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Lançamento do iPhone 15

E não é que teve fila?

Até alguns anos atrás, já era tradição: dia de iPhone novo era dia de fila! Não faltavam fotos e entrevistas com pessoas que haviam passado os últimos dias na frente de uma Apple Store, em renques que ziguezagueavam as fachadas das lojas e serpenteavam pelos quarteirões adjacentes.

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Aliás, quem lembra dessa?

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Ops!

Nos últimos anos, porém, a cena mudou. Ainda havia filas, é claro (mesmo quando a Apple pediu ao público para não fazer isso), mas nada semelhante ao alvoroço de anos anteriores.

Se, antes, as filas de iPhones haviam se transformado em verdadeiros negócios com a comercialização de lugares e pessoas usando camisetas patrocinadas por empresas em busca de exposição, os últimos anos foram de relativo desânimo, com algumas dezenas de pessoas precisando separar no máximo algumas horas do dia para comprarem o novo aparelho.

Comprar um lugar nas filas da Apple chegou a custar mais de US$1.000!

O que nos traz a 2023. Em comparação aos idos de 2010 e suas centenas de milhares de pessoas em clima de festa, tivemos um ano bem tranquilo. É bem verdade que hoje a Apple tem 25% mais lojas do que há, digamos, 10 anos (são 522 em 2023 contra 416 em 2013), o que significa que ela pôde diluir essa demanda em 25% na última década. Ainda assim, a redução no volume das filas parece maior do que a proporção de novas lojas.

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Porém, algo sobre os iPhones 15 parece ter tirado mais pessoas de casa do que nos últimos anos.

Na Índia, por exemplo, aconteceu o primeiro lançamento de um iPhone após a chegada das primeiras Apple Stores no país. Uma reportagem de um canal local capturou bem a situação na frente da loja de Mumbai, onde o público passou a aglomerar-se a partir da madrugada anterior. Nada fora do controle, mas uma movimentação próxima à da inauguração das mesmas lojas há alguns meses.

Inauguração da Apple Mumbai

Em Berlim, um dado intrigante veio diretamente de um funcionário da Apple Store de Rosenthaler Straße. Conversando com o meu irmão, ele disse que a sexta-feira de lançamento dos iPhones 15 marcou o dia de maior movimento da história para uma Apple Store alemã, com mais de 30 mil pessoas batendo ponto para comprar ou buscar um iPhone comprado na pré-venda. 30.000! Parece exagerado? Sem dúvida. Isso dá meio Morumbi na final do meu tricolor contra o Flamengo1Alô, Edu!. Para um turno de 8 horas, isso equivale a uma pessoa por segundo. Mas, foi o que o funcionário disse. 🤷‍♂️

Já o destaque negativo do ano ficou para Dubai, onde a disputa pelas primeiras unidades gerou um empurra-empurra que, por pouco, não se transformou em pancadaria. Ironicamente, foi o único lugar onde o volume de pessoas lembrou bastante o que costumava ser a regra (ainda que mais civilizada) de anos anteriores ao redor do mundo.

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Dito tudo isso, a pergunta é: considerando que os novos iPhones não são exatamente um grande salto tecnológico em comparação aos do ano passado, o que ocasionou o retorno (ainda que acanhado) das filas em 2023? Aqui vão algumas hipóteses.

Superciclo

Na história dos iPhones, ocorreram dois superciclos de vendas: um em 2015, quando a Apple vendeu a maioria dos modelos 6 e 6 Plus (atendendo a uma enorme demanda represada de quem queria iPhones maiores); e outro em 2021, quando a Apple começou a reverter o problema da escassez de chips que represou a demanda em 2020 — aliada, claro, ao fato de 2020 ter sido um ano de bastante confusão e incerteza financeira para a maioria de nós.

Vendas de iPhones entre 2007 e 2002, em milhões de unidades | Fonte: Statista

Sabemos que, fora da nossa bolha de tecnologia, poucas pessoas ainda fazem upgrades todos os anos. Isso significa que os iPhones 15 dificilmente terão um grande apelo para quem já tem um iPhone 14 ou mesmo um 13. Por outro lado, cada nova geração potencializa a chance de abrir a carteira de quem havia comprado seu último iPhone quando Gugu Liberato ainda era vivo e que agora pensa ao menos uma vez por ano: “Será?”

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Outro ponto importante: até o momento, 2023 foi um ano relativamente tranquilo para as carteiras dos clientes da Apple. Sem iPads novos, sem grandes lançamentos de acessórios e com menos Macs novos do que de costume, o usuário médio pode ter se sentido mais confortável em fazer o upgrade do que nos últimos anos — especialmente no exterior, onde os preços são menos disparatados.

Clientes fazem fila na Apple Regent Street, em Londres, para comprar o iPhone 15. | Foto: Ben Wood

Logística

Na maioria dos países, o processo de compra na Apple Store Online envolve a comparação entre o prazo de entrega e a possibilidade de retirá-lo em uma Apple Store. Atualmente, caso o usuário tenha escolhido um iPhone indisponível para retirada, a Apple exibe configurações alternativas que tenham um prazo de retirada mais curto do que o do iPhone escolhido.

Site da Apple informa disponibilidade de retirada para um modelo de 256GB (e US$100 mais caro), em vez do modelo escolhido de 128GB atualmente indisponível.

É impossível saber quanto do estoque a Apple dedica às lojas (para venda ou retirada) em comparação às entregas diretas. Mas qualquer pessoa que lide com UX2Sigla para user experience (ou experiência do usuário), área do design responsável pelo estudo das melhores formas de interação e navegação de um site ou aplicativo. irá confirmar que bastam pequenos ajustes aqui e ali no processo de checkout para direcionar o usuário a tomar uma determinada decisão.

Com isso em mente, se neste ano foi mais conveniente para a Apple, por qualquer motivo, direcionar as pessoas às lojas em vez de lidar com a logística de entrega nos mesmos volumes dos outros anos, o aumento das filas pode ter sido um reflexo disso.

Placebo

Uma última alternativa, é claro, é a seguinte: as filas na realidade não aumentaram. Alguns casos viraram notícia justamente por serem exceções e, nossa proximidade com o lançamento o faz parecer mais relevante do que os já distantes lançamentos dos outros anos.

O contraponto a isso são as primeiras estimativas de vendas da nova geração. Segundo analistas da Wedbush Securities, o desempenho de vendas desse ano está entre 10% e 12% maior do que as vendas iniciais dos iPhones 14. Já Ming-Chi Kuo disse que as vendas do iPhone 15 Pro Max estão particularmente fortes graças à lente teleobjetiva de 5x, mas por outro lado os modelos 15 e 15 Pro não vão tão bem.

Tudo ao mesmo tempo agora

Essa é a minha aposta. Em um ano sem grandes lançamentos para concorrer com o orçamento e com um desempenho inicial melhor do que o dos anos anteriores, a geração do iPhone 15 deve firmar-se como a campeã de vendas na era pós-pandêmica. E se a demanda aumentou e as pessoas estão de volta às ruas, as filas naturalmente acompanharam.

Some isso à variável de que a própria Apple tem a opção de aumentar ou reduzir o direcionamento às lojas conforme for mais cômodo para ela, temos aqui uma possível explicação.

Fila na Apple Fifth Avenue para comprar o iPhone 15

Fato é que eu não consigo pensar em outro produto que, com quase 20 anos de existência e algumas dezenas de versões, ainda consiga capturar a atenção (e as carteiras) de tanta gente, transformando o seu lançamento em um verdadeiro evento global.

BÔNUS: Já que o assunto é loja, quem aqui lembrava disso? 🤣

Notas de rodapé

  • 1
    Alô, Edu!
  • 2
    Sigla para user experience (ou experiência do usuário), área do design responsável pelo estudo das melhores formas de interação e navegação de um site ou aplicativo.

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