O melhor pedaço da Maçã.

A vida dura de um Mac Evangelista

Tudo começou com a decepção tecnológica que tive ao visitar pela primeira vez a casa da minha namorada, proprietária de um PC montado (er… sem marca) rodando o Windows XP. Até então, nem ela, nem ninguém da família, havia experimentado algo diferente do Windows.

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Mac mini G4Qual foi minha surpresa quando meu sogro levantou a hipótese de experimentarem esse novo mundo, após eu contar de uma promoção do Mac mini por R$ 1.999 em meados de 2005. Não precisei gastar muito minha lábia. Em uma rápida apresentação da máquina e do sistema que fiz através do site da Apple (acessado pelo próprio PC deles), consegui convencê-los de que, ao contrário de Neo, apesar de terem escolhido a pílula vermelha uma vez, eles ainda tinham a chance de voltar atrás e pegar a azul.

Em dez minutos a compra foi feita pela Web e a contagem dos sete dias úteis para a entrega da máquina iniciou-se. A máquina chegou em uma quarta-feira, mas como meu tempo estava todo ocupado com faculdade e trabalho, só pude ir na casa dela ver e trabalhar com o bichinho no sábado. De cara, uma alegria: o modelo comprado deveria vir com um processador G4 1.25 GHz, mas graças a um inédito upgrade silencioso feito pela Apple, eles receberam um G4 de 1.33 GHz, com HD de 5.400 RPM em vez de 4.200 e drive de DVD/CD-RW Combo com velocidade de 32x, ao invés de 24x. Um legítimo caso de Lei de Murphy reversa!

Se a compra foi fácil, a transição do mundo Windows pro mundo Mac não foi tão tranquila. Ainda está para surgir uma solução multiplataforma tão linda de se ver quanto o Assistente de Migração do Mac OS X, que com alguns cliques teletransporta todos os arquivos, programas e preferências do seu Mac velho para o novo, deixando-o pronto para o trabalho.

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O passo número um foi ligar o Mac mini, configurá-lo do jeitinho que eles gostariam e rodar o Software Update para atualizar todo o sistema e seus componentes. Feito isso, precisávamos passar todos os dados do PC para o mini. Aí pintou a primeiro pedra no caminho: o PC deles, por algum motivo obscuro, não reconheceu o meu iPod, mesmo ele estando formatado para Windows. Todo o meu plano de usá-lo como ponte de transferência de dados e demonstrar mais uma poderosa tecnologia Apple foi por água abaixo. Mas seguimos em frente.

Problema 1 – Ligando Mac e PC

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A propaganda da Apple não fala isso, mas a idéia de usar o mini com seu velho monitor, teclado e mouse de PC traz um belo problema: fica bem mais difícil ligar as duas máquinas ao mesmo tempo para transferir dados. Mas isso não é impossível: é só ligar os dois com um cabo Ethernet, ligar o primeiro, desconectar monitor-teclado-mouse e plugar no segundo, configurar a rede, ver que nada funciona, voltar pro primeiro, reconectar tudo, checar as configurações de novo, desplugar tudo e replugar no segundo e assim por diante. Uma hora a coisa dá certo. Depois desse tedioso processo consegui passar fotos, músicas e documentos (Word, PowerPoint etc.) do PC para o Mac. Mas a brincadeira estava só começando.

Problema 2 – Transferir emails

Com tudo já dentro do HDzinho de 40 GB do mini, fui tentar importar os emails do meu sogro do Outlook 2003 para o Entourage 2004, também da Microsoft. Presumi que por ter ambos os programas do mesmo fabricante em suas últimas versões nos respectivos sistemas operacionais, seria mais fácil a transição. Hahaha. Eles não conversam entre si, nem existe um utilitário conversor dos dados para usuários em situações semelhantes à da família da minha namorada. E depois reclamam quando a gente fala mal da Microsoft.

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Começou aí uma luta para resolvermos o problema, que era crucial, uma vez que os emails são a base do trabalho do meu sogro. Sem isso funcionando corretamente, o mini teria que ficar encostado até que encontrássemos uma solução. Foi o que aconteceu. Fiz tudo o que podia fazer durante aquele final de semana, e passei a semana seguinte inteira pesquisando uma forma de transferir os emails para o Mac.

Screen-shot do O2MTentei importar tudo no Outlook Express de PC e exportar para o Mac, usar o Netscape como ponte, o Thunderbird, até mesmo o Eudora, e o máximo que consegui foi passar o catálogo de endereços e importá-lo sem mais problemas no Address Book do Mac. Não era suficiente. A solução veio com o O2M, aplicativo desenvolvido pela Little Machines, que faz todo esse trabalho sujo para nós. O software custou US$ 10 e é o tipo de programa que você usa uma vez e esquece (a menos que seja um consultor especializado em switchers), mas valeu a pena. Com poucos cliques pude exportar todos os dados do Outlook no PC e depois reimportá-los no Entourage.

A passagem não foi perfeita, as pastas vieram um pouco bagunçadas e tivemos problemas com caracteres especiais e acentuação, principalmente nos contatos, mas de uma forma geral ele se comportou muito bem, e com um pouco de trabalho para reorganizar e categorizar tudo no novo ambiente, já dava para trabalhar no mini.

Problema 3 – Teclado

Tanto o teclado como o mouse que eles usavam no PC antigo eram PS/2. A partir daí tínhamos duas opções: comprar um adaptador PS/2>USB para o teclado e mouse velhos (achamos um muito legal, que era um cabo splitado com as duas entradas, para o mouse e teclado, e que só ocupava uma porta USB na máquina, um 2 em 1, baratinho), ou comprar teclado e mouse novos, USB. Partimos para a segunda opção, já que o objetivo era manter o PC velho funcionando em outro quarto, em caso de uma eventualidade.

A partir daí, o terceiro problema apareceu: o Mac mini G4 só possui duas portas USB 2.0 (falha resolvida no mini Intel). Ou seja, só o teclado e mouse ocupariam as duas, e aí adeus multifuncional (problema 4), webcam (problema 5) e um eventual uso de pendrive, câmera ou qualquer outro aparelho USB. Portanto, mais um gasto: compramos um hub USB de 4 portas da Clone, bem pequenininho, barato e bonitinho, que resolveu o problema.

Problema 4 – Multifuncional

O multifuncional Epson Stylus CX3700 foi a última compra que eles fizeram para o escritório, antes do Mac mini. Não preciso dizer que fomos premiados com a descoberta de que, entre os doze modelos de multifuncionais oferecidos pela Epson no Brasil, apenas três não possuem drivers para Mac: entre eles, estava lá o CX3700.

Fiz diversas tentativas de resolução do problema, sem sucesso. Tentei até um driver genérico que dizia trazer compatibilidade para uma lista enorme de modelos de impressoras. Ele até conseguiu fazer o multifuncional funcionar, mas como monofuncional: só imprimia. Scanner e copiadora não rolaram.

Felizmente, mesmo depois de dois meses da compra, conseguimos diretamente com a Epson do Brasil o reembolso do valor pago no CX3700 para que pudéssemos fazer a troca por outro modelo compatível. Esse processo ainda está ocorrendo, e em breve, acredito, estaremos com um novo multifuncional no escritório deles funcionando 100% com o Mac OS X.

Apple iSightProblema 5 – Webcam

Esse não deu pra resolver. A webcam era uma Genius Videoexpress bem velhinha e já meio acabada, e evidentemente não possuía drivers oficiais para Mac. Dos drivers de terceiros que existem por aí, nenhum deles oferecia suporte para ela. No final das contas, até achei bom, pois outro problema do Mac mini G4 é a falta de uma entrada de áudio (outra coisa resolvida no mini Intel). Como eles usam bastante o microfone no Skype, uma alternativa que resolverá ambos os problemas será comprar uma webcam nova que já possua microfone embutido e seja compatível com Mac. A própria Genius tem algumas, mas que tal uma iSight?

No final das contas…

De resto, está tudo beleza. Meu sogro ficou um tanto transtornado com os problemas descritos acima, já baixou alguns .EXE da internet não entendeu porque não rodavam no Mac mini; também não entende que os programas, mesmo com janelas fechadas, continuam abertos, aliás, ele nem deve saber que estão abertos. Mas fez o Imposto de Renda toda no Mac, feliz da vida, sem problemas.

Minha namorada virou xiita, por causa da minha direta influência, é claro. Já defende o Mac com todas as forças, os professores na faculdade sabem que ela usa Mac e todos ficam babando com as apresentações que faz no Keynote. Ela ficou até animada quando meu sogro pensou em voltar pro Windows depois dos problemas ocorridos, já que ela teria o mini só pra ela.

Durante essa epopéia, muita gente disse que eu era louco, que eu iria me arrepender, que teria que dar suporte técnico pelo resto da vida, que iria perder a namorada quando ela descobrisse que o MSN Messenger de Mac não tem winks… mas, eu discordo disso tudo. Acho que fiz uma boa ação e que daqui a um tempo eles serão macmaníacos tão xiitas como eu. Só tenho a desejar-lhes boas-vindas.

Artigo publicado na edição 02 da revista Mac+, nas bancas!

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