Ele já foi um fenômeno. A empresa foi fundada em 2007, lançou sua primeira versão beta em 2008 e, em 2011, havia alcançado 11 milhões de usuários.
O Evernote foi, por muitos anos, o app nº 1 de produtividade para muitas pessoas. Com a proposta de ser sua “memória virtual” e registrar todos seus itens importantes por foto, áudio ou escrita, o app avançou em muitos recursos, como workchat e compartilhamento de notas, tornando-se uma excelente opção para gerenciar projetos e as atividades pessoais.
Minha trajetória com o Evernote começou em 2011. Fiz minha assinatura e iniciei o uso, mas sem muita empolgação. Seis anos depois, após ler sobre muitas pessoas que usavam Evernote com o GTD (Getting Things Done, técnica de produtividade criada por David Allen em livro de mesmo nome), resolvi me aprofundar de verdade no app. Li livros, assisti a vídeos, pesquisei em blogs e adaptei o Evernote para minha realidade, utilizando tanto o GTD quanto uma estrutura de metodologia ágil (veja na imagem ao lado).
Durante dois anos e meio, o Evernote foi meu fiel escudeiro para trabalho e também para a vida pessoal. Alcancei quase 13 mil notas, desde templates de trabalho a arquivamento de exames médicos.
Porém, desde junho de 2021 esse casamento acabou. Uma combinação de Lembretes (Reminders), Notas (Notes) e Finder substituíram o trabalho do Evernote — pretendo falar mais sobre isso em um novo post, em breve. Gostaria de mostrar, aqui, por que eu deixei o Evernote e resolvi mudar de ferramenta.
Interface
Por anos, o Evernote tem mantido a mesma interface. No ano passado a empresa fez pequenas mudanças, mas o layout em essência continuou o mesmo.
Hoje temos opções com interfaces altamente personalizáveis, mas que exigem mais do usuário e outras que possuem uma interface engessada, pronta para o uso. No entanto, ambas as opções têm se modernizado constantemente, e o Evernote parece ter parado no tempo. Algumas mudanças promovidas acabaram, inclusive prejudicando a forma de usar o app, deixando-o menos intuitivo.
Alteração na exportação de notas
Uma vez que todas as minhas informações importantes estavam no Evernote, sistematicamente eu fazia uma exportação das notas como backup de segurança. Escolhi essa opção pois o arquivo gerado podia ser lido tanto no Evernote quanto no Notas da Apple, aumentando assim a segurança para o caso de inacessibilidade do Evernote.
Essa tarefa era bastante simples: eu ia em “Exportar notas”, clicava na opção de selecionar todas e exportava. À medida que o número de notas ficou maior e mais pesado, esse processo demorava um pouco mais, mas não exigia muitos passos. Eu guardava essas exportações em HDDs externos.
Ao invés de aperfeiçoar isso, recentemente a empresa alterou o processo de marcação de notas, permitindo apenas 50 notas por vez. Essa limitação tornou a tarefa de fazer a exportação para backup praticamente inviável, dado o tempo necessário para essa operação. Com 12 mil notas, eu precisaria fazer esse procedimento 240 vezes!!
Lentidão no sync
Uma das principais vantagens de ser um usuário Apple é ter a integração dos devices, permitindo realizar atividades no MacBook, por exemplo, e ter acesso a elas sincronizadas automaticamente no iPad e no iPhone.
No Evernote, isso funcionava muito bem. Eu uso o iPad e o iPhone em atividades externas, e o MacBook em casa. Usava frequentemente o app e conseguia ter acesso às minhas notas em tempo real, em qualquer gadget.
Porém, de algum tempo para cá, a sincronização do Evernote ficou extremamente lenta. Todas as vezes que eu abro o app no iPhone ou no iPad, ele leva vários minutos para atualizar e abrir as notas. Além disso, não oferece uma opção automática para ter as notas offline. Sabemos bem que no Brasil não podemos acessar a rede do celular com qualidade em todos os lugares, além do fato de que baixar notas pesadas pelo 4G consome muitos dados do seu plano. Esse foi, basicamente, o golpe de misericórdia.
Ausência de melhorias significativas
A saga das empresas proprietárias de apps é oferecer alterações constantes para melhoria da experiência do usuário. Constantemente recebemos atualizações de apps, algumas mais evidentes, outras invisíveis, mas que oferecem melhorias na usabilidade.
Infelizmente, o Evernote ofereceu mudanças pouco significativas nos últimos anos. Recentemente, eles fizeram uma superdivulgação por uma “fantástica melhoria no app para facilitar o gerenciamento de projetos”: a opção de criar listas de To Do compartilháveis. 🙄 Sem palavras.
Algumas mudanças bem pequenas e pouco impactantes, muito alardeadas, mas sem apelo. Cerca de dois meses atrás, recebi um convite por email para ser usuário beta do Evernote e receber antecipadamente mudanças no app para testar. Me inscrevi na esperança de recuperar a vontade de usar a ferramenta. Você recebeu alguma mudança para teste aí nestes dois meses? Então, nem eu.
Conclusão
Notion, ClickUp, OneNote, Planner, Trello e outros trouxeram inúmeras melhorias e funcionalidades que tornaram seus produtos grandes players do mercado de produtividade pessoal e profissional, deixando o Evernote a milhas de distância. Não é à toa que até a embaixadora no Evernote no Brasil, a Bia “Garota sem Fio” Kunze, revelou em entrevista ao MacMagazine que deixou sua militância pela ferramenta.
O Evernote já foi muito bom e espero sinceramente que eles se reinventem. Para quem gosta da temática de produtividade e também de testar novas ferramentas, é bom ver esse mercado competitivo e em expansão. Mas, no momento, o Evernote deixou o cenário de evidência e passou a ser o famoso pato: faz muitas coisas, mas nenhuma muito bem.
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