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Tim Cook na WWDC20

A WWDC mais importante da carreira de Tim Cook

Se você gosta de tecnologia, provavelmente assistiu aos eventos da Microsoft, do Google e da OpenAI nas últimas semanas. E, se você não teve tempo, eu recomendo fortemente que procure assistir.

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Primeiro, porque todos foram excelentes eventos presenciais, formato que eu já explorei aqui que faz cada vez mais falta em Cupertino. Assistindo especialmente ao evento Copilot+ PCs da Microsoft na segunda-feira (20/5) e à keynote da Microsoft Build no dia seguinte, os vídeos recentes da Apple parecem ainda mais formulaicos, insossos e artificiais. Bem produzidos? Sem dúvida. Mas chatíssimos. E todos iguais.

Segundo, porque se antes a Apple já parecia perigosamente defasada quando o assunto era a adoção de recursos de inteligência artificial (IA) generativa nos seus sistemas, depois dos eventos das últimas semanas, ela parece irremediavelmente retardatária.

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Sem tempo? Aqui vai um resumão da abertura da Microsoft Build.

O efeito Nadella

É inegável que o desempenho de Tim Cook como CEO 1Chief executive officer, ou, diretor executivo. da Apple ao longo dos últimos 13 anos seja algo praticamente sem precedentes. Sob seu comando, a empresa cresceu mais de 1.200% e viu seu faturamento anual saltar de US$108,2 bilhões 2Ou US$156,5 bilhões em 2012, primeiro ano integralmente com Cook como CEO permanente. para US$383,29 bilhões em 2023. E olha que isso foi uma queda em relação ao recorde histórico de US$394,3 bilhões de 2022.

Mais do que isso, Cook recebeu o bastão diretamente das mãos do cofundador da Apple, o que adicionou uma pitada de pressão e de expectativa à coisa toda. Mas ele entregou, e com sobra. É verdade que muitas pessoas defendem que a Apple tenha estagnado sob Tim Cook nos últimos anos? Sim. Mas isso não desfaz a magnitude do seu trabalho desde 2011. As duas coisas podem ser verdade.

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Já com Satya Nadella, não houve a pressão de substituir um cofundador. Ele sucedeu o pateta Steve Ballmer que, além de ter perdido o bonde da era mobile, deixou o comando da Microsoft em 2014 com um valor de mercado 30% menor para a empresa do que quando ele a assumiu, em 2001.

Por outro lado, isso tornou o desafio de Nadella ainda maior, já que havia um estrago enorme a ser revertido. E ele o reverteu. Sob sua tutela, o Windows como produto passou a ocupar o banco do passageiro, dando lugar às áreas de nuvem e de serviços 3O que não foi uma grande surpresa, já que Nadella vinha liderando com sucesso o negócio de servidores e ferramentas da Azure antes de se tornar CEO, além de ter passado anos como vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da divisão de serviços online..

Os resultados não demoraram para chegar. Graças ao mantra de “cloud-first, mobile-first”, Nadella precisou de poucos trimestres para recuperar todo o tempo e valor perdidos durante os 13 anos de comando de Ballmer, dando início a uma valorização que já acumulou 1.070% — crescimento esse, inclusive, mais acelerado que o da Apple (960%) e o da Amazon (920%) ao longo do mesmo período.

Dos muitos acertos de Nadella como CEO 4Aquisições do LinkedIn, do GitHub, da Mojang e da RedHat, migração do Office para assinatura, lançamento do Teams que já faturou mais de US$8 bilhões até hoje… e a lista segue., nenhum foi mais frutífero e consequente do que a aposta na OpenAI em 2019, muito antes de todo o boom da IA generativa e do lançamento do ChatGPT que segue reverberando pelo mercado até hoje.

Se foi sorte ou visão, a essa altura tanto faz. Deve ter sido um pouco de cada. O resultado é o mesmo, e agora ele se chama Copilot+ PC.

O resultado

Na última semana, a Microsoft apresentou a sua visão para o mundo de PCs Windows na era da IA generativa.

Com tecnologias como o Windows Copilot Runtime 5A qual permitirá que múltiplos aspectos do sistema possam interagir de forma nativa e direta com modelos de linguagem compactos e eficientes., e passando por funcionalidades como o Recall 6Que armazenará localmente e de forma criptografada todas as ações do usuário em um banco de dados vetorial (a base do funcionamento de LLMs) para ser recuperado rapidamente por meio de prompts, em um esquema parecido com um motor de busca. e, incluindo as parcerias anunciadas com a Qualcomm, a Intel, a AMD, a Acer, a ASUS, a Dell, a HP, a Samsung e a Lenovo — para viabilizar PCs que tirem o máximo proveito de tudo isso —, a Microsoft estabeleceu uma expectativa muito, muito alta para si própria e elevou a barra para o resto do mercado quando o assunto é a forma como a IA generativa fará parte da experiência da computação pessoal.

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E isso, é claro, veio depois do evento no qual o Google mostrou como integrará as novas possibilidades proporcionadas pela IA generativa aos seus produtos já existentes, além de ter apresentado ferramentas impressionantes para a geração de imagens, vídeos e música, e modelos cuja janela de contexto de tokens chega a 2 milhões (rumo a tokens infinitos).

Isso sem contar o Project Astra, que confirma o que eu venho dizendo há algum tempo: óculos são o formato padrão para a maioria das interações com LLMs. Além disso, ele também lançou oficialmente, nos Estados Unidos, o AI Overview que, como eu já explorei aqui e aqui, engrossa a lista de mecanismos de busca generativa que vira de ponta-cabeça e coloca em cheque todo o modelo de negócio da web — para o qual não há um plano B.

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Sem tempo? Aqui vai um resumão da abertura do Google I/O.

Já a OpenAI, é claro, chamou a atenção com o modelo GPT-4o e a possibilidade de multimodalidade simultânea (ou, omnimodalidade, daí o sufixo o do modelo), tanto por meio do seu app para smartphone quanto por um app para macOS ou de forma nativa no Windows Copilot.

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Sem tempo? Vale ver o evento inteiro em 2x. Não foi comprido.

Unindo tudo isso à promessa que tanto a OpenAI quanto o Google e a Microsoft vêm fazendo sobre a iminência de agentes (que eu explorei aqui e aqui) para otimizar o poder dos seus modelos, é impossível não fazer a comparação com o que podemos realisticamente esperar da Apple para a WWDC24.

A WWDC do século

Sim, esse subtítulo é um tremendo exagero. Ou será que é mesmo? Digo isso porque, antes dos eventos das últimas semanas, quando refletíamos no que a Apple precisava apresentar na WWDC24, pensávamos em algo como uma Siri equipada com um LLM para tornar-se mais inteligente, ou talvez em funcionalidades como resumo de notas e notícias, transcrição de áudios, sumarização de notificações, ou quem sabe rápidas edições de imagem. E olha que esperar por tudo isso já em 2024 parecia, digamos… otimista demais.

O problema é que, agora, todas essas coisas soam apenas como o mínimo do mínimo que a Apple precisa apresentar na WWDC. E mesmo assim, ela ainda estará atrás.

Ainda mais preocupante é o seguinte: salvo raras exceções, a Apple não costuma apresentar grandes novidades no meio do caminho entre uma grande atualização do sistema e a seguinte. Ela costuma fasear a liberação das novidades ao longo do ano, mas anuncia tudo de uma vez só na WWDC. Isso quer dizer que, se ela não apresentar funcionalidades mais avançadas de IA generativa dentro de duas semanas, nós teremos que esperar até… junho do ano que vem para quem sabe ver coisas assim? Isso é uma eternidade!

Pense na quantidade de novidades que todas as outras empresas já apresentaram em múltiplos eventos desde a última WWDC. Quando o assunto é IA, será que ainda faz sentido planejar o anúncio de novidades para o sistema apenas uma vez por ano, enquanto essas tecnologias evoluem quase diariamente?

Vem aí

Eu tenho um grande amigo que trabalha na Microsoft há mais de 15 anos. Quando eu falo sobre o desempenho abissal de Steve Ballmer como CEO, esse amigo, sempre gentil, me diz que Ballmer era um absoluto apaixonado pelo Windows. É um eufemismo extremamente elegante para dizer que Ballmer foi incapaz de perceber, de aceitar ou de reagir a tempo às mudanças do mercado.

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Outra paixão de Ballmer? Developers, developers, developers, developers.

Olhando para a Apple atualmente, reconheço alguns desses sinais. Por mais que tenha lançado o Apple Watch, os AirPods, o Vision Pro, uma infinidade de serviços e revitalizado os Macs, Tim Cook teve 13 anos para reduzir a dependência que a Apple tem dos iPhones, mas não o fez. Além disso, ele teve o mesmo tempo que a Microsoft e o Google tiveram para dar a devida atenção (e reagir!) às mudanças do mercado, mas também não o fez.

Estamos a poucas semanas do que possivelmente será a penúltima ou até mesmo a última WWDC de Tim Cook. Digo isso porque, em 1º de abril de 2025, ele receberá a última parte de uma bonificação de 1 milhão de ações da Apple, algo que havia sido definido em 2020. Eu não imagino que ele vá ficar no cargo de CEO por muito mais tempo além disso. Não é coincidência que estejamos vendo ressurgirem as matérias sobre sucessão, e que um novo favorito tenha virado notícia no último mês.

Cook tem uma das trajetórias mais brilhantes à frente do que ele fez se tornar a empresa mais valiosa do mundo em tempo recorde. Seu nome está mais do que garantido no panteão do mundo dos negócios. Por outro lado, existe uma pergunta que ainda precisa ser respondida, e talvez seja a mais importante de toda a sua carreira: qual é a Apple que ele deixará para a pessoa que lhe suceder? Uma Apple preparada para lidar com as mudanças ainda maiores que estão por vir, ou uma Apple que, assim como a Microsoft de Ballmer, deixou o futuro escorrer pelas mãos?

Daqui a alguns dias, a gente descobrirá.

Notas de rodapé

  • 1
    Chief executive officer, ou, diretor executivo.
  • 2
    Ou US$156,5 bilhões em 2012, primeiro ano integralmente com Cook como CEO permanente.
  • 3
    O que não foi uma grande surpresa, já que Nadella vinha liderando com sucesso o negócio de servidores e ferramentas da Azure antes de se tornar CEO, além de ter passado anos como vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da divisão de serviços online.
  • 4
    Aquisições do LinkedIn, do GitHub, da Mojang e da RedHat, migração do Office para assinatura, lançamento do Teams que já faturou mais de US$8 bilhões até hoje… e a lista segue.
  • 5
    A qual permitirá que múltiplos aspectos do sistema possam interagir de forma nativa e direta com modelos de linguagem compactos e eficientes.
  • 6
    Que armazenará localmente e de forma criptografada todas as ações do usuário em um banco de dados vetorial (a base do funcionamento de LLMs) para ser recuperado rapidamente por meio de prompts, em um esquema parecido com um motor de busca.

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