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“Manhunt” é bem-sucedida ao combinar épico histórico com uma história íntima e pessoal

Se uma parte do público tem certa resistência a filmes ou programas de televisão históricos, baseados em grandes acontecimentos do passado, é porque existe uma certa linhagem nesse tipo de produção que, digamos, pode torcer alguns narizes: aquele tom pomposo, excessivamente teatral, com falas e entonações que indicam claramente que aqueles atores sabem que estão falando algo importante e que entrará para os livros de história. Talvez este seja um chamariz para você, mas, no geral, trata-se de um elemento fatal para a chamada suspensão de descrença.

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É por isso que “Manhunt” (ou “Último Ato”, na tradução brasileira) é um pouco diferente do que se poderia imaginar: deixando de lado a solenidade excessiva dos épicos históricos, a nova minissérie do Apple TV+ — que estreou na última sexta-feira (15/3) com dois dos seus sete episódios já disponíveis — opta por uma escala menor, mais íntima, que nem por isso deixa de tratar da complexa trama política por trás do seu enredo ou da magnitude histórica dos eventos retratados.

A premissa da minissérie já foi divulgada aos quatro ventos, mas aí vai um breve lembrete: “Manhunt” acompanha os dias que se seguiram ao assassinato de Abraham Lincoln, em 1865, centrando-se no jogo de gato e rato entre Edwin Stanton (Tobias Menzies) — amigo pessoal e Secretário de Guerra de Lincoln durante a Guerra Civil Americana — e John Wilkes Booth (Anthony Boyle), assassino do presidente.

Ao mesmo tempo, a narrativa da série — baseada no livro de mesmo nome do historiador James L. Swanson — se debruça sobre as implicações políticas do assassinato, trazendo à tona uma possível conspiração dos Confederados contra o líder da União, e faz uma análise sobre a vitória dos antiescravocratas sob a figura de Mary Simms (Lovie Simone), uma mulher que já fora escravizada e, ao longo da história, tem uma participação na fuga de Wilkes Booth e no seu posterior julgamento.

Parece muita coisa? Então coloque aí também uma série de flashbacks que exploram a relação entre Stanton e Lincoln (aqui interpretado por Hamish Linklater, sob uma inevitável camada de próteses), bem como um foco no calvário da primeira-dama Mary Todd Lincoln (Lili Taylor) após o assassinato do marido.

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Tal mistura de elementos poderia se provar fatal em mãos menos experientes, mas a criadora, showrunner e principal roteirista da série, Monica Beletsky, faz tudo parecer fácil: com uma série de pequenas obras-primas no currículo (ela participou da sala de roteiristas de “Fargo” e de “The Leftovers”, por exemplo), Beletsky alça seu primeiro grande voo solo com louvor, imprimindo uma carga dramática aos acontecimentos que coloca tudo num plano deveras pessoal.

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Isso evita, como mencionei anteriormente, um dos maiores problemas dos épicos históricos, que é o de colocar um painel de vidro entre os personagens e a audiência, afastando-os emocionalmente de nós e fazendo com que várias narrativas se pareçam mais com um museu filmado do que com uma jornada de seres humanos de carne, osso e sentimento.

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Felizmente, não é o caso aqui: o roteiro de Beletsky e seus coescritores atinge o equilíbrio certo entre drama, rigor histórico e análise política, colocando suas peças como num tabuleiro de xadrez cerebral que, como todo bom épico baseado em acontecimentos reais, utiliza o passado para refletir sobre o presente — não é por acaso, afinal de contas, que em vários momentos a minissérie fala sobre tentativas de golpe e sobre o perigo de tolerar comportamentos antidemocráticos em democracias.

Nesse sentido, grande parte da contribuição para o resultado positivo está em duas performances irretocáveis dos protagonistas da minissérie. Tobias Menzies já deve estar muito confortável em interpretar figuras históricas e/ou de época — ele encarnou o Príncipe Philip nas terceira e quarta temporadas de “The Crown” e o ardiloso Capitão Randall em “Outlander”; aqui, o ator finalmente pisa no centro do palco como protagonista e mostra a que veio logo no primeiro episódio, imprimindo em seu Edwin Stanton um idealismo inabalável e uma fidelidade aos seus compromissos a Lincoln. Assistir ao personagem tentar equilibrar tantos pratos em apenas duas mãos — encontrar o assassino do seu amigo, controlar um cenário político descambando para o caos e cuidar da sua própria família — é uma das partes mais fascinantes da série, e muito por causa de Menzies.

Entretanto, o maior destaque na frente das câmeras fica por conta de Anthony Boyle. O ator, que parece ter caído nas graças da Apple — ele já foi uma das principais figuras de “Masters of the Air”, no papel do Major Harry Crosby —, encara com bravura o tremendo desafio de interpretar um dos vilões mais marcantes da história ocidental, sem nunca descambar para o overacting ou a paródia. Seu John Wilkes Booth é desconcertantemente humano, a ponto de nos fazer acreditar que ele realmente acreditava que a história o transformaria num herói; por outro lado, a narrativa, claro, nunca deixa de nos lembrar a gravidade dos seus atos e de sugerir possíveis forças maiores por trás dele. 

O elenco de apoio também presta um excelente serviço, com destaque para dois atores frequentemente associados à comédia — Patton Oswalt (como o investigador Lafayette Baker) e Matt Walsh (como Samuel Mudd, um dos comparsas de Wilkes Booth) — que interpretam papéis sérios, sem nenhuma dose cômica. Já Linklater tem possivelmente o papel mais ingrato da série (até porque, bom, é inevitável compará-lo à performance histórica de Daniel Day-Lewis no filme de Steven Spielberg, e ele sempre sairá perdendo), mas seu Lincoln consegue escapar ileso da madame-tussaudização, se me permitem o neologismo, que acomete tantos atores que interpretam figuras extremamente famosas.

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No fim das contas, “Manhunt” — ao menos nos seus dois primeiros episódios, que são os que estamos avaliando neste texto — diz a que veio, combinando um complexo jogo de poder com análise histórica e drama pessoal. Se você veio pela aula de história, fique pelos personagens, pois eles são a melhor coisa que Beletsky, seu elenco e equipe têm a oferecer.

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