na localização de linhas de produção fora da China para mais produtos novos em 2024, embora a empresa também planeje manter extensas operações no país.
Ainda assim, a empresa está se movendo com cuidado. A liderança da Apple teme que a China possa retaliar se transferir muita capacidade [de produção] para outros países ou se fizer uma transição muito rápida. Os clientes na China podem se voltar contra os produtos projetados nos EUA em meio a um nacionalismo intensificado. A empresa também se preocupa com a sua capacidade de garantir altos padrões de qualidade no Vietnã e principalmente na Malásia, dado o estado atual das indústrias de manufatura nesses países.
Vale notar que as tentativas de realocação de algumas operações de fabricação e montagem vêm ocorrendo na Apple há mais de uma década. Em 2012, a empresa fez parceria com a Foxconn, sua maior fabricante contratada, para fabricar alguns modelos de iPhones no Brasil para contornar as tarifas sobre produtos importados. Além disso, a Apple começou a fabricar Macs Pro em uma fábrica no Texas — mas nenhum dos dois projetos correu bem.
Foco na Índia
Dado os fatores supracitados, o jornalista lembrou que os esforços da Apple passaram a se concentrar na Índia (principalmente como local de produção de iPhones e acessórios), no Vietnã (para produção dos AirPods e montagem de Macs), na Malásia (para algumas linhas de produção de Macs) e na Irlanda (onde atualmente ocorre a montagem de alguns iMacs).
Em meio a essas tentativas, Gurman apontou que uma mudança mais duradoura começou em 2017, quando a Apple começou a fabricar alguns iPhones de entrada na Índia. Segundo ele, inclusive, seus planos mais ambiciosos são para o país, onde a Maçã trabalhará com uma série de parceiros para fabricar iPhones, AirPods e Apple Pencils, além de componentes para Apple Watches, iPads e Macs — tudo isso em meio à iminência da abertura da primeira loja da empresa no país.
Para esse empreendimento, a Apple já contratou três dos seus principais parceiros de montagem para fabricar dispositivos na Índia: Foxconn, Pegatron e Wistron. A empresa também contratou recentemente a Tata para fornecer o exterior de iPhones e, por fim, montar todos os produtos.
Segundo o jornalista, a Apple produziu mais de 6,5 milhões dos 200 milhões de iPhones fabricados em 2022 na Índia, sendo que a meta é produzir 10 milhões de unidades no país em 2023. Os envolvidos no processo acreditam que o número poderá passar de 15 milhões de unidades em 2024 e, ainda, há quem acredite que a Apple poderá transferir 25% da produção do iPhone para a Índia até 2025.
Nos últimos anos, a Apple produziu os primeiros lotes dos seus modelos de iPhones mais recentes na China e, gradualmente, adicionou a produção na Índia. Ela espera enviar o “iPhone 15” de ambos os países simultaneamente, o que seria a primeira vez. (Os modelos do “iPhone 15 Plus” e do “iPhone 15 Pro” de titânio ainda serão fabricados apenas na China.) O processo de construção da carcaça do “iPhone 15” na Índia já começou e os componentes do dispositivo já estão sendo fabricados localmente por fornecedores como a Jabil, que também planeja fabricar lápis Apple Pencil e já está montando gabinetes para AirPods.
Gurman informou, ainda, que a Apple está procurando construir uma gama mais ampla de componentes e produtos na Índia — incluindo carregadores, cabos e caixas para iPhones — bem como o estabelecimento de um polo de produção de peças de metal e plástico, tampas de vidro e parafusos no país.
Por fim (e parafraseando Gurman), Cook teve um trabalho excepcional para manter e ampliar os laços com as empresas e órgãos chineses para aumentar a produção da Apple no país.
Agora, ele precisa fazer isso tudo novamente — só que na Índia e em outros países. 😅
Notas de rodapé
- 1Chief executive officer, ou diretor executivo.