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Em memorando, Tim Cook pede que Apple “siga em frente junta” após vitória de Trump; Vale do Silício preocupa-se com o prospecto do novo governo

Em uma reviravolta atordoante (para todos), Donald Trump venceu as eleições presidenciais da última terça-feira e será o 45º Presidente dos Estados Unidos a partir de 20 de janeiro de 2017. Após um período eleitoral decididamente disputado, para não dizer assustadoramente baixo, a notícia foi recebida com tal surpresa que até mesmo Tim Cook sentiu-se na obrigação de distribuir um memorando para todos os empregados da Apple ao redor do mundo.

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Tim Cook

O memorando, obtido pelo BuzzFeed News, pode ser lido abaixo (tradução nossa):

Time,

Eu ouvi de muitos de vocês hoje sobre a eleição presidencial. Em uma disputa política onde os candidatos eram tão diferentes e cada um recebeu uma quantidade parecida de votos populares, é inevitável que o resultado deixe muitos de vocês com sentimentos fortes.

Nós temos um time muito diverso de empregados, incluindo apoiadores de ambos os candidatos. Independentemente de qual candidato cada um de nós apoiou pessoalmente, a única forma de seguir em frente agora é fazendo isso juntos. Eu me lembro de uma coisa que o Dr. Martin Luther King Jr. falou, 50 anos atrás: “Se você não pode voar, então corra. Se você não pode correr, então ande. Se você não pode andar, então rasteje, mas faça o que fizer você deve continuar seguindo em frente.” Este conselho é atemporal, e um lembrete de que nós só realizamos um bom trabalho e melhoramos o mundo seguindo em frente.

Mesmo que discutamos hoje sobre algumas coisas incertas à frente, vocês podem confiar que a estrela-guia da Apple não mudou. Nossos produtos conectam pessoas no mundo inteiro e oferecem as ferramentas necessárias para que nossos clientes façam coisas incríveis para melhorar suas vidas e o mundo como um todo. Nossa empresa é aberta a todos, e nós celebramos a diversidade do nosso time aqui nos Estados Unidos e ao redor do mundo — sem importar a sua aparência, de onde eles vêm, quem eles reverenciam ou quem eles amam.

Eu sempre vi a Apple como uma grande família e eu encorajo vocês a conversarem com seus colegas caso eles estejam se sentindo ansiosos.

Sigamos em frente — juntos!

Atenciosamente,

Tim

Apesar de não mencionar Trump nominalmente, fica bem clara a atitude da Apple (e de Cook) de colocar-se num campo oposto às opiniões e ações do futuro presidente. E não é à toa: ao menos em dois aspectos diferentes, Trump representa um antagonismo sério para a Maçã, suas operações ao redor do mundo e sua própria filosofia.

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Primeiramente, fora as opiniões protecionistas e antiglobalistas de Trump, o republicano já entrou em rusgas diretamente com a Apple. À época da disputa da Maçã com o FBI, o empresário saiu em defesa da agência, clamando por um boicote aos produtos de Cupertino até que a empresa criasse o chamado “GovtOS” que permitisse que o governo americano acessasse iPhones bloqueados indistintamente.

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Em outra ocasião, Trump prometeu que faria a Apple fabricar seus “malditos computadores e coisas” nos EUA — o que, apesar das intenções compreensíveis, certamente representa uma ameaça à estratégia econômica de Cook e sua turma.

Em um nível mais profundo, é de se considerar que as posições de Trump em questões sociais opõem-se fortemente à filosofia longamente cultivada pela Apple, uma empresa, lembremo-nos, fundada por dois hippies pacifistas e proponentes do mundo livre de barreiras. Os comentários do futuro presidente, alguns deles extremamente misóginos e/ou tóxicos em relação às minorias raciais e LGBTQ — esta, aliás, da qual o próprio Cook faz parte —, são implicitamente repudiados no memorando do CEO, que faz questão de manter o caráter receptivo e compreensivo da Apple mesmo em tempos de incerteza.

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Tempos de incerteza, aliás, que se refletem no Vale do Silício como um todo. Algumas figuras importantes do pólo tecnológico, como Shervin Pishevar (cofundador do projeto Hyperloop), estão ensaiando apoiar um movimento separatista da Califórnia — Calexit? Califrexit? Caleavefornia?. O estado mais rico dos EUA defende que irá se desenvolver melhor caso separe-se do país, uma bizarrice que inclusive temos experiência aqui no Brasil (embora com motivações políticas opostas).

São ações certamente pensadas no calor do momento que mostram que, embora um (agora impossível) governo Hillary estivesse muito longe de representar algo bom em perspectiva global, certamente manteria um status quo na qual a Apple e o Vale do Silício sentam-se confortavelmente. Por outro lado, a vitória de Trump traz uma série de incertezas que preocupa, e muito, Cook e os outros líderes do Vale, por uma série de razões.

Opiniões de figuras importantes, receosas de que a gestão Trump venha a impedir a inovação e o progresso tecnológico, já começaram a surgir pelas principais publicações relacionadas ao assunto. O colunista de tecnologia do New York Times Farhad Manjoo afirma que “os planos de imigração de Trump são uma anátema para qualquer empresa do ramo”. As opiniões do republicano absolutamente contrárias à neutralidade de rede também motivaram críticas, por exemplo, do Washington Post.

Não que Trump vá conseguir, durante o seu mandato, fazer tudo aquilo que promete — afinal, ele será presidente e não monarca. A consciência, entretanto, de que há num universo de quase 150 milhões de eleitores, gente que concorda com suas visões o suficiente para elegê-lo é, no mínimo, algo a se refletir. Vejamos o que os próximos quatro anos nos aguardam.

[via The Verge]

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