Não é incomum vermos comentários de leitores reclamando dos nossos sucessivos artigos sobre o que tem acontecido em fábricas da Foxconn na China, afirmando que o que acontece lá não diz respeito a nós. Pois o New York Times fez hoje uma análise apurada sobre a questão e já prevê o que ocorrerá em breve: um aumento considerável nos custos de produção.
Acontece que toda aquela mamata de “mão de obra barata” na China está, aos poucos, indo pro ralo. Fabricantes como Apple, HP, Dell e muitas outras há anos aproveitam os baixos custos salariais entre trabalhadores chineses para montar seus produtos e, de lá, exportá-los para o resto do mundo.
Com a atenção da mídia mundial focada em casos de envenenamento, suicídios e más condições de trabalho na China, trabalhadores estão se revoltando com as longas jornadas e pressões constantes em seus empregos, enquanto continuam recebendo merrecas em troca (menos de US$1 por hora, na maioria dos casos).
O aumento iminente nesses custos na China pode, portanto, significar aumentos (in)diretos nos preços de produtos que chegam às nossas mãos, aqui no Ocidente — já que a Apple e outras dificilmente serão “bondosas” a ponto de sacrificarem seus lucros para resolver a questão. Até mesmo o yuan está sendo mais valorizado pelo governo chinês.
A médio-longo prazo, é possível que vejamos essas fabricantes inovando em linhas de produção (possivelmente com uso extensivo de máquinas/robôs — mas isso também requer um elevado investimento inicial) ou até mesmo procurando alternativas em outros países e regiões. Isso, quem sabe, seja até uma boa notícia para nós: estaríamos, agora, numa boa posição para receber uma fábrica da Apple em terras tupiniquins?
Nessas horas, vale lembrar das companhias que somente prestam serviços ou são focadas em softwares; estas não são nem um pouco afetadas pela questão. Daí, podemos tirar um grande nome que deve estar pra lá de sorridente vendo tudo isso acontecer: Google. Vocês poderiam citar o Nexus One, é claro, mas este já foi pro beleléu.