Há exatos 20 anos, Steve Jobs subiu ao palco do auditório no campus de Infinite Loop para um evento pequeno, quase intimista, focado em música. O que sairia dali, por outro lado, seria inversamente proporcional à escala da keynote: foi naquele dia, que hoje completa duas décadas, que a Apple apresentou ao mundo o primeiro iPod.
Com o conceito simples, porém matador, de levar 1.000 músicas no seu bolso, o iPod superou o ceticismo inicial — seus críticos acreditavam que um “mero MP3 player” estava abaixo do potencial da Apple e de Steve Jobs, como bem relembrou esse artigo do MacRumors — e tornou-se, junto ao iMac G3, um dos símbolos do renascimento da Apple na segunda era de Jobs no comando da empresa. De certa forma, se a Maçã de hoje é uma das maiores empresas do mundo, o iPod é um dos principais responsáveis por isso.
Obviamente, o iPod não era um MP3 player qualquer. A simplicidade da sua interface era inigualável à época, e a integração do dispositivo com a iTunes Store — uma revolução por si só para a indústria fonográfica — permitia que, pela primeira vez, usuários tivessem uma forma simples de adquirir músicas digitalmente num ambiente centralizado, seguro e fácil de usar.
Também vale uma menção o advento da Click Wheel — ou, nas versões iniciais do produto, a Scroll Wheel, que girava fisicamente. O próprio Jobs, na apresentação do iPhone alguns anos depois, reconheceu a tecnologia como um dos métodos de interação eletrônica fundamentais introduzidos pela Apple: além da Click Wheel, teríamos também o mouse do Macintosh original e o controle multitoque do iPhone.
A essa altura, é chover no molhado dizer que o iPod virou um elemento gravado a laser na cultura pop. A imagem dos fones brancos virou um símbolo de status, e as campanhas da Apple — como as memoráveis propagandas com as silhuetas — entraram no imaginário popular e tornaram-se parte indistinguível da “cara” deste então incipiente século XXI.
Aliás, há alguns dias vimos o lançamento dos AirPods de terceira geração — e não é que seu comercial tem um pouco dessa pegada?
A partir do iPod original, uma linha completa de produtos nasceu: o flagship da linha passou por diversas mutações, tornando-se o iPod photo quando ganhou uma tela colorida de maior definição, o iPod video quando passou a reproduzir vídeos e o iPod classic na reta final da sua vida.
Os iPods mini e nano foram versões menores (e ultrapopulares) desta receita, responsáveis por popularizar o armazenamento em flash em dispositivos móveis, enquanto o iPod shuffle inovou ao priorizar a aleatoriedade da vida — e das músicas — num dispositivo sem tela e extremamente acessível.
Hoje, a família sobrevive por aparelhos somente com o iPod touch — que, apesar do nome, pode ser melhor descrito como um iPhone sem capacidades celulares. O espírito original dos iPods pode ter ficado para trás — a categoria foi engolida pela revolução dos smartphones, junto a tantas outras —, mas sua atitude, sua irreverência e seu caráter icônico permanecem nos nossos corações.
Nesse sentido, vale ler essa entrevista de Tony Fadell, um dos criadores do iPod, com a CNET. Segundo Fadell, que foi contratado por Jobs inicialmente para um simples “cargo de consultoria”, a trajetória de desenvolvimento do dispositivo foi tortuosa e extremamente arriscada — nem mesmo Jobs estava inicialmente convencido de que um dispositivo do tipo daria certo, e só concordou com as ideias de Fadell após semanas de reuniões.
Tivemos muitos momentos de “caramba, será que isso vai funcionar?”. Nós realmente não sabíamos. […] O trabalho era sem parar, sete dias por semana.
A entrevista toca ainda sobre os anos seguintes de desenvolvimento do iPod e alguns dos seus momentos-chave, como o acordo da Apple com o U2 para a criação de uma edição especial do dispositivo, e sobre os anos de Fadell pós-Apple. Segundo o executivo, ele ainda usa seu iPod de vez em quando — para ele, o iPod é uma “excelente mixtape” da música do início dos anos 2000.
Quem por aí ainda tem um iPod para chamar de seu? Deixem suas memórias, suas homenagens e suas considerações logo abaixo. Eis aqui a minha contribuição — um já alquebrado (mas ainda funcional!) iPod shuffle de 2005, herdado de um amigo e que me acompanhou por tantos momentos ao longo dos últimos anos.
Vida longa ao iPod! 🥳
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