Como temos acompanhado, o Google está atualmente envolvido em um caso antitruste movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ, na sigla em inglês) sobre o suposto domínio da empresa no mercado de mecanismos de busca.
Como parte do julgamento, executivos da Apple foram chamados como testemunhas e questionados sobre o que foi dito ser um pagamento anual para o Google continuar sendo o buscador padrão em dispositivos da Apple.
Agora, porém, novas informações divulgadas pelo The Register dão conta de que o valor pago pelo Google à Apple pode ser muito maior do que se acreditava anteriormente — e que o acordo está em perigo.
Segundo dados do analista Bernstein, estima-se que o Acordo de Serviços de Informação (Information Services Agreement, ou ISA) entre a Apple e o Google esteja hoje na casa dos US$18 bilhões a US$20 bilhões, o que representa de 14% a 16% dos lucros operacionais anuais da Apple.
Isso é cerca do dobro do que o próprio DoJ estimou, de modo que o acordo está sendo apresentado como um exemplo do comportamento antitruste de que o Google é acusado. Consequentemente, Bernstein acredita que existe a possibilidade de os tribunais federais decidirem contra o Google e forçá-lo a rescindir o seu acordo de busca com a Apple.
No entanto, mesmo com um suposto encerramento desse acordo de US$20 bilhões com o Google, a medida provavelmente não será onerosa para a Apple. Isso porque haveria pouco que impedisse a Maçã de fazer um acordo semelhante com outra empresa de buscas.
A Apple não comentou publicamente sobre quanto é paga pelo Google. No entanto, Eddy Cue disse durante o seu depoimento que usa o Google como o mecanismo de busca padrão “porque a Apple sempre pensou que era o melhor”.
CEO do Google tentou barrar acordo
Mais revelações dos bastidores sobre a parceria entre a Apple e o Google para tornar o serviço de busca o padrão do Safari indicam que CEO1 da Alphabet, Sundar Pichai, expressou preocupações quanto aos termos do acordo entre as duas empresas, especialmente porque (à época em que o acordo foi fechado) não havia opção de escolha sobre o mecanismo de busca usado no navegador da Maçã.
De acordo com a Bloomberg, mais de uma década antes de se tornar o diretor executivo da Alphabet — em 2007 —, Pichai enviou uma série de emails para os cofundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, demonstrando preocupação quanto à decisão da empresa de simplesmente pagar à Apple para ser a opção de pesquisa padrão do Safari.
Pichai, que na época fazia parte da equipe responsável pelo Chrome, alertou que o Google deveria incentivar a Apple a incluir o Yahoo como uma opção de escolha fácil (como em um menu suspenso). Para ele, simplesmente deixar o Google como o único provedor de pesquisas do navegador não seria nem bom para a imagem da empresa, nem uma boa experiência para os usuários.
O executivo, como bem sabemos, foi vencido em sua tentativa. Até hoje, para alterar o navegador padrão do Safari no iOS e no iPadOS, é necessário ir aos Ajustes dos sistemas e escolher entre as opções previamente disponibilizadas pela Apple — o que vai de encontro à ideia de Pichai de facilitar essa alternância, visto que nem mesmo dentro do app a opção está disponível.
Os emails foram usados como prova contra o Google no processo antitruste em curso. Joan Braddi, uma das principais responsáveis pelo acordo com a Apple e atual vice-presidente de parcerias de produtos do Google, foi uma das pessoas questionadas sobre as mensagens.
Ela foi perguntada, inclusive, se o acordo é tão vantajoso a ponto de valer a pena injetar dinheiro em uma grande concorrente como a Apple. Braddi afirmou que a parceria não impõe limites sobre a forma como a Maçã usa o dinheiro, mas destacou ter “certeza” de que a empresa o usou para melhorar o iOS — concorrente direto do Google no mercado de sistemas operacionais mobile.
Braddi ainda falou sobre uma série de alterações propostas pela Apple para o acordo ao longo dos anos. Em 2014, por exemplo, as empresas acordaram que a Maçã poderia adotar outros mecanismos como padrão em alguns países — o que acontece atualmente na Rússia, na China e na Coreia do Sul.
Essa alteração, segundo ela, demorou 17 meses para ser costurada, pois o Google estava preocupado com a possibilidade de a Apple direcionar buscas para outras empresas (como Amazon ou Yelp) em troca de receita adicional. A ideia só vingou porque o Google propôs uma cláusula que obrigou a Apple a usar o mecanismo de busca de forma “substancialmente semelhante” à que fazia anteriormente.
Veremos como tudo isso influenciará no julgamento do Google e quais outras revelações virão à tona…
via MacRumors