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reMarkable 2

Review: reMarkable 2, um tablet de eink focado em escrita

Alguns meses atrás, eu escrevi um post sobre a nova geração de einks (dispositivos de exibição que imitam a aparência da tinta comum no papel), que têm evoluído para escrita. No referido artigo, citei alguns modelos disponíveis no mercado, com destaque para os mais comentados: Kindle Scrible e reMarkable 2.

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Após uma experiência de seis meses de uso com esse último, trago um review para os interessados nesse tipo de aparelho.

Antes de falar do reMarkable 2, vale a pena lembrar por que essa espécie de tablet tem crescido tanto. A atração desse tipo de produto vai muito além de conquistar os apaixonados pela escrita; ela se estende ao enfoque na produtividade.

Ao optar por um iPad, por exemplo, para leitura e escrita, enfrentamos não apenas a superfície lisa e a intensidade luminosa, que podem ser desconfortáveis, mas também uma série de aplicativos e notificações, incluindo as inúmeras redes sociais que desviam a atenção do que realmente precisa ser realizado. Isso se torna especialmente evidente em situações como reuniões de trabalho, onde as pessoas acabam distraídas por mensagens e interações, prejudicando sua participação efetiva.

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Parece existir uma movimentação no sentido oposto, encorajando uma desconexão mais profunda para se conectar com os momentos presentes, após o boom de conectividade proporcionado pelos dispositivos que nos cercam. Embora haja pessoas capazes de manter o vínculo com cadernos, planners e agendas físicas (um mercado muito maior do que se imagina), é desafiador concentrar tudo em um só lugar sem a opção de backup e acesso remoto. Por isso, os einks surgiram como uma excelente alternativa, oferecendo a conveniência da nuvem aliada ao foco e à experiência do papel.

A reMarkable

A empresa reMarkable foi fundada em 2013, por Magnus Wanberg — empreendedor norueguês apaixonado por tecnologia —, com a visão de criar uma experiência digital que rivalizasse com a sensação autêntica e fluida de escrever em papel.

O ponto de partida foi o desenvolvimento do reMarkable Paper Tablet, um dispositivo que se propôs a replicar a sensação tátil e a simplicidade do papel, mas com todos os benefícios da tecnologia digital. O tablet apresentava uma tela eink semelhante às dos ereaders, que oferecem uma experiência de escrita surpreendentemente próxima a caneta e papel tradicionais. O desafio era criar algo que transcendesse as limitações dos dispositivos eletrônicos convencionais, muitas vezes associados a distrações e falta de foco. 

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Ao longo dos anos, a empresa não apenas refinou seu produto principal, mas também expandiu sua linha para atender às demandas específicas dos usuários criativos, profissionais e estudantes. A marca tem atraído uma base de clientes dedicada, composta por escritores, artistas, estudantes e profissionais que valorizam a simplicidade, o foco e a eficiência.

Primeiras impressões e design

O reMarkable 2 me chamou atenção de uma maneira interessante. Estava em uma reunião com a reitora de uma universidade americana e percebi ela tomando notas em um tablet superfino, que parecia muito com um bloco de notas. Em alguns momentos, até cheguei a pensar que era um bloquinho mesmo, mas foi possível notar que ela usava uma caneta tipo stylus e passava as páginas com o dedo.

Fiquei muito curioso pois não tinha visto ainda um tablet tão fino. Não resisti e perguntei para ela que aparelho era aquele; ela, então, me mostrou de maneira empolgada as aplicações do reMarkable 2.

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Em um primeiro momento, fiquei um pouco decepcionado em perceber que ele tinha poucos recursos de trabalho, como email ou Teams, mas entendi qual era o seu objetivo. Eu nunca tinha visto ninguém usando no Brasil nada semelhante e resolvi então comprar um para testar.

Ao receber o produto, a experiência foi bastante Apple-like, com uma caixa muito bonita, bem elaborada, com dizeres interessantes e uma ótima experiência de abertura. O design do produto é incrível, extremamente fino e leve como nenhum outro. Como sou péssimo para escrever à mão, comprei também uma capa teclado, que é igualmente fina e leve. O peso do reMarkable 2 com teclado é mais leve que um iPad Pro sem teclado! Além disso, ele é bonito, elegante e moderno. A experiência de usá-lo é bastante agradável.

Após toda esse encanamento, surgiram as primeiras decepções. Foi difícil entender como fazer ele funcionar diretamente — precisei pesquisar alguns tutorais na internet. A criação da conta inicial e a configuração não são muito intuitivas, mas, apesar disso, logo ele estava funcionando.

Funcionalidades

Para quem gosta de escrever e desenhar à mão, esse dispositivo é perfeito — ele foi capaz de atrair o meu sobrinho dos seus jogos no iPad para desenhar por um tempo considerável. Prático e com resposta rápida, escrever com a caneta é quase tão fluído quanto escrever no papel. 

Já para os desprovidos de coordenação motora suficiente para garantir um letra legível (como eu), o uso se torna um pouco limitado. O teclado é muito bom, leve e com as teclas macias, mas, ao escrever nos blocos de notas do próprio reMarkable, as configurações de texto são escassas e não há a opção de teclado internacional ou de português (do Brasil), o que torna impossível escrever um texto com acentuação correta.

Para quem é usuário do Google, é possível acessar o Documentos pelo aparelho, tornando a escrita mais profissional. Mas para que isso ocorra, é necessário estar conectado à internet, impossibilitando trabalhar, por exemplo, em um voo sem Wi-Fi. 

O reMarkable 2 possui três modalidades de arquivos que podem ser organizadas em pastas e grupos: 

  1. Notebooks: os notebooks reúnem as suas notas e possuem vários templates, como linhas pautadas, quadriculadas, limpas, no formato to dos, entre outras. Mas escrever dentro delas só é possível com a caneta; quando usando o teclado, fica bastante complicado deixar o texto nas linhas e nos quadrinhos.
  2. Ebooks: arquivos em EPUB são organizados automaticamente na pasta ebook e podem ser organizados em diferentes coleções. Nesse formato, a configuração original da capa e as figuras do arquivo sofrem algumas alterações. É possível grifar textos com a stylus e você pode escolher a cor que irá grifar.
  3. PDFs: todos os arquivos no formato PDF são agrupados em uma pasta com esse nome. A experiência de interação com o PDF é melhor que com o EPUB — mais fluída e, nesse caso, ele não sofre alterações de configuração. Também nesse formato é possível grifar textos com a stylus e você pode escolher a cor que irá grifar.

Existe também uma pasta chamada My files, que unifica todos os arquivos em conjunto. Nela você pode criar pasta para juntar arquivos de diferentes formatos, como PDFs e EPUBs, por exemplo, em pastas por assunto. Ainda assim, eles estarão também nas pastas próprias por formato.

Um superdestaque do reMarkable 2, que já era de se esperar pela natureza dele, é a duração da bateria. Ela dura dias a fio, mesmo trabalhando bastante com ele, e não gasta quase nada no modo stand by. As vezes, a gente até esquece a última vez que carregou!

Compartilhamentos

Os arquivos colocados no reMarkable 2 podem ser acessados em qualquer outro aparelho a partir do download do app de mesmo nome, disponível para iPads, iPhones e Macs.


Ícone do app reMarkable mobile
reMarkable mobile de reMarkable AS
Compatível com iPadsCompatível com iPhones
Versão 3.10.0 (47.1 MB)
Requer o iOS 14.0 ou superior
GrátisBadge - Baixar na App Store Código QR Código QR

Ícone do app reMarkable desktop
reMarkable desktop de reMarkable AS
Compatível com Macs
Versão 3.10.0 (66.7 MB)
Requer o macOS 11.0 ou superior
GrátisBadge - Baixar na Mac App Store Código QR Código QR

A sincronização dos arquivos é bem rápida e todas as modificações feitas em um dos dispositivos é atualizada nos outros. Você pode, por exemplo, ir colocando direto do seu Mac, artigos na pasta para ler posteriormente no reMarkable; ler, grifar e depois utilizar de volta em seu Mac.

Mas eis a armadilha: a plenitude desse serviço é disponível gratuitamente apenas no primeiro ano da compra do produto. Depois, para usufruir dessa funcionalidade, você precisa assinar o Connect por US$3 mensais — um custo que não é caríssimo, mas também não pode ser ignorado (é mais caro, por exemplo, que o iCloud de 50GB).

É possível, também, fazer a sincronização conectando o reMarkable ao Mac via cabo, mas convenhamos que a sincronia automática é bem mais interessante. 

Como comentei, é possível conectar o aparelho ao Google. Assim, o Drive, os Documentos, as Planilhas e as Apresentações ficam disponíveis, além de ser possível salvar e retirar documentos. O problema, como já citado, é que esse uso depende da conexão Wi-Fi.

Limitações

Embora já tenha comentado algumas limitações durante o texto, vou sumarizá-las aqui e também apresentar algumas delas. Como já comentado, o teclado não tem a opção de configuração internacional ou português (do Brasil), o que impossibilita o uso de acentos corretamente. Além disso, ter integração apenas com Google e somente online também complica bastante. Se tivesse pelo menos um Word offline, seu uso já expandiria bastante. 

Outro grande defeito do aparelho: a tela do reMarkable 2 não é retroiluminada. Com o Kindle, por exemplo, você pode ler no escuro, mas isso não é possível no reMarkable 2. Um aparelho retroiluminado traz inúmeras vantagens de uso, como ler na cama sem atrapalhar outras pessoas no quarto, no avião quando as luzes estão apagadas, entre outros momentos. Por isso, essa é uma grande limitação.

Na carona desse problema, existe outro que poderia ser facilmente resolvido. O que adianta ter cores diferentes para grifar os textos se o tablet é preto e branco? Sei que o objetivo é replicar a experiência do papel, mas vamos combinar que é possível escrever com canetas coloridas no papel, não é mesmo? Essa tem sido uma característica de quase todos os einks, mas creio que já está na hora de evoluir.

Por fim, outro item que me incomodou bastante foi a impossibilidade de conectar ao aplicativo do Kindle. Sim, eu sei que existem questões comerciais e a Amazon também tem o Kindle Scrible, que, embora diferente (não existe a opção de teclado), pode ser um concorrente. Mas os tablets da Samsung, do Google e o iPad possuem, todos eles, acesso ao Kindle, assim como o Mac e o iPhone.

Não sei dizer onde está o impasse ai — se foi uma falha da reMarkable ou da Amazon —, mas é também uma limitação. Seria muito bom grifar os livros e poder tirar somente as notas depois, como acontece no Kindle. E a reMarkable não tem parceria com nenhum outro serviço, como Kobo ou MyShelf, por exemplo. Para ler livros no gadget, você precisa tentar exportar do Kindle e converter o formato.

Preço

Eis aqui outro ponto que pode ser um fator de desmotivação para a aquisição do reMarkable 2: o preço.

O tablet sai por US$300 (por US$280, você leva uma versão recondicionada); sua stylus (Marker) custa US$80 no modelo mais simples e US$130 no modelo com borracha; já o teclado sai por mais US$200.

Somando tudo em uma compra com a Marker Plus, o conjunto vai sair por quase US$630, um valor bem considerável. Se compararmos com o iPad de 10ª geração (US$780 com teclado e Apple Pencil), que possui um número bem maior de funções, fica difícil escolher o ewritable, especialmente porque o reMarkable não tem o objetivo de substituir um computador ou tablet, mas ser um device a mais que auxilia no foco e na produtividade.

Conclusão

Se você gosta e escreve bem à mão, faz diários pessoais nesse modelo, desenha projetos, designs, modelos de roupas, gráficos manuais e quer concentração total, o reMarkable 2 é para você. Incrivelmente fino e leve, bateria de longuíssima duração, design moderno e bonito, além de permitir foco na produtividade sem interrupções desagradáveis de notificações ou mesmo oferecer opções de jogos ou arquivos para distração.

Agora, se o seu foco é uma escrita mais profissional por teclado e a leitura, possivelmente você vai se decepcionar um pouco. A ausência do teclado configurado, o formato limitado dos templates, a falta da tela retroiluminada, a impossibilidade de conectar com sua conta Kindle e ainda a necessidade de Wi-Fi para usar um bom cliente de texto fazem do reMarkable 2 um gadget ainda despreparado para o trabalho. O que é uma pena, devido à sua praticidade.

Usar o reMarkable 2 trouxe para mim a ideia de que eu gostaria muito de trabalhar com um tablet dessa natureza, desde que os upgrades supracitados ocorram. Será que veremos algo semelhante da própria Apple? A Amazon irá evoluir o Kindle Scrible e abocanhar esse mercado? Diz aí a sua opinião nos comentários! 🤓

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