O melhor pedaço da Maçã.

“Buccaneers” e “Dickinson”: unidas até que Alena Smith as separe

A criadora de “Dickinson” não gostou nada de ver o perfil oficial da série divulgar a mais nova produção do Apple TV+. Ela está certa?

É publico e notório — e não é de hoje — que Hollywood tem um problema sério de criatividade. O marasmo imaginativo dos grandes estúdios se manifesta de diversas maneiras, e uma das mais conhecidas é a velha e boa mentalidade do “Deu certo? Vamos repetir ad infinitum até ninguém mais conseguir ouvir falar disso”.

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Já vimos casos desse tipo trocentas vezes, especialmente no universo adolescente. “Harry Potter” virou febre e deu origem a uma cachoeira de histórias de adolescentes descobrindo mundos mágicos, desde “Eragon” até “Percy Jackson”. “Crepúsculo” gerou um fluxo de romances teens com uma pegada meio puxada para o horror (veja “A Fera” ou “Dezesseis Luas”. Ou melhor, não veja).

Querem mais? Tem mais. “Jogos Vorazes” fez as TVs e salas de cinema serem invadidas por narrativas pós-apocalípticas com comentários sociais insípidos e inofensivos, como “Divergente” ou “Maze Runner”. E não vamos nem começar a falar dos thrillers eróticos de quinta categoria produzidos em massa após o sucesso de “Cinquenta Tons de Cinza” (que já era ruim por conta própria).

E podem começar a se preparar para a explosão de filmes baseados em brinquedos e jogos. Porque a lição que Hollywood tirou com o sucesso bilionário de “Barbie”, claro, não é que cineastas talentosos(as) e independentes devem ter liberdade criativa e um bom orçamento para tirarem suas ideias mais ambiciosas do papel, e sim que o mundo está implorando por um filme baseado em UNO.

Em uma escala muito menor, algo parecido está acontecendo no Apple TV+. “Dickinson” foi uma das séries mais bem-sucedidas da plataforma até agora — se a audiência não foi suficiente para transformá-la num fenômeno como, digamos, “Ted Lasso”, ao menos a série conquistou uma fanbase muito fiel, com uma produção frenética de fanfics, fanarts e outros termos que começam com “fan”. E com isso, claro, já há uma óbvia sucessora engatilhada para capturar a mesma faixa demográfica: “The Buccaneers”, que chegará à plataforma em novembro.

Se você prefere seus espartilhos soltos, este desfile é para você.
“The Buccaneers” estreia em 8 de novembro.

De fato, é inegável constatar as características que unem as duas séries. Ambas são narrativas de época, ambientadas no século XIX, mas com toques propositalmente anacrônicos e contemporâneos. Ambas são centradas em mulheres e têm figuras femininas no comando, por detrás das câmeras. Ambas são fortemente influenciadas pelo universo literário: “Dickinson” é livremente inspirada na vida e obra da poetisa Emily Dickinson, enquanto “Buccaneers” é baseada em “Os Bucaneiros”, romance não finalizado da escritora norte-americana Edith Wharton.

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Seria “Buccaneers”, portanto, uma espécie de sucessora espiritual da série protagonizada por Hailee Steinfeld? Bom… não se depender de Alena Smith, criadora, produtora, showrunner e principal roteirista de “Dickinson”.

Na semana passada, Smith — que tem contrato de exclusividade com o Apple TV+, vale notar — usou seu perfil pessoal no Instagram para compartilhar palavras… digamos, não muito amáveis sobre “The Buccaneers”. Mais precisamente, a roteirista ficou insatisfeita com o fato de que o perfil oficial de “Dickinson” na rede foi usado para divulgar a nova produção da Maçã, apontando que a empresa misturou um verso conhecido de Emily Dickinson (“Wild nights should be our luxury”) com a promoção da vindoura série.

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Smith ainda adicionou a seguinte legenda ao Story:

Por que o Apple TV+ está promovendo uma cópia descarada, gerada por IA, da minha série usando os nossos perfis de rede social? Cringe. 😬

A bem do compromisso jornalístico, deixemos bem evidente logo de cara: não, não há nada que indique que “The Buccaneers” é gerada por inteligência artificial. A série tem uma equipe de roteiristas (todos seres humanos, até que se prove o contrário) devidamente creditada no IMDb, e de qualquer forma sua história já circula nas mentes humanas há quase um século — o livro no qual a produção é baseada foi publicado em 1938, um ano após a morte de Wharton.

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Ainda assim, sabemos que a frase de Smith não é uma acusação séria e sim um comentário maldoso sobre a aparente semelhança entre as duas séries. E, claro, o fato de “The Buccaneers” não ser diretamente escrita por uma inteligência artificial não necessariamente significa que a decisão que deu sinal verde para a sua produção é 100% humana — ora, se a Netflix já usa algoritmos para descobrir o que seus assinantes querem ver há anos, nada impede a Apple de fazer algo parecido, certo?

O fato é que o perfil de “Dickinson” no Instagram (ou em qualquer outra rede social) pertence à Apple e a Maçã tem, portanto, direito de fazer o que bem entender nas postagens que publica por lá. De fato, é até natural que a empresa esteja tentando mobilizar a fanbase da série, finalizada há quase dois anos, para uma nova produção do seu catálogo.

Por outro lado, claro, Smith tem todo o direito de expressar suas opiniões em seu perfil pessoal — ainda que não saibamos qual será a reação da Apple com essa “antidivulgação” da sua contratada. Vale lembrar que, desde a finalização de “Dickinson”, nenhum outro projeto de Smith foi anunciado pela Maçã, mesmo com o contrato de exclusividade ainda em vigor.

E qual é a moral dessa história toda? Bom, para isso teremos de esperar novembro próximo: se “The Buccaneers” for um sucesso de público e crítica, a Apple terá todas as razões do mundo para continuar investindo neste filão — e Smith, fazendo barulho ou não no Instagram, terá de se conformar com isso. Por outro lado, se a recepção da nova série não for tão boa assim, talvez seja a hora da Maçã recalcular a rota — afinal de contas, é difícil um raio atingir o mesmo lugar duas vezes.

O que vocês acham?

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