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Caso FineWoven: a Apple não aprendeu nada com o teclado borboleta

Christian Moomaw
Capa FineWoven à mostra na Apple Store de Boston | Foto: Christian Moomaw

Eu não sei quanto a você, mas há algum tempo eu já tenho uma certa preguiça da corrida pelo #gate1Sufixo derivado do escândalo do Watergate, de 1972, nos Estados Unidos. do ano.

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Desde que o canal Unbox Therapy entrou no mapa com o iPhone 6 que entortava, cada novo iPhone renova um ciclo de YouTubers que se atropelam para tentar identificar o primeiro candidato à principal falha de projeto daquela geração.

YouTube video
73 milhões de visualizações! 🤯

O que não significa que não haja falhas de projeto, é claro. Antes do Bendgate do iPhone 6, veio o Antennagate do iPhone 4. Ao longo dos anos, também vimos o Batterygate, o Scratchgate, o Scuffgate, o Locationgate, o Yellowgate, o Sirigate, o Crackgate, o Peelgate, o Hissgate, etc., etc., etc. Alguns eram problemas reais; outros, não. Alguns foram corrigidos com updates de software; outros, não. Alguns geraram processos; outros… também.

Neste ano, os principais candidatos são o Titaniumgate e o Thermalgate. Uma rápida busca no YouTube retorna dezenas de thumbnails com criadores de conteúdo® e suas enfadonhas bocas abertas e semblantes de surpresa e de confusão, segurando os novos iPhones ao lado de um TÍTULO CHAMATIVO!!1!, implorando pelos nossos cliques.

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Existe um argumento razoável aqui, que é o seguinte: assim como acontece com o mundo dos rumores, o público consome esse tipo de conteúdo como algo puramente de entretenimento, em vez de algo de valor informativo ou que deva ser levado a sério. Mas essa discussão fica para outro dia.

E para ser justo: enquanto o Titaniumgate não parece ser muito diferente do equivalente ao engorduramento da tela durante o uso, o Thermalgate de fato era um problema e precisou ser corrigido.

Pois bem. Um outro problema que surgiu logo que vieram os novos iPhones — e que eu não prestei muita atenção justamente por conta dessa overdose de #gates a cada lançamento — foi o da fragilidade das capinhas FineWoven.

Com o passar dos dias, no entanto, a coisa mudou. Seus críticos iniciais estavam certos e, na verdade, a FineWoven representa uma grave quebra de confiança (além de uma certa subestimação dos próprios clientes) por parte da Apple.

Imagem feita pela iFixIt, exibindo a trama do material FineWoven sob um microscópio, junto a um fio de cabelo para dar escala.

Apresentado por Jeff Williams como uma alternativa ao couro, o material FineWoven foi anunciado no evento dos iPhones 15 como parte da iniciativa Apple 2030. Tanto no evento quanto no site, a Apple chacoalhou vigorosamente o saleiro de adjetivos para tentar fazer a novidade emplacar, classificando o FineWoven como sutil, brilhante, sofisticado, belo, luxuoso, versátil, durável, resistente, macio, lindo e de alta qualidade.

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O problema? Tirando a subjetividade do aspecto da beleza, ele não é nada disso.

Os limites do Campo de Distorção da Realidade®

Cada vez menos afirmações são unânimes nesse mundo, mas acho seguro dizer que uma delas é a seguinte: a Apple sabe fazer marketing.

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E não uso marketing aqui com aquele sentido conspiratório ou manipulador (e, convenhamos, meio vazio) que costumamos ver por aí, mas sim em seu significado literal de identificar a abordagem certa para posicionar um produto como diferenciado em relação ao resto do mercado.

Por muito tempo, a Apple se apoiou no famoso Campo de Distorção da Realidade® de Steve Jobs para passar essas mensagens. Já nos últimos anos, ela passou a se apoiar na credibilidade e no valor de outras marcas para potencializar seus caros diferenciais — o que, por sinal, é uma via de mão dupla. É o caso da Hermès e da Nike para o Apple Watch, da Disney para o Vision Pro, da BMW para o Keyless Entry e por aí vai.

Por vezes, a Apple também fez isso sozinha, com excelentes resultados. Os preços da Apple TV, do Pro Stand para o Pro Display XDR e das rodinhas do Mac Pro não me deixam mentir. Basta estampar uma maçã nas costas ou na embalagem de qualquer produto,e ele venderá feito água a preço de petróleo.

Ou pelo menos foi isso que a Apple pensou.

O fator xalalá

Nem todos devem saber, afinal, não faz o menor sentido, mas as capas FineWoven custam a mesma coisa que as capas de couro custavam. Do lado da Apple, a teoria provavelmente pareceu perfeita:

  1. Apresente um produto como luxuoso;
  2. Cobre o mesmo preço de um produto luxuoso;
  3. Lucro!

O problema é que, se no passado, a Apple teve sucesso nessa estratégia — de novo, US$1.000 por um apoio de monitor! —, desta vez ela parece ter superestimado um bocado quanto xalalá2Alô, Breno Masi! o público estaria disposto a engolir.

Para piorar: essa foi a primeira grande mudança prática que a Apple apresentou como parte das suas crescentes iniciativas ambientais. Se antes já havia quem criticasse qualquer atitude ambiental dizendo que isso iria gerar produtos piores, a FineWoven é um prato cheio para fortalecer esse tipo de narrativa.

Recentemente, o podcast Upgrade teve uma excelente discussão a respeito desse último ponto. Vale escutar.

O problema da durabilidade

A verdade é que nada disso realmente importaria se as capas FineWoven cumprissem uma das suas principais promessas: serem duráveis.

Imaginemos, por um momento, que nós tivéssemos aceitado esse novo material como algo luxuoso, à altura de uma camurça ou de um couro, como a Apple insiste que ele é. Ainda assim, essas capas não têm se mostrado duráveis ou resistentes, como a Apple também pontifica.

Para piorar, existem aspectos inaceitáveis de mau design, incluindo o fato de o buraco para a entrada USB-C não estar perfeitamente centralizado, e também o fato de ele ser pequeno demais para permitir o encaixe de diversas entradas USB-C, obrigando os usuários a remover o iPhone da capa toda vez que eles precisam recarregá-lo. Para piorar, é possível ver uma pequena emenda justamente na região de encaixe da entrada USB-C, que é uma forte candidata a se partir com o uso quase diário do carregador.

Ainda assim, a questão da durabilidade é o que mais pega. Não faltam por aí fotos de capas arranhadas e manchadas, tanto no mundo real quanto nos mostruários das Apple Stores. É justo imaginar que haja espíritos-de-porco arranhando as capas de mostruário de propósito, só para “ver se elas arranham facilmente”, mas o resultado é o mesmo: elas arranham facilmente.

Capas FineWoven arranhadas à mostra em uma Apple Store.

E enquanto a Apple vem orientando seus funcionários a responderem dúvidas sobre as capas FineWoven com respostas que “informem o cliente que o material FineWoven é feito de uma microssarja luxuosa com uma textura de camurça suave, porém durável”, ela também vem precisando substituir as capas das lojas diariamente pela quantidade de arranhões que elas vêm acumulando. Isso não prece nada sustentável.

Mais uma vez, para ser justo, há quem tenha comprado uma capa FineWoven e esteja perfeitamente satisfeito, o que é ótimo! Se esse é o seu caso, por favor, se manifeste nos comentários para, quem sabe, equilibrar a narrativa. 🙂

Conclusão

Na página de descrição da capa FineWoven, a Apple diz o seguinte:

Como todas as capas criadas pela Apple, ela passou por milhares de horas de testes durante o processo de design e fabricação. Ou seja: além de ser linda, protege seu iPhone contra quedas e arranhões. Esta capa de alta qualidade foi feita para ser resistente e proteger seu iPhone. O material FineWoven pode apresentar desgaste com o passar do tempo. A interação com acessórios MagSafe deixa leves marcas. Caso queira evitar isso, sugerimos que você use uma capa de silicone ou transparente para iPhone 15.

Não parece provável que a facilidade de arranhar não tenha aparecido nesses testes. O fato de a Apple ter decidido lançar a FineWoven sabendo desses problemas é a real questão aqui, especialmente quando a FineWoven foi apresentada para substituir um produto que, ironicamente, ficava mais bonito conforme ia ganhando marcas de uso ao longo do tempo.

Ao contrário de alguns #gates que surgiram e sumiram ao longo dos últimos anos, o tropeço da FineWoven parece ser especialmente relevante. Não pela capinha em si, é claro, porque no fundo ela não passa de um acessório supérfluo e repleto de alternativas (melhores e mais baratas).

Mas, ao seguir em frente com o lançamento de um produto que evidentemente estava aquém da qualidade que sempre foi sua marca registrada, a Apple tirou um pouco do valor e da credibilidade de todos os outros produtos que ela também chama de durável, luxuoso, etc.

Resta saber se, a exemplo de quando reconheceu o enorme tropeço do MobileMe com o lançamento do iCloud, a Apple também descontinuará as capas FineWoven em prol de uma solução que de fato seja refinada e durável, ou se (guardando as devidas proporções) a FineWoven será um novo teclado borboleta, que a Apple se recusou a reconhecer, durante anos, como um problema óbvio desde o começo.

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Notas de rodapé

  • 1
    Sufixo derivado do escândalo do Watergate, de 1972, nos Estados Unidos.
  • 2
    Alô, Breno Masi!

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