Uma nova reportagem da Bloomberg resgatou detalhes no mínimo revoltantes sobre o processo de reciclagem de produtos como o iPhone pela Apple — os quais chegam até a empresa por meio de programas como o Apple Trade-In (ainda indisponível no Brasil), que dá descontos na compra de um novo aparelho caso você dê o seu modelo antigo em troca.
De acordo com o veículo, até alguns anos atrás, a Apple pagava para uma empresa canadense chamada GEEP Canada Inc. receber esses dispositivos, destruí-los e mandar os seus preciosos materiais para a reciclagem. Ao todo, estima-se que a Maçã tenha enviado cerca de 530.000 iPhones, 25.000 iPads e 19.000 Apple Watches para a sua inevitável “morte”.
Acontece que boa parte desses dispositivos ainda estavam em perfeitas condições de funcionamento, o que fez com que algumas pessoas dentro da GEEP passassem a se apropriar indevidamente de alguns modelos para vendê-los no mercado cinza — algo expressamente proibido pelo contrato firmado entre as duas companhias, o qual exige que todo aparelho enviado para reciclagem seja completamente destruído.
Esses dispositivos, é claro, começaram a fazer falta, o que motivou a Apple a conduzir uma auditoria surpresa nas instalações da sua parceira. E foi nessa que a Maçã encontrou uma série de irregularidades, as quais culminaram num total de 99.975 iPhones desaparecidos.
Muitos desses aparelhos, segundo a Apple, foram reativados por novos usuários na China, o que a motivou a processar a GEEP pela quebra de contrato e a pedir CA$31 milhões em ressarcimento. A empresa canadense, por sua vez, negou as acusações e culpou três antigos funcionários pelo roubo/ desvio dos iPhones, além de ter aberto processos contra com um deles.
Reduzir, reciclar e… destruir?
Curiosamente, nenhuma dessas ações progrediram desde que foram abertas na justiça canadense em 2020 — fato que, ainda de acordo com a reportagem, teria um motivo tão menos nobre quanto o próprio desvio desses dispositivos. Segundo as informações, caso nada seja feito, o processo aberto pela Maçã será descartado em janeiro de 2025, enquanto a ação aberta pela GEEP contra seus empregados irá por água abaixo em agosto deste ano.
Mais especificamente, quando esse caso veio à tona — quase quatro anos atrás — por meio de uma matéria do veículo canadense The Logic, vários “observadores da indústria” teriam ficado chocados — não só pelos quase 100 mil iPhones roubados, mas também (e principalmente) pelo fato de que a Apple estava “jogando fora” aparelhos em bom estado de conservação, os quais poderiam ser recondicionados e colocados de volta no mercado.
Essa descoberta não pegou nada bem para a Apple, que havia acabado de divulgar os seus planos para se tornar 100% neutra em carbono até 2030. Na mesma ocasião, a Apple garantiu em um relatório ambiental que a reutilização de dispositivos era a sua “primeira escolha”.
Em outras palavras, a gigante de Cupertino teria jogado esse caso para debaixo do tapete justamente para evitar que essa contradição ganhasse contornos mais graves para a empresa e colocasse sua imagem de marca pró-meio ambiente em jogo. Algumas pessoas também poderiam argumentar que a empresa estaria destruindo esses dispositivos usados para aumentar a demanda por iPhones/iPads/Watches novinhos em folha — o que obviamente é mais lucrativo para a companhia.
Procurada pela Bloomberg, a Apple não quis comentar os detalhes desse caso, mas garantiu que muita coisa mudou desde então:
Um porta-voz da Apple disse que a reciclagem de eletrônicos hoje avançou ‘aos trancos e barrancos’ desde que o processo GEEP foi aberto, e que a empresa cria produtos duradouros que muitas vezes atendem a vários proprietários. ‘O programa de reciclagem líder do setor da Apple oferece aos clientes maneiras fáceis de trazer seus dispositivos de volta para análise para recondicionamento e reutilização’, disse o porta-voz.
Que papelão, hein?! 😨