O melhor pedaço da Maçã.

Esportes ao vivo: como o Apple TV+ pode tirar proveito da última fronteira dos streamings

No mês passado, uma longa reportagem/perfil/entrevista da GQ detalhou os planos ambiciosos de Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da Apple, para revolucionar a forma como os serviços de streaming — ou, mais precisamente, o Apple TV+ — transmite eventos esportivos e como os fãs engajam com essas transmissões. 

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O fio condutor do artigo, naturalmente, é o acordo costurado pela Maçã com a MLS (Major League Soccer, a principal liga de futebol dos EUA) e a chegada de ninguém menos que Lionel Messi ao Inter Miami, um dos times do campeonato — chegada essa que teve um dedo da Apple e contribuiu, naturalmente, para uma explosão do interesse público na liga estadunidense.

Como uma pessoa que acompanhou (pessoal e profissionalmente) os flertes do Apple TV+ com o universo dos esportes ao longo dos anos, e após ler o ótimo texto de meu colega Yan Avelino sobre o artigo da GQ, não pude deixar de pensar em como os eventos esportivos são uma espécie de barreira final do universo dos streamings que ainda não foi transposta… e que tem tudo para ser muito bem aproveitada pela Maçã, se os próximos passos dessa empreitada forem bem planejados.

O cenário atual

De acordo com a Nielsen, uma das principais empresas de medição de audiência do mundo, mais de um terço das residências dos Estados Unidos assistem TV exclusivamente por meio de uma conexão à internet, e esse número cresce a cada ano.

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Filmes e séries, até por sua própria natureza menos imediata, foram os primeiros tipos de conteúdo audiovisual abraçados pelo streaming e já formaram uma verdadeira indústria no universo da internet (Netflix que o diga). Outros tipos de programação, como notícias e reality shows, estão numa transição muito confortável para os confins da web. Mas e os esportes?

Nessa salada de frutas, não seria um exagero dizer que os esportes são o tipo de programação mais atrasado na transição para a internet. Você certamente já assistiu a alguma partida esportiva por meio de uma plataforma de streaming (seja pela comodidade de assistir a um jogo longe da TV ou simplesmente por não ter outra escolha), mas isso não significa que o cenário é exatamente ideal: a fragmentação dos serviços digitais acarretou em uma verdadeira via-crúcis para que você possa acompanhar seu time ou esportista favorito.

Falando da realidade brasileira, por exemplo, você pode ser obrigado a assinar até quatro ou cinco streamings diferentes para acompanhar os jogos do seu time de futebol favorito — e até mesmo jogos do mesmo campeonato podem ser exclusivos de plataformas distintas, dependendo dos contratos do time rival e dos acordos costurados entre os serviços e as emissoras de TV tradicionais.

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E não para por aí: se esse tipo de fragmentação já é péssima para eu e você, usuários que (presumo) têm alguma familiaridade com o universo digital e conseguem navegar bem pelas plataformas de streaming, imagine a dificuldade que uma pessoa menos escolada nesse tipo de tecnologia terá para acompanhar os jogos do seu time. Essa matéria da BBC, de dois anos atrás, ilustra bem a situação ao focar em um grupo de idosos que, de uma hora para outra, passaram a enfrentar dificuldades terríveis para simplesmente sintonizar no jogo do seu time de coração por não saberem manusear os serviços de streaming. Você certamente conhece uma pessoa assim — ou várias.

A chance da Apple

Se o estado atual dos esportes nas plataformas de streaming não é ideal, cabe a alguém apresentar uma solução que torne a coisa toda mais amigável e mais acessível. E a Apple, com sua obsessão por simplicidade (quem lembra do “it just works?”), tem todas as condições de ser esse alguém.

Tomemos como exemplo o acordo multibilionário com a MLS. A Maçã foi contra a maré desse tipo de negociação — que geralmente envolve contratos parciais, cobrindo apenas jogos, times e faixas de exibição específicos — e costurou um acordo que envolve todos os jogos da liga, sem exceção. Com isso, a empresa passa uma mensagem simples, mas potente para seus clientes: quem deseja assistir a qualquer jogo da MLS pode recorrer aos serviços da Maçã e terá seus desejos satisfeitos. Não precisa pensar, não precisa recorrer ao Google, não precisa recorrer aos seus amigos no Twit… digo, X. E essa é uma proposta muito tentadora para a maioria dos consumidores.

Com um poder de influência gigantesco e uma conta bancária basicamente infinita, a Apple certamente sai na dianteira para arrematar outros campeonatos e torneios ao redor do mundo — não apenas no futebol, mas também em todos os tipos de esportes e modalidades. E a Maçã sequer precisa ter os direitos de todas essas competições: nada impede que a empresa faça parcerias com outras plataformas, como já vemos com filmes e séries dentro do aplicativo Apple TV, para reunir todos os tipos de esportes e campeonatos que o espectador porventura queira acompanhar em um só lugar.

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Aqui, entra como fator importante o sólido ecossistema de hardware desenvolvido pela Apple ao longo da última década. Num mundo ideal, o usuário poderá lançar mão de um leque de dispositivos — Apple TV, iPhone, iPad, Mac, HomePod, AirPods, entre outros — para descobrir que horas seu time irá jogar e sintonizar a partida onde quiser, no momento exato. É óbvio que, na prática (e especialmente na realidade brasileira), essa é uma grande utopia; de qualquer forma, a Maçã tem toda a capacidade de oferecer uma experiência mais simples e acessível para todos os usuários, mesmo aqueles que tenham apenas uma Apple TV ou um iPad de entrada, por exemplo.

Por fim, seria ótimo ver a Apple superar também alguns desafios técnicos adicionais, inerentes ao streaming esportivo. Cito um que, ao menos na minha experiência, é muito determinante: o atraso das transmissões ao vivo pela internet. Especialmente em jogos muito importantes, como finais, sempre prefiro assistir à partida pela TV (mesmo que isso signifique uma qualidade menor), pois sei que optar pelo streaming significará ouvir gritos de “gol” e afins muito antes de vê-los acontecer na tela. Por óbvio, este não seria um problema se todos estivessem assistindo à partida pela internet, mas sabemos que essa não é a realidade — e, portanto, seria ótimo vermos algum tipo de tecnologia que elimine (ou ao menos reduza ao máximo) esse atraso, por mais que as soluções para isso não sejam triviais, tecnicamente falando. Engenheiros de Cupertino, ao trabalho!

O fato é que a conclusão desta coluna é a mesma de outras que já publiquei por aqui, porém agora sob a ótica dos esportes: as transmissões esportivas estão migrando inexoravelmente para o mundo do streaming, e a Apple tem uma grande oportunidade de abocanhar uma posição de destaque nesse universo. Eddy Cue já mostrou que tem o tino para a coisa, e o acordo da MLS foi um excelente primeiro passo. Agora, teremos que aguardar as cenas dos próximos capítulos.

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