Em 2016, publicamos um artigo que comparava alguns dos principais gerenciadores de senhas do mercado, listando suas respectivas vantagens e desvantagens.
Exatos sete anos se passaram e, desde então, muita coisa mudou nesse mercado. Os aplicativos ganharam novos recursos, outros serviços entraram no páreo e as Chaves-senha (Passkeys) já estão aí ameaçando acabar com as senhas tradicionais num futuro não tão distante.
Considerando isso tudo, decidimos fazer uma nova edição desse comparativo, atualizada e com alguns dos aplicativos mais populares de 2023. Também vamos dar uma passada pela evolução do gerenciador de senhas do macOS, o Acesso às Chaves (Keychain Access).
Por que ter um gerenciador de senhas em 2023?
Como dito, não é exagero dizer que as senhas como as conhecemos estão com os dias contados. Várias empresas já começaram a implementar as Chaves-senha em seus respectivos aplicativos e sistemas, o que inclui nomes como Google e a própria Apple.
Caso você ainda não esteja ligado nesse assunto, as Chaves-senha são um padrão desenvolvido pela FIDO Alliance para deixar você usar recursos como o Face ID ou o Touch ID para realizar logins, livrando-o de ter que digitar uma senha. A autenticação é feita por meio de tokens públicos criptografados que são gerados e armazenados no próprio dispositivo do usuário, o que torna as Chaves-senha bem mais seguras contra vazamentos e tentativas de phishing.
Mesmo assim, é verdade que ainda estamos no início desse processo, o qual provavelmente levará alguns anos para se concretizar. Enquanto isso, na maior parte do tempo, continuaremos digitando as boas e velhas senhas para acessar nossas contas. E se tem uma coisa que não mudou de 2016 para cá é que lembrar todas as nossas credenciais de cabeça — isso se você tem o costume de usar diferentes combinações (se não, deveria) — continua sendo uma tarefa praticamente impossível.
Para lhe ajudar a escolher o seu gerenciador de senhas preferido, listamos abaixo as vantagens e desvantagens de quatro dos gerenciadores de senha mais famosos do mercado. Ah, como vários recursos desses gerenciadores seguem inalterados, decidimos focar apenas no que de fato mudou e/ou continua diferente. Por isso, talvez seja uma boa ideia revistar o nosso primeiro comparativo, caso você esteja atrás de uma informação mais específica.
1Password
Requer o iOS 16.4 ou superior
- Compatibilidade: macOS, Windows, Linux, iOS, watchOS e Android, além de uma versão para a web (agora disponível também no plano individual) e CLI (sigla em inglês para Interface de Linha de Comandos)
- Extensões: Safari, Chrome, Firefox, Edge e Brave
No momento, o 1Password encontra-se em sua oitava edição, que estreou um novo visual unificado e causou certa polêmica ao deixar de ser nativa no macOS para rodar em cima do framework Electron. Ela, entretanto, segue com o bom e velho sistema de cofres do gerenciador.
O recurso Torre de Vigia (Watchtower) — que, entre outras coisas, envia alertas de segurança caso alguma informação sua tenha sido comprometida por um vazamento de dados — foi um dos que mais mudaram nos últimos anos. Agora disponível também na versão do app para dispositivos móveis, ele ajuda a identificar logins com senhas fracas, repetidas ou que ainda não tiveram a autenticação multifator ativada.
O Modo Viagem (Travel Mode) também deve ser levado em conta. Com ele, o usuário consegue “apagar” itens temporariamente do seu app enquanto estiver numa viagem, evitando que eles caíam nas mãos erradas caso algo de ruim aconteça. Se você ainda desejar manter algumas informações ao seu alcance, é possível marcar um cofre em específico como “seguro para viagem”; assim, os itens dele seguem salvos normalmente.
O 1Password é um dos gerenciadores de senhas que já suportam as Chaves-senha completamente, permitindo que você sincronize suas credenciais entre todos os seus dispositivos. O recurso está disponível nas suas versões para Macs, iPhones, iPads, PCs com Windows e dispositivos Android. Ele também deixa você apagar, compartilhar e editar suas Chaves-senhas como quiser.
O gerenciador também deixa você trazer logins diretamente de navegadores como Safari, Chrome, Firefox e Brave, além de outros apps a partir de arquivos CSV — os quais, infelizmente, não incluem itens como notas e arquivos. Um diferencial do 1Password é utilizar arquivos 1PUX para transferir os seus dados, os quais conseguem incluir mais itens além de logins.
Outra coisa que mudou de 2016 para cá é o sistema de preços do 1Password, que deixou de se basear em uma compra única de US$65 no desktop e outra de US$10 no mobile. Agora, o gerenciador sai por US$3 mensais no plano individual ou US$5 mensais no plano familiar. Há também a opção de assinar o 1Password pela App Store por R$20 mensais ou R$178 anuais.
LastPass
- Compatibilidade: macOS, Windows, Linux, iOS, watchOS, Android e Chrome OS
- Extensões: Safari, Chrome, Firefox, Opera e Edge
O LastPass já não tinha a melhor das reputações em 2016 e, em 2023, a barra dele está ainda pior. No fim do ano passado, crackers se aproveitaram de uma vulnerabilidade no computador de um dos funcionários da empresa para obter acesso a backups e dados de usuários, o que resultou em um dos maiores vazamentos dos últimos tempos. O próprio 1Password — um dos seus maiores concorrentes — chegou a criticá-lo publicamente pelo incidente.
Se você estava considerando escolher o LastPass para ser o seu gerenciador no dia a dia, isso tudo com certeza deve ser levado em conta, afinal, estamos falando da segurança das suas informações pessoais. Mesmo assim, se você ainda quiser dar uma chance ao serviço — que ainda é muito popular, diga-se de passagem —, é bom dar uma conferida nos seus pontos positivos e negativos.
O LastPass conta com uma versão 100% gratuita, embora ela tenha sido consideravelmente “capada” nos últimos anos. Além de salvar as suas senhas para você, ela também preenche campos de login automaticamente, sugere credenciais fortes e todo o “básico” que você pode esperar de um gerenciador de senhas.
Também é possível importar logins de outros 30 serviços no mercado, incluindo o 1Password, o Dashlane e o Bitwarden. Se por acaso você usa um gerenciador que não está na lista de serviços suportados pelo LastPass, ainda é possível transferir seus dados com um arquivo CSV.
Embora ainda não estejam disponíveis em nenhuma forma, as Chaves-senha já estão a caminho do LastPass. Sem dar uma data específica, a companhia disse que a novidade chegará em algum momento no fim de 2023.
O grande problema é que, recentemente, o LastPass passou a limitar o uso e a sincronização da sua versão gratuita apenas para um tipo de dispositivo. Em outras palavras, isso significa que você só vai ver as suas credenciais aparecerem nos seus outros dispositivos caso todos eles sejam smartphones/tablets ou computadores. Uma limitação bastante irritante, para dizer o mínimo.
A versão paga, que custa US$3/mês no plano individual ou US$4/mês no plano familiar (ambos numa cobrança anual), desbloqueia vantagens como a possibilidade de compartilhar itens com mais de uma pessoa, dispositivos ilimitados, 1GB de armazenamento na nuvem para anotações seguras e suporte personalizado. Na App Store, ele pode ser assinado por R$153 anuais.
Dashlane
- Compatibilidade: macOS, Windows, iOS, watchOS, Android, Linux e Chrome OS
- Extensões: Safari, Chrome, Firefox, Edge e… IE (sim, o saudoso navegador da Microsoft)
O Dashlane é um gerenciador que tem ganhado bastante tração nos últimos anos, além de ter um recurso bastante único: a capacidade de monitorar constantemente a dark web por dados do usuário. A maioria dos seus concorrentes até possui recursos de segurança capazes de alertar sobre vazamentos, mas nada tão profundo assim.
Outro diferencial desse gerenciador é o serviço de VPN1Virtual private network, ou rede privada virtual. ilimitado que vem incluso junto com os planos pagos. Cortesia da Hotspot Shield, ele está disponível apenas para o administrador do grupo e também pode ser assinado individualmente. Por isso, se você está à procura de serviço “tudo-em-um”, o Dashlane pode muito bem ser a melhor opção desta lista.
Recentemente, o serviço finalmente passou a suportar as Chaves-senha tanto no iOS 17 e no Android quanto na web, permitindo que usuários salvem suas credenciais e usem o gerenciador para realizar logins com o novo padrão. O serviço segue sem um app dedicado para computadores, contudo, permite trazer dados de outros gerenciadores com arquivos CSV.
O Dashlane custa US$3,33/mês no plano individual e US$5/mês no plano familiar (até 10 usuários) — isso optando pela assinatura anual. Na App Store, ele sai por um preço surpreendentemente mais conta que os seus rivais: R$3,50/mês no plano premium individual e R$5,50/mês no plano familiar. Se você optar pela assinatura anual, ele sai por R$34,90/ano ou R$52,90/ano.
Ele também tem um plano gratuito e relativamente completo, mas que está limitado a apenas um dispositivo e só permite salvar até 50 senhas. Novos usuários, contudo, podem experimentar o Dashlane premium por 30 dias sem pagar nenhum centavo.
Bitwarden
- Compatibilidade: macOS, Windows, iOS, watchOS, Android e Linux
- Extensões: Safari, Chrome, Firefox, Edge, Opera, Brave e Tor
Se você está à procura de um gerenciador de senhas gratuito e completo, o Bitwarden com certeza é uma boa opção. Embora a sua versão paga ofereça alguns benefícios, basicamente todos os recursos do gerenciador podem ser aproveitados sem que o usuário precise investir um centavo sequer.
Importar as suas credenciais armazenadas em outro serviço também é tranquilo. Além de arquivos CSV, ele também suporta arquivos JSON (criptografados ou não). A coisa só fica um pouquinho mais complicada se você estiver vindo do 1Password, já que ele não possui suporte a arquivos 1PUX, que trazem todos os dados do usuário — ainda é possível migrar usando um arquivo CSV, no entanto.
O grande chamariz do Bitwarden é o fato de ele ser de código aberto, o que com certeza contribui para aumentar a confiança de usuários quanto à sua segurança. Você pode até mesmo criar o seu próprio servidor para sincronizar suas credenciais, caso prefira uma experiência mais personalizada.
Você também não está limitado a apenas um tipo de dispositivo. Acredite ou não, você pode até mesmo instalar uma versão “portátil” do app do Bitwarden para Windows em um dispositivo de armazenamento flash. Assim, você consegue acessar o gerenciador completo de qualquer aparelho sem precisar instalá-lo novamente na máquina.
Algo a se prestar atenção é que a versão gratuita do Bitwarden não conta com backups automáticos, o que pode ser um problemão e tanto caso algo aconteça. Ele também ainda não tem suporte às Chaves-senha, mas isso está marcado para chegar ainda neste mês.
A boa notícia é que assinar a versão paga do Bitwarden não vai doer tanto assim no seu bolso. De acordo com o site oficial do gerenciador, ele sai por US$10 anuais no plano individual ou US$40 anuais no plano familiar — uma boa opção para quem não gosta de ser cobrado todo mês.
Acesso às Chaves (Keychain Access)
No nosso comparativo de 2016, dissemos que, embora fosse uma solução válida (e gratuita) para usuários de Macs, o Acesso às Chaves estava longe de ter a mesma robustez que outros gerenciadores de senhas do mercado.
Se você por acaso parou de usar o app naquela época ou simplesmente quer saber se hoje ele é uma boa alternativa aos gerenciadores senhas pagos, saiba que as notícias não são lá muito boas. O Acesso às Chaves praticamente não mudou nos últimos sete anos, tendo sido apenas adaptado para as mudanças visuais promovidas principalmente pelo macOS Big Sur 11.
O app segue com as mesmas poucas categorias de sempre (Senhas, Notas Seguras, Certificados e Chaves), as quais podem ser utilizadas para organizar seus itens/credenciais e segue meio “escondido” no sistema operacional — o que com certeza não ajuda a trazer novos usuários.
Ele também segue usando as Senhas do iCloud (iCloud Keychain) para sincronizar seus dados com outros dispositivos Apple. Esse recurso, por sua vez, recebeu algumas novidades neste ano, como a possibilidade de compartilhar logins e Chaves-senha com familiares e amigos de forma segura.
Menções honrosas
NordPass
Uma das soluções mais recentes desta lista, o NordPass é uma boa opção principalmente para quem já usa algum serviço da NordVPN, como a VPN que dá nome à empresa.
Apesar de ser relativamente recente, ele já é bem maduro. Além de fazer tudo o que você espera de um gerenciador de senhas, o NordPass já suporta as Chaves-senha e possui extensões para Safari, Firefox, Chrome, Opera e Brave, além de apps para macOS e Windows, iOS/iPadOS e dispositivos Android. Infelizmente, ainda não existe um app para Apple Watches.
Ele também conta com um plano gratuito, mas se você quiser todos os recursos, saiba que ele sai pelo o equivalente a R$6,90 mensais no plano de dois anos (R$165,60). No plano família, a coisa sai por R$9,90 mensais também no plano de dois anos (R$237,60).
Nós do MacMagazine, vale lembrar, já publicamos um review completo do NordPass. Nele, você pode ver todos os pontos positivos e negativos do gerenciador de senhas da NordVPN.
Kaspersky Password Manager
Requer o iOS 15.0 ou superior
Assim como o NordPass, o Kaspersky Password Manager também pode ser uma boa opção caso você já use algum produto da famosa empresa de segurança. Com um plano gratuito que suporta infinitos dispositivos, mas apenas cinco senhas e documentos combinados, ele é relativamente barato, custando R$64,90 por ano (ou R$58,90 para novos assinantes).
Disponível para macOS, Windows, iOS/iPadOS (nada de watchOS) e dispositivos Android, ele também possui extensões para Safari, Chrome, Firefox, Edge, Opera. Infelizmente, ele ainda não conta com suporte às Chaves-senha, mas é compatível com a autenticação multifator e pode armazenar vários tipos de informações e arquivos.
Assim como o LastPass, o KPM já teve sua dose de polêmicas no passado. Em 2021, pesquisadores descobriram uma falha no recurso que identifica senhas fracas e gera substituições fortes, o qual, para ser direto, não estava fazendo nenhuma dessas duas coisas direito.
De acordo com as informações da época, basicamente, a ferramenta estava sugerindo senhas que podiam ser facilmente quebradas por softwares maliciosos — isso sem sinalizar que elas poderiam estar comprometidas. A Kaspersky, contudo, corrigiu o problema rapidamente.
Obviamente, existem incontáveis outros gerenciadores no mercado, os quais podem muito bem ser a sua opção de escolha. Para deixar as coisas um pouco mais enxutas, contudo, decidimos falar apenas das ferramentas citadas acima — sem dúvida alguma, as mais populares da atualidade.
Não importa qual solução você acabe adotando, é sempre uma boa ideia apostar num gerenciador de senhas dedicado para proteger as suas credenciais. Embora alguns sistemas operacionais como o iOS ofereçam soluções nativas e gratuitas, o recomendado é não associar esse tipo de informação a apenas uma conta. Do contrário, caso você seja vítima de algum vazamento ou coisa do tipo, a pessoa que invadir sua conta terá acesso não a ela, mas também a todas as suas outras.
E aí, qual o seu gerenciador de senhas favorito? Comente abaixo! 🙂
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Notas de rodapé
- 1Virtual private network, ou rede privada virtual.
