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Apple a US$3 trilhões — bolha ou oportunidade?

Frank Gaertner / Shutterstock.com
Apple Store em Londres lotada de pessoas

Como você acompanhou aqui no MacMagazine, no primeiro pregão de 2022 a Apple conquistou um feito histórico: tornou-se a primeira empresa do mundo a ultrapassar a marca dos US$3 trilhões em valor de mercado. É verdade que esse valor não foi mantido por muito tempo, mas certamente a empresa irá se consolidar nessa faixa de valor. Além do valor impressionante, chama também a atenção a velocidade com que ela saiu de US$2 para US$3 trilhões: apenas 17 meses!!

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Diante dessa notícia, diversos especialistas passaram a discutir se esse valor representa uma realidade de mercado ou uma bolha que pode estourar a qualquer momento. Vale lembrar que a arte de avaliar empresas está longe de ser uma unanimidade. Um dos maiores especialistas do assunto é o indiano Aswath Damodaran, cujo livro “Valuation” (com esse nome mesmo em português) é um bestseller mundial.

Uma vez que este é um site especializado no mundo Apple, acredito que cabe aqui trazer nossos five cents de contribuição para essa discussão. Vamos entender um pouco sobre o que esse valor significa e as variáveis relacionadas à sua avaliação (procurando ao máximo fugir do “financês”); ao final, você poderá tirar suas próprias conclusões.

A lógica do mercado

Primeiramente, vamos analisar um pouco da lógica de precificação do mercado. Lição número 1: na maioria das vezes não há uma lógica. Quem investe nas ações de uma empresa, o faz basicamente com um de dois objetivos: construir patrimônio de longo prazo e receber dividendos ou especular e ganhar na valorização do papel, comprando na baixa e vendendo na alta.

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Acontece que esses movimentos de alta e baixa não são necessariamente racionais — aliás, vale lembrar que dois prêmios Nobel de economia foram concedidos a estudiosos das chamadas Finanças Comportamentais. Nossa relação com as finanças é muito mais emocional que racional. Fica aqui uma sugestão de leitura sobre esse tema: “A Psicologia Financeira”, de Morgan Housel, uma excelente leitura para compreender melhor como nos relacionamos com os investimentos.

Mas voltando ao mercado, um dos livros mais famosos sobre investimentos e que foi a bíblia do maior investidor do mundo, Warren Buffett, é o clássico “O Investidor Inteligente” de Benjamin Graham. Buffett, baseado nesse livro, compara o mercado a uma pessoa temperamental que muda de opinião rapidamente sobre as empresas e sua “irritação” pode baixar o preço das ações de uma organização sem um motivo real, assim com seu “otimismo” pode aumentar as ações de maneira infundada. Por isso é tão difícil a vida dos “day traders”, que tentam entender o mercado dentro do pregão de um dia, tarefa hercúlea e que costuma dar dinheiro apenas para quem vende cursos na área.

Sendo assim, Graham aconselha que a melhor forma de investir é escolher boas empresas, com perspectiva de crescimento e lucratividade futuros, além de solidamente estabelecidas tanto financeira quanto economicamente. A esse tipo de análise, se dá o nome de “Análise Fundamentalista”. No livro “O jeito Warren Buffett de Investir”, existe um conteúdo bastante acessível e interessante sobre como analisar empresas sob essa ótica.

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Resumo da ópera: de forma bem simples, uma das maneiras mais seguras de avaliar empresas que representam bons investimentos não está relacionada necessariamente ao hoje, mas a seus fundamentos com foco no longo prazo e que podem garantir sua longevidade, lucratividade e sustentabilidade no futuro.

Fundamentos da Apple

Como toda empresa de capital aberto (aquelas que possuem ações em bolsas de valores), a Apple disponibiliza publicamente — a cada trimestre — seus relatórios econômicos e financeiros, bem como o consolidado por ano. Caso você tenha curiosidade, pode acessá-los (naturalmente em inglês) na página de relação com investidores. O relatório é bastante interessante e não traz apenas números, mas as perspectivas da empresa e sua visão de produtos.

Para este artigo, peguei apenas três indicadores para demonstrar a força da empresa.

  • Crescimento em vendas: nesta primeira tabela, podemos observar o crescimento de vendas da Apple em 2021 em relação a 2020 (lembrando que o ano fiscal da empresa se encerra em setembro). Nota-se um crescimento de 33% nas vendas gerais, alcançando mais de US$365 bilhões, com destaque para os iPhones que cresceram suas vendas em 39%.
Fonte: Form 10-K da Apple
  • Despesas Operacionais: aqui, encontramos um demonstrativo das despesas operacionais da Apple. Podemos notar que impressionantes 12% são de despesas, um valor bastante baixo. Não estamos analisando aqui o custo dos produtos em si, mas as despesas para que eles sejam vendidos, divididas em dois grupos: pesquisa e desenvolvimento (6%) e despesas gerais de vendas e administrativas (6%). Um número que demonstra a eficiência da empresa em sua operação.
Fonte: Form 10-K da Apple
  • Margem bruta: esse número refere-se ao percentual de lucro que a empresa tem antes de despesas operacionais, impostos e despesas financeiras. Mais uma vez, os números são impressionantes. Em seus produtos, a margem da Apple chegou a 35,3% em 2021 e nos serviços, expressivos 69,7%, alcançando a média de 41,8% de margem bruta geral.
Fonte: Form 10-K da Apple

Poderíamos falar de muitos outros indicadores aqui, como liquidez, fluxo de caixa, endividamento, etc., mas o objetivo não é dissecar os relatórios, e sim destacar pontos interessantes que demonstram as perspectivas futuras da empresa.

Vantagem competitiva

Para Buffett, além de fundamentos sólidos, uma empresa precisa ter o que ele chama de Vantagem Competitiva, ou seja, um pacote de produtos e serviços que a diferencie de outras e possam mantê-la distante de suas concorrentes.

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Quando analisamos o futuro da Apple, podemos ter uma perspectiva bastante promissora. A área de serviços (que, como vimos, traz uma margem bruta impressionante de 69,7%) está apenas começando. O serviço de streaming tem recebido milhões de dólares em investimento para novas produções e conteúdo com foco em diferentes públicos; a chegada do Lossless e do Áudio Espacial representaram um diferencial para o Apple Music; o serviço Fitness+ pode ser considerado ainda um bebezinho e tem um espaço enorme para crescer, tendo em vista o aumento constante do interesse das pessoas em cuidar da saúde.

Analisando seus produtos, a chegada do Apple Silicon, revolucionando os chips da empresa, a constante busca pelos iPhones, a liderança de mercado do iPad e as perspectivas dos óculos de VR/AR e do “Apple Car”, podemos ver que existe muito ainda para ser explorado.

Será que Buffett considera a Apple uma que encaixa em seus critérios de investimento? Bom, vale lembrar que sua empresa, a Berkshire Hathaway, compra sistematicamente ações da Apple desde 2016, atingindo uma participação de cerca de 5% no capital da investidora em 2018. Mesmo que tenha diminuído um pouco sua posição, calcula-se que essa recente valorização da fabricante dos iPhones tenha representado cerca de US$160 bilhões para o velhinho investidor inteligente.

Conclusão

Longe de ser uma recomendação de investimento, uma análise profunda de mercado ou uma avaliação do valor de mercado da Apple, o objetivo deste artigo foi apenas trazer alguns dados interessantes sobre a empresa mais valiosa do mundo. Se você pensa em investir no longo prazo e tem estômago para suportar as variações da bolsa, essa pode ser uma boa opção. Tomei essa decisão dois anos atrás e não tenho do que me arrepender!

E você? O que acha do investimento em Apple? Quer ser só consumidor mesmo ou deseja ser sócio do Tim Cook? Deixe as suas impressões aí nos comentários!

NOTA DE TRANSPARÊNCIA: O MacMagazine recebe uma pequena comissão sobre vendas concluídas por meio de links deste post, mas você, como consumidor, não paga nada mais pelos produtos comprando pelos nossos links de afiliado.

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