A compra e venda de artigos usados pela internet se tornou uma das formas mais comuns de adquirir produtos da Apple no Brasil. Aplicativos de negociação de usados, como a OLX, o Mercado Livre e o Enjoei, dispararam de popularidade durante a pandemia e ainda são frequentemente utilizados por quem busca economizar dinheiro na compra de um novo eletrônico ou, quem sabe, ganhar uma renda extra se desfazendo de seus modelos antigos.
O problema é que toda vez que o público se acostuma com alguma tecnologia para facilitar seu cotidiano, criminosos encontram formas de abusar dessa confiança para aplicar golpes perigosos que custam caro e, em muitos casos, não podem ser revertidos.
Listas de especialistas como a ExpressVPN apontam diversos golpes digitais que cresceram em 2024, e a situação tende a piorar. Por isso, separamos os quatro golpes mais comuns que frequentemente afetam quem negocia produtos da Apple em plataformas online. Confira!
Golpes envolvendo o sistema Pix
A primeira categoria de golpe extremamente comum em plataformas de usados envolve o sistema de pagamentos Pix, e afeta quem deseja vender seu aparelho usado.
Introduzido há alguns anos pelo Banco Central, o uso do Pix já superou todas as outras modalidades de pagamento no país, principalmente graças à sua versatilidade, agilidade e ausência de taxas. No entanto, essa habitualidade com as transações Pix pode criar hábitos automáticos que se tornam alvo para golpistas.
As táticas mais comuns são:
- Comprovante falso: usando aplicativos de terceiros ou algumas plataformas web, o golpista é capaz de gerar rapidamente uma imagem ou um documento PDF de um comprovante Pix com o valor correto da negociação, chave Pix do vendedor e dados do comprador — no entanto, o comprovante é falso e não representa uma transação real. Para convencer ainda mais a vítima, o golpista pode enviar um Pix verdadeiro com valor baixo para que a notificação no smartphone aumente a ilusão de que o comprovante é real.
- Pix agendado: diversos aplicativos bancários possuem suporte ao agendamento de transações Pix, permitindo que o cliente marque um valor a ser enviado em uma data futura. Nestes casos, um comprovante de agendamento é gerado automaticamente, mas o dinheiro não foi enviado e a transação pode ser cancelada a qualquer momento — sem garantias.
Em ambos os casos, o golpista espera que a vítima seja distraída ou apressada o suficiente para que não verifique manualmente se o valor caiu em sua conta, confiando no comprovante mostrado rapidamente na tela ou na captura de tela enviada.
Por isso, é fundamental conferir que todo o valor real já está em sua conta antes de encerrar a negociação e entregar o produto. As transações Pix são imediatas, ou seja, não há desculpa que justifique a falta do dinheiro uma vez que um comprovante seja apresentado.
Bateria e tela de terceiros
A compra de um aparelho usado exige que, em troca de um valor reduzido, o comprador esteja disposto a enfrentar possíveis defeitos cosméticos ou partes desgastadas pelo uso. Arranhões na carcaça ou tela, bateria com duração inferior ao produto novo e outros detalhes são parte da escolha de um aparelho usado — e com frequência são explicados pelos vendedores no campo de descrição do produto.
No entanto, um golpe extremamente comum em aparelhos da Maçã — especialmente os iPhones — está na troca de um componente original por um modelo falsificado de baixo custo, sem que essa informação seja repassada ao comprador e sem que o preço seja ajustado para refletir este problema.
A bateria é o componente mais frequentemente associado a essa prática. Como o reparo oficial tem custo elevado e o valor de iPhones com a bateria desgastada é bastante reduzido, os vendedores podem instalar baterias de terceiros que possuem firmware modificado para simular uma bateria original com alta capacidade.
Aparelhos com a bateria modificada possuem autonomia baixa, pouca durabilidade e até mesmo problemas de aquecimento que podem, em casos raros, levar a um risco de incêndio.
As telas de alta definição utilizadas pela Apple também implicam em um alto custo para reparo caso sejam danificadas — quiosques de reparos clandestinos são capazes de utilizar painéis LCD 1Liquid crystal display, ou display de cristal líquido. ou OLED 2Organic light-emitting diode, ou diodo emissor de luz orgânico. de baixa qualidade no lugar do modelo original, às custas de baixa fidelidade na reprodução de cores, brilho reduzido, taxa de atualização menor e possíveis incompatibilidades com atualizações do iOS.
Não há truque direto que permita detectar um componente falso em um iPhone. No entanto, alguns indicativos podem despertar suspeita nos compradores: parafusos da carcaça com marcas ou sinais de que já foram abertos, telas que perdem brilho ao serem vistas em alguns ângulos ou cores desbotadas, recursos do sistema como True Tone desabilitados ou bateria que perde porcentagem rapidamente ao testar o dispositivo.
É interessante, quando possível, levar outro aparelho de modelo equivalente — mesmo que emprestado — para comparar o brilho da tela e a fidelidade de cores, além do gasto de bateria esperado ao assistir um vídeo.
Aparelhos com Buscar (Find My) bloqueado e IMEI restrito
Aparelhos da Apple podem ser protegidos por duas camadas de segurança que buscam reduzir o impacto do roubo e furto de eletrônicos. O primeiro está disponível em todo o Brasil para qualquer smartphone — o bloqueio de IMEI 3International mobile equipment identity, ou identificação internacional de equipamento móvel.. O IMEI é um código único gerado para cada aparelho que se conecta às redes de telefonia móvel e que permite sua identificação pela rede.
No Brasil, com o auxílio de um boletim de ocorrência, vítimas podem registrar um IMEI como produto de roubo, e por consequência o dispositivo será banido e não poderá ser utilizado nas operadoras de telefonia. Além disso, operações policiais podem solicitar o IMEI e apreender aparelhos roubados.
Além desse sistema, os aparelhos da Apple atrelados a um ID Apple possuem proteção Buscar (Find My) que, em conjunto à Secure Enclave dos chips da Apple, impedem que o aparelho seja utilizado e ativado sem a senha do dono original.
Apesar de sites e anúncios falsos na internet prometerem a remoção do bloqueio, não há possibilidade de remoção e uso do aparelho sem autorização do dono da conta ou apresentando uma nota fiscal e documento pessoal em uma loja Apple.
O golpe consiste na venda de aparelhos roubados como se fossem usados pelo próprio vendedor. Durante a negociação, o golpista afirma que o aparelho está descarregado e não pode ser testado ou que não possui tempo para permitir que o comprador tente ativar o aparelho, permitindo apenas que verifique rapidamente a tela e outros detalhes.
Após a compra, o vendedor desaparece e a vítima possuirá um aparelho sem utilidade e que não possui valor de revenda. É fundamental, portanto, verificar rapidamente o IMEI no portal GOV.BR e prosseguir com a ativação inicial até o momento em que o aparelho solicita o ID Apple, garantindo que não há nenhum bloqueio antes de transferir o dinheiro.
Email de confirmação falso
Por fim, um golpe que acumulou um grande número de vítimas ao longo do último ano tem como principal alvo vendedores que costumam anunciar com frequência, mas não são profissionais, ou seja, pessoas que costumam utilizar os apps para vender seus usados mas ainda não possuem um sistema metódico para envios e confirmações.
O golpe consiste em negociar a compra de um produto anunciado em aplicativos como a OLX e, quando tudo estiver combinado, solicitar que o vendedor crie um anúncio em uma plataforma diferente como o Mercado Livre.
O golpista afirmará que precisa utilizar saldo guardado na plataforma, ou que prefere o sistema de envios do outro site e que comprará pelo anúncio mesmo que haja uma taxa adicional de envio. Assim que a vítima prepara o anúncio e envia para o suposto comprador, o golpista utiliza uma plataforma online para enviar emails que simulam os emails oficiais de confirmação de venda do Mercado Livre.
O email recebido usará imagens copiadas dos emails oficiais, texto legível e em bom português, e a afirmação de que o produto foi comprado e deve ser enviado com urgência para que o dinheiro seja recebido.
Em muitos casos, o email também incluirá uma etiqueta dos Correios já preenchida com o endereço. A ideia é que o vendedor acredite no email e faça o envio, quando na realidade nenhuma compra foi realizada e a mensagem não é oficial da plataforma.
O principal mecanismo para se proteger desse golpe é prestar atenção na conta de email que enviou a mensagem — ignore o nome do contato e verifique diretamente o email. Caso o endereço seja suspeito, utilize caracteres incomuns ou não seja habitual, não abra anexos e não responda à mensagem.
Além disso, sempre verifique na plataforma onde o anúncio foi realizado se há, de fato, uma compra pendente e quais são as etapas sugeridas pela plataforma para prosseguir com sua venda. Não crie cadastros ou faça anúncios em plataformas que nunca tenha utilizado antes.
Com essas dicas, a compra e a venda de aparelhos Apple usados pode ser uma forma mais acessível de comprar seu novo dispositivo, conseguir dinheiro para reduzir o custo do upgrade para o novo modelo, ou pagar suas despesas.
Notas de rodapé
- 1Liquid crystal display, ou display de cristal líquido.
- 2Organic light-emitting diode, ou diodo emissor de luz orgânico.
- 3International mobile equipment identity, ou identificação internacional de equipamento móvel.
