Ocasionalmente, acompanhamos casos em que a Apple é solicitada (ou mesmo forçada) a ajudar a polícia ou a justiça de um determinado país em certas investigações que requerem acesso a dispositivos pessoais.
Novas informações da Forbes, entretanto, citam uma “conferência” que era realizada sob portas fechadas e acontecia por realização da Apple para “discutir as melhores maneiras de usar seus produtos”.
Apelidado de Global Police Summit, o encontro mais recente ocorreu ao longo de três dias, em outubro de 2023, no Apple Park (em Cupertino, Califórnia). Nos últimos cinco anos, porém, ele aconteceu duas vezes.
Há uma percepção generalizada de que a Apple tem um relacionamento combativo com as autoridades policiais depois que a empresa se recusou a ajudar o FBI a hackear o iPhone do atirador nos ataques terroristas de San Bernardino, em 2015. Mas, desde então, [a Apple] aumentou a colaboração com a polícia por meio dessa conferência (…) bem como uma variedade de projetos não relatados anteriormente que ajudam os policiais a usar o iPhone, os Macs, o Apple Vision Pro e o CarPlay.
O executivo Gary Oldham, que liderou a estratégia mundial da Apple para segurança pública e serviços de emergência até agosto passado e esteve à frente do Global Police Summit, disse à Forbes que o primeiro evento ocorreu em 2019, com eventos subsequentes cancelados devido à pandemia da COVID-19, até a conferência de 2023.
Cerca de 50 funcionários de departamentos de polícia de sete países — da Austrália à Suécia — compareceram aos eventos. Entre eles, as agências lançaram e testaram aplicativos para uma variedade de produtos da Apple, do Vision Pro a iPhones e Macs, seja para acesso a dados de vigilância ou para comunicações básicas.
Mas a abordagem da Apple para cortejar os departamentos de polícia estaria mudando. Neste ano, Oldham disse que não conseguiria garantir a realização do evento, mas esperava que se tornasse um evento bienal. Uma semana depois, porém, ele comunicou aos departamentos de polícia da Califórnia que estava deixando a empresa, sem fornecer um motivo. Agora, essas agências esperam que a Apple reconsidere sediar o encontro.
Preocupações com privacidade
O fato de a Apple ter mantido esse trabalho com policiais em segredo indica, segundo a reportagem, que a empresa está ciente de que fornecer tecnologia para operações de vigilância policial está em desacordo com seu marketing a favor da privacidade.
Nesse sentido, essas informações geraram preocupações entre especialistas da área, como o analista sênior de políticas da Electronic Frontier Foundation (EFF), Matthew Guariglia:
Essas empresas querem ter o bolo e comê-lo. Elas querem obter a reputação de que protegem os dados dos usuários e farão isso às custas de seu relacionamento com a polícia e, ao mesmo tempo, reconhecer que criar tecnologia para a polícia é uma indústria multibilionária.
Fato é que, mesmo que a Apple cancele o evento permanentemente, os departamentos de polícia parecem interessados em continuar (e até aumentar) o uso das ferramentas da empresa nas suas atividades e técnicas.