Nestes dias não se fala em outra coisa: é Chrome OS pra cá, é Chrome OS pra lá, as pessoas estão testando a novidade virtualizando-a, alguns adoraram seu conceito, outros detestaram. Tudo muito lindo, mas saiba que, enquanto a gigante de Mountain View só vai materializar seu sistema operacional em meados do ano que vem, já há um projeto bem similar no mercado: o litl.
Ao visualizar este webbook (ótimo, mais um termo para “computador”) você pode pensar que está diante de apenas mais um portátil, só com o diferencial de que sua tela se abre até quase fechar-se ao contrário. Mas não: enquanto o exterior do litl é praticamente lugar-comum, é em suas entranhas que estão os diferenciais.
Pode esquecer um disco rígido para salvar torrents, por exemplo, pois o litl funciona integralmente à base da computação na nuvem, ficando apenas o litl SO armazenado em seus SSD de 2GB. O restante do hardware é apenas o mínimo necessário para um computador doméstico: processador Atom de 1,6GHz (só para renderizar sites), chip gráfico com suporte a H.264 e saída 720p, câmera, microfone, dois alto-falantes, 1GB de RAM, Wi-Fi 802.11b/g, entrada para headphones, USB 2.0 e dois receptores de infravermelho para usar o controle remoto que o acompanha (haha, novo MacBook não tem nenhum!).
A tela de 12 polegadas é tão brilhante que praticamente pode ser usada à luz do sol, além de ter um impressionante ângulo de visão de 178º (!). A empresa tem tanta confiança na qualidade de seu produto que oferece uma garantia de dois anos (o dobro do resto do mercado), assumindo que o litl “nunca quebra”. Tirar praticamente todas as partes móveis deve ter ajudado pra isso…
Ah, e um detalhe: sabe a tecla Caps Lock (que só trolls usam deliberadamente, PARA ESCREVER COMENTÁRIOS)? Ela não existe no litl. Yay! Se bem que puseram o escape no lugar dela, então pressioná-la acidentalmente será infinitamente mais frustrante. Também pode dar adeus às teclas F#. Ninguém é perfeito. :-/
Já falamos em hardware (a parte que você chuta): hora de tratarmos do software (a parte que você xinga). Como já mencionei, o litl OS é integrado ao hardware e funciona inteiramente baseado na internet: uma visão geral do sistema lembra bastante a função Top Sites do Safari 4, exibindo até 12 “cartas”, entre brancas, que representam páginas da web renderizadas por uma engine da Mozilla, e pretas (ou “canais”), os widgets de notícias, relógio e previsão do tempo. Estes mudam conforme você usa o litl, se em modo laptop ou em modo cavalete (dobrado ao contrário).
Certamente a coisa vai ficar mais interessante se vários sites aderirem à filosofia das “cartas pretas” e criarem versões compatíveis com este sistema. Levando em conta que a tela do litl não é sensível ao toque (neste modo você só conta com um comando, uma espécie de roda brilhante no topo direito) e que uma terceira versão para sites seria pedir demais (juntando-se a convencional e móvel), há sérias chances de que a coisa não vá pra frente, mas valeu a intenção.
A ideia por trás deste computador passa bem longe do que temos hoje em dia: pela primeira vez em muito tempo há um pouquinho de inovação neste mercado, como bem notou John Gruber, do Daring Fireball. Há algumas inconsistências notáveis (você pode usar o litl para acessar o Flickr e ver fotos, mas precisa de um computador de verdade para enviá-las para o serviço), mas elas só ressaltam o quanto esta não deverá ser sua máquina primária, e sim apenas uma espécie de eletrodoméstico. Por sinal, deixar claro que esta máquina serve pra usar em casa, bem ao alcance de sua rede Wi-Fi doméstica já conta como uma vantagem sobre as incertezas do Chrome OS.
Mesmo assim, com que cara Sony, Dell e HP ficam ao se deparar com a dura verdade de que uma startup já oferece uma integração vertical anos-luz à frente do que elas ao menos _sonham_ em ofertar? E mais: se o litl for tão seguro e confiável quanto é apregoado, eu espero que estas empresas aprendam uma lição e parem de ficar correndo atrás do Windows. Já é tempo de o monopólio do Windows dar lugar a uma variedade de sistemas operacionais — que, se forem baseados na web, certamente não terão problemas de comunicação entre si. Windows, (o zoológico do) Linux, Mac OS X, Chrome OS e litl OS poderiam ter mais companhia e concorrer pra valer, sem falar que o casamento hardware+software pode ajudar a diminuir as vendas de aspirina.
Um litl pode ser adquirido por US$700, mas, por US$1.400 você pode comprar um par deles mais dois controles remotos (que custariam US$20 cada, separadamente). A única coisa que justifica esse valor (além da tela) é a simplicidade que você leva pra casa: sem precisar de antivírus, sistema de arquivos ou desfragmentação de disco, o litl é o tipo de computador que até o mais tecnófobo dos seres pode usar. Ah, claro, confira um unboxing da criança:
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=kwS6Vhmpl6I[/youtube]Se você pensou “Apple” ao ver isso, tudo bem: parece, mesmo.
Gostou? Este artigo do Engadget traz um vídeo de 16 minutos (!) no qual John Chuang, CEO da companhia por trás do litl, explica em detalhe como funciona este webbook e como ele faz para o computador não ficar entre você e a internet.
[dica do Fábio Mayer Kafrouni, via Blog do Link]