Uma extensa reportagem publicada ontem pela Bloomberg trouxe mais alguns detalhes bastante interessantes sobre o projeto do “Apple Car”, que teria sido cancelado pela gigante de Cupertino na semana passada (também de acordo com o veículo).
Segundo o artigo, foi Steve Jobs quem levantou a ideia de um carro da Apple pela primeira vez nos escritórios da empresa, ainda no final da década de 2000 — isso considerando que sua companhia já contava com produtos que dominavam várias áreas do dia a dia dos seus clientes. O ex-CEO 1 Chief executive officer, ou diretor executivo. e cofundador da Maçã teria até mesmo considerado comprar a General Motors (GM) em certa altura, o que nunca chegou a sair do campo das ideias.
Essa não foi a única vez, vale lembrar, que a Apple levantou a possibilidade de adquirir uma montadora de veículo já estabelecida. A Tesla, por exemplo, já esteve no radar da empresa, mas Tim Cook descartou a ideia ainda no início das negociações. Luca Maestri, chefão de finanças da Maçã, teria dito na época que as margens de lucro apertadas do mercado de automóveis era algo com que a Big Tech não poderia lidar.
Além dessas duas marcas, a Apple também teria conversado com a Mercedes-Benz, a BMW, a Ford, a Volkswagen e até mesmo a McLaren. Além de fabricar o “Apple Car”, porém, a marca da estrela de três pontas também queria utilizar o sistema autônomo da fabricante do iPhone em seus próprios carros.
Projeto foi marcado por indecisão
Tendo decidido projetar o seu próprio automóvel, a Maçã começou a experimentar com alguns conceitos. No início de 2020, por exemplo, os executivos da empresa foram até uma pista de testes da Chrysler na cidade de Wittmann, no estado do Arizona (Estados Unidos), para testar um protótipo com o design de uma minivan, o qual teria cantos arredondados, um teto todo feito de vidro, portas deslizantes e até mesmo pneus com faixas brancas, além de espaço para quatro pessoas no seu interior.
Claramente inspirado na clássica Kombi, da Volkswagen, o veículo seria totalmente autônomo, contaria com uma espécie de TV no seu interior e ainda traria assentos reclináveis e com apoios para os pés, assim como aviões. Esse protótipo, segundo as informações, foi um verdadeiro sucesso entre os executivos da Apple, mas ainda precisava de muito desenvolvimento para andar no mundo real.
O chefe do projeto na época, Doug Field, chegou até mesmo a sugerir que a Apple diminuísse o escopo do projeto, fazendo com que o “Apple Car” tivesse um sistema de direção autônoma de nível 3 — o qual exige que haja uma pessoa pronta para assumir o controle do carro a qualquer momento. Os seus superiores, porém, não quiseram deixar a ideia de construir um carro completamente autônomo para trás.
Caso esse primeiro plano tivesse dado certo, a ideia era que o veículo contasse com um controle muito parecido com um joystick de videogame ou um app para iPhone para os momentos em que o usuário precisasse assumir temporariamente o controle da direção. Além disso, caso o sistema do carro não pudesse navegar por algum trajeto, o usuário poderia ligar para um centro de comando da Apple e pedir para que um funcionário da empresa assumisse a direção remotamente.
Quando Kevin Lynch — que por muito tempo cuidou do “Projeto Titan” e do time do Apple Watch — assumiu o projeto, o carro da Maçã tomou a formato de uma cápsula, com a traseira e a parte frontal praticamente idênticas. Só haviam janelas nas laterais do modelo, que também trazia portas no estilo asas de gaivota e rampas para facilitar o manuseio de bagagens. Esse protótipo era chamado internamente de “I-Beam”.
A ambição da chefia da Apple em fazer um carro completamente autônomo basicamente fez com que o veículo não tivesse a oportunidade de ser testado em vias públicas, dada a complexidade da coisa. Problemas técnicos não teriam sido, porém, o único motivo que fez a Maçã abandonar o projeto; a volatilidade do mercado automobilístico também teve grande peso no seu cancelamento.
Uma pena, não? A reportagem completa pode ser conferida nessa página.
Notas de rodapé
- 1Chief executive officer, ou diretor executivo.
