O melhor pedaço da Maçã.
Diego Thomazini / Shutterstock.com
Logo do Paramount+ em um iPhone

Apple e Paramount? O futuro do streaming parece cada vez mais com a TV a cabo

Quando as plataformas de entretenimento via streaming começaram a estourar, parecia que qualquer conversa sobre o tema com seus amigos se transformava rapidamente num comercial da Polishop: as cenas em preto-e-branco eram dos planos de TV a cabo, caríssimos, complexos, com contratos incompreensíveis, cheios de intervalos comerciais e comercializados num quase-monopólio que deixava o consumidor com pouquíssimas opções.

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Já as cenas coloridas, das plataformas de streaming em si, representavam um futuro brilhante: sem contratos de fidelidade! Sem comerciais! Preços baixos! Apenas escolha o que você quer assistir e pague pelo tempo que quiser, sem compromisso! O futuro é lindo e promissor! Morra, SKY! E viva a Netflix!

Cerca de uma década depois, os horizontes já não parecem assim tão verdejantes. Sim, a TV a cabo segue agonizando, mas os serviços de streaming estão cada vez mais caros, numerosos e com características estranhas — alguns oferecem planos mais baratos com comerciais, enquanto outros coíbem o compartilhamento de senhas para evitar até que você assista aos conteúdos fora de casa (ou seja, dane-se o “assista onde quiser”). E olha que eu nem comecei a falar das plataformas que jogam filmes completos, já prontos, no lixo para economizar alguns milhões de dólares em impostos.

Enquanto isso, os serviços menos populares lutam para sobreviver do jeito que podem. E é justamente nesse contexto que chegou, na semana passada, um rumor de que o Apple TV+ e o Paramount+ estariam considerando unir suas forças, oferecendo um pacote único com os dois serviços por um preço mais baixo do que se pagos separadamente.

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Este movimento (caso confirmado, claro) não é novo no universo do streaming. A Amazon, por exemplo, já se tornou uma espécie de marketplace dos conteúdos audiovisuais, colocando na mesma interface (de forma deveras confusa, devo dizer) conteúdos do Prime Video e de uma série de plataformas parceiras, como Telecine, MUBI, MGM e o próprio Paramount+. Isto é, se você vê alguma coisa que lhe interessa na tela inicial, não necessariamente basta ser assinante do Prime para apertar o play e começar a assistir — talvez você tenha que pagar uma taxa adicional. Soa familiar?

Sendo justo, a própria Apple já tentou unir todas as plataformas de streaming num mesmo lugar… e falhou. Num mundo ideal, o aplicativo Apple TV seria o lugar onde usuários reuniriam todas as suas assinaturas e as fontes de conteúdo conviveriam em perfeita harmonia, passando recomendações inteligentes para cada pessoa, dando uma maior chance de explorarmos as vastas bibliotecas de cada serviço e organizando tudo numa interface simples e sem pegadinhas — o que você está vendo é o que você pode assistir, basicamente.

Na prática, entretanto, o mundo maravilhoso do Apple TV caiu por terra rapidamente. Uma razão para isso é a guerra cada vez mais acirrada no mercado audiovisual: a Netflix, por exemplo, nunca aceitou integrar seus conteúdos aos recursos do aplicativo (talvez por não querer compartilhar seus dados com a Maçã).

Smart TV da LG com o app Apple TV
Responda rápido: que Apple TV é esse (ou essa)?

Mas também podemos culpar a inépcia da própria Apple nesse segmento, já que tudo que envolve a marca Apple TV é uma tremenda confusão — sério, se você precisa de um guia para explicar o que é o Apple TV, a Apple TV e o Apple TV+, seu departamento de marketing está fazendo algo errado. E olha que nem começamos a falar da experiência terrível que é tentar encontrar algo para assistir no aplicativo: até você descobrir se aquele filme ou série está disponível no Apple TV+, ou em alguma outra plataforma que você não assina, ou se apenas alugando/comprando de forma avulsa… bom, até lá, você provavelmente já encontrou alguma coisa melhor para fazer.

O dinheiro fala

De qualquer forma, sabemos que a reorganização do mundo do streaming não tem nada a ver com interfaces mal pensadas ou excesso de opções. Tudo tem a ver, no fim das contas, com dinheiro.

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Mais precisamente, está ficando cada vez mais evidente que o modelo no qual as gigantes (Netflix, Amazon, Disney, Warner, Apple e companhia limitada) apostaram simplesmente não é sustentável a longo prazo. Fazer cinema e TV, especialmente nos padrões de Hollywood, é um negócio caríssimo, e nem uma horda incontável de assinantes pagando US$10-15 mensais seria capaz de sustentar esse ritmo de gastança.

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Até recentemente, as plataformas de streaming surfaram no fato de que estavam na crista da onda: eram as queridinhas do público (lembre dos parágrafos iniciais deste artigo), o futuro do entretenimento, a salvação do cinema. O mercado financeiro gostava muito disso, e respondia com rodadas de investimento cada vez mais polpudas. O regime de engorda das plataformas de streaming não foi estimulado meramente pelo interesse público, e sim pela velha e boa especulação financeira — era a lógica das Big Techs chegando à indústria audiovisual.

O problema é que Hollywood fica muito longe de Wall Street — e, ao contrário das Big Techs, a indústria audiovisual não nasceu sob esse tipo de lógica financeira e (ainda?) não se adaptou a ela. O resultado? Agora, que a paixão inicial arrefeceu e as plataformas de streaming começam a sentir a hostilidade do público, tudo precisará ser repensado. E parte deste “repensamento” tem a ver com, adivinhem, readotar práticas que pareciam coisas do passado, como anúncios, pacotes promocionais, preços mais altos e contratos mais limitantes.

No caso do rumor Apple/Paramount, a estratégia é um simples cálculo de sobrevivência: de acordo com dados da Antenna Group trazidos pela Forbes, as duas plataformas atualmente têm os churn rates1Taxa de rotatividade, que nesse caso indica a quantidade de clientes que cancelam o serviço. mais altos do segmento, em torno de 7% — isto é, os consumidores simplesmente não veem vantagem em pagar e continuar pagando pelo Apple TV+ e pelo Paramount+ (especialmente após o aumento recente de preços, presumo eu). Por isso, uma oferta especial unindo os dois serviços por um preço mais aceitável poderia ser mais interessante aos olhos do consumidor.

Obviamente, a proposição não é apenas financeira: tanto a Apple quanto a Paramount têm catálogos, digamos, complementares — enquanto a primeira aposta apenas em conteúdo original, focado mais em qualidade do que quantidade, a segunda tem um enorme catálogo de filmes, séries e programas já existentes ou licenciados, além de um pé importante no universo dos esportes (no Brasil, por exemplo, o Paramount+ transmite a Libertadores e a Sul-Americana, dois dos torneios mais populares do país).

Portanto, seja qual for o resultado deste rumor, o fato é que as peças do tabuleiro estão sendo mexidas e apenas aqueles com maior capacidade de adaptação conseguirão sobreviver. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.

Notas de rodapé

  • 1
    Taxa de rotatividade, que nesse caso indica a quantidade de clientes que cancelam o serviço.

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