“O Twitter voltou?” Essa foi uma das perguntas que mais rodaram as redes sociais ontem — especialmente após diversos relatos de brasileiros que conseguiram acessar o X sem utilizar uma VPN 1Virtual private network, ou rede privada virtual. começarem a surgir —, e foi respondida oficialmente pelo perfil oficial dedicado a relações governamentais internacionais da plataforma, banida do Brasil no início do mês.
De acordo com a empresa comandada por Elon Musk, uma mudança na operadora de rede visando retomar o acesso à infraestrutura utilizada pela empresa para fornecer serviços à América Latina resultou em uma “restauração inadvertida e temporária do serviço [do acesso à plataforma propriamente dito] para usuários brasileiros”.
Embora esperemos que a plataforma fique inacessível novamente em breve, continuamos os esforços para trabalhar com o governo brasileiro para que ela retorne o mais breve possível para o povo brasileiro.
Embora o X não tenha fornecido mais detalhes sobre a mudança, a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint) explicou à imprensa que a rede social transferiu seu tráfego no Brasil para servidores hospedados pela Cloudflare e passou a usar endereços de IP dinâmicos em vez de fixos.
Como os novos endereços mudam constantemente, eles não são tão fáceis de serem bloqueados como os anteriores. Para a Abrint, ao contrário do que o X deu a entender em seu comunicado, a mudança foi proposital, já que os servidores próprios da rede são bem mais eficientes que os de terceiros, como os da Cloudflare.
No início do dia, o furo do bloqueio gerou um certo debate sobre a viabilidade de se restringir o acesso ao X novamente, visto que muitos dos endereços de IP agora utilizados pela rede são compartilhados com outros serviços — como os sites de bancos, do governo e até mesmo os servidores sob os quais o Pix opera.
Durante a noite, no entanto, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou ao UOL que a Cloudfare colaborou com o Brasil e concordou em “isolar” o tráfego do X para que um novo bloqueio fosse possível “sem afetar demais instituições e empresas que utilizam a mesma rede” para suas atividades online.
A agência enviou ontem notificações para 20 mil operadoras e provedores de internet determinando o novo bloqueio, e afirmou esperar que a restrição fosse restabelecida até a manhã de hoje — o que (aparentemente) vem se concretizando, a julgar por relatos de usuários nas redes sociais.
Na manhã de hoje, a Anatel divulgou nota à imprensa detalhando esses desdobramentos e corroborando o entendimento da Abrint de que o restabelecimento do acesso ao X foi intencional:
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informa que, ao longo do dia 18/9, constatou que a rede social X estava acessível a usuários, em desrespeito à decisão judicial proferida pelo Supremo Tribunal Federal.
Com o apoio ativo das prestadoras de telecomunicações e da empresa Cloudfare, foi possível identificar o mecanismo que, espera-se, assegure o cumprimento da determinação, com o restabelecimento do bloqueio.
A conduta da rede X demonstra intenção deliberada de descumprir a ordem do STF. Eventuais novas tentativas de burla ao bloqueio merecerão da Agência as providências cabíveis.
Sinal de recuo?
No comunicado supracitado em que menciona o restabelecimento do acesso ao X no Brasil, chama a atenção o trecho final, no qual a plataforma afirma estar fazendo esforços contínuos para trabalhar junto ao governo brasileiro visando uma volta definitiva da rede no país “o mais breve possível”.
Como destacado pelo jornal O Globo, o X também voltou a bloquear as contas que haviam sido restringidas no Brasil por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) — de certa forma confirmando que a plataforma está mesmo trabalhando para voltar a funcionar no Brasil, pouco menos de um mês após o bloqueio.
Com as multas impostas pagas, graças a um bloqueio judicial nas contas do X e da Starlink (empresa ligada a Elon Musk, proprietário da rede social), a única grande restrição que impediria o restabelecimento do funcionamento da plataforma no Brasil seria a indicação de um representante legal no país.
Antes, no entanto, o X deverá pagar mais uma multa. Por causa do “truque” que permitiu burlar o bloqueio no Brasil, o ministro do STF Alexandre de Moraes multou a empresa (e a Starlink) em R$5 milhões — decisão que, segundo o portal G1, foi publicada como um “edital de intimação”, dada a ausência de um representante legal.
Notas de rodapé
- 1Virtual private network, ou rede privada virtual.