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Em vídeos “inéditos” de 1992, Steve Jobs fala sobre a saída da Apple e dá dicas de negócios [atualizado: vídeo completo]

Steve Jobs no MIT, em 1992

Steve Jobs podia ser um déspota extremamente vaidoso com sérios problemas de temperamento, mas, entre suas inúmeras qualidades, uma é a que provavelmente faz mais falta: sua retórica irretocável e a capacidade de falar sobre os mais diversos assuntos, dos mais triviais aos mais elevados, conquistando seus interlocutores imediatamente e projetando uma aura de encantamento sobre suas palavras.

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Portanto, qualquer registro inédito de Jobs falando o que quer que seja é um achado e tanto — e se esse registro envolve declarações interessantes sobre a sua saída da Apple e algumas boas dicas de administração, o material eleva-se ao status de pequeno tesouro.

O canal do YouTube Deliberate Think tem exatamente isso nas mãos: vídeos com trechos de uma “aula” de Jobs a uma turma do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em 1992 — no caso, “aula” entre aspas porque o criador da Apple nunca foi professor; ele esteve na universidade como convidado para conversar com alguns sortudos alunos, que lhe fizeram perguntas sobre a sua saída forçada da Apple, em 1985, e pediram dicas de gestão e administração ao gênio cocriador da Maçã.

Os vídeos têm legendas apenas em inglês, mas vamos destacar alguns dos pontos mais importantes de cada um (nota: alguns trechos foram editados por clareza, sem perder o sentido original).

Sobre o fracasso do Apple III e do Lisa

https://www.youtube.com/watch?v=edyOIwyEhoo

Na minha experiência, você leva em torno de cinco anos para criar um produto que tire proveito de alguma janela técnica que se abra. Às vezes você começa antes que a janela esteja aberta, então você empurra para que ela abra. Ás vezes dá trabalho — deu trabalho com o Apple II e com o Mac. Tivemos que sacrificar o Lisa no caminho, US$100 milhões. Nós apresentamos aquele cubo e vendemos 10 mil deles. Porque ainda não tínhamos chegado lá e cometemos alguns erros no caminho, tivemos que corrigir. O Macintosh foi a correção desse caminho. E com o Apple II e Apple III, foi o inverso.

Sobre ser demitido da Apple e o foco em usuários comuns

https://www.youtube.com/watch?v=D4giQudg9R8

Obviamente, eu pensei muito sobre isso e eu não quero entrar muito nesse assunto, mas eu digo que todo mundo perdeu alguma coisa. Eu acho que eu perdi, e eu queria passar minha vida toda lá. Eu acho que a Apple perdeu. Eu acho que os consumidores perderam. Mas e daí? Você segue em frente. Não é tão ruim quanto muita coisa, como perder o seu braço. E eu ainda fico feliz a cada Mac que a Apple vende.

A Apple decidiu ser a Sony dos computadores, então os PowerBooks são muito bons, mas os Quadras são horríveis agora, os produtos mais caros. Eles não estão investindo muito nos usuários profissionais de desktops e colocaram os seus melhores engenheiros nos portáteis e nos produtos para consumidores comuns. Eu acho que eles vão se sair muito bem nessa, mas há o problema que, se você olhar os produtos para consumidores comuns, dá para contar nas mãos os que vendem mais que 1 milhão de unidades por ano. Se você tem dois desses produtos, a um preço sugerido de US$795, é uma receita de US$2 bilhões no ano. Você precisa encontrar os outros US$6 bilhões em algum lugar. Então vai ser uma transição interessante.

Sobre “os inimigos da portabilidade”

https://www.youtube.com/watch?v=mHI9krPCPd0

O que está acontecendo agora com Macs e PCs é que muitos deles serão portáteis em breve. Serão menores e mais leves daqui a pouco tempo. E eles estão pegando a tecnologia que temos hoje, sem mudá-la significativamente, e colocando-a nos portáteis — e, com isso, sacrificando algumas coisas. A velocidade é a inimiga da portabilidade, porque exige energia; então a velocidade que os consumidores exigem hoje só duraria três minutos e meio com uma bateria, o que é inútil. Eles também querem memória, que também é inimiga da portabilidade, e redes de alta velocidade, e telas com qualidade fotográfica. Então esses são os inimigos de hoje.

Sobre a sua filosofia de contratações

https://www.youtube.com/watch?v=5CDk11t-iWA

O que acontece é que, geralmente, eu conheço alguém que vai muito bem no que faz e você não consegue contratar a pessoa. Você tenta achar outros e ninguém se compara, então você sempre irá comparar os outros a essa pessoa. E você sabe que terá que se satisfazer com a segunda melhor se você ceder. Eu sempre achei melhor não ceder e continuar insistindo.

Sobre como demitir pessoas

https://www.youtube.com/watch?v=k8u6UTvRang

Eu acho que a melhor forma de gerenciar algo é juntar todos numa sala e conversar até que todos concordem. Não necessariamente todos na empresa, mas todos os envolvidos na decisão e que precisam executá-la. É assim que tentamos tocar a NeXT. Na NeXT, nós temos uma equipe supervisora, de oito pessoas — eu estou nela — e o que nós fazemos é separar as decisões importantes das que não precisamos fazer. E as mais importantes, nós trabalhamos até concordarmos. […] E quando uma pessoa não quer de forma nenhuma ir na mesma direção que nós, é meu trabalho, de vez em quando, dizer “você quer ir por esse lado, nós queremos ir por esse lado. Não está funcionando”. Mas quando as pessoas estão na equipe, nós resolvemos.

Sobre linguagem de programação e objetos

https://www.youtube.com/watch?v=TlAbcO_Flsk

O código mais fácil de escrever, de manter e que quebra menos é o que você não escreve. Essa é a nossa estratégia: escrever menos código. E uma das formas de fazer isso é permitir que os desenvolvedores usem objetos que outros escreveram. Nós enviamos o equivalente a seis anos de objetos com o NeXTSTEP. Você pode criar seus objetos para a sua empresa e reutilizá-los com seus desenvolvedores. […] Nós acreditamos nos benefícios desses ambientes com base em objetos, do desenvolvimento rápido ao ambiente muito mais rico para o usuário.

Sobre estratégias de negócios na NeXT

https://www.youtube.com/watch?v=R9hhiFpbnRY

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Nossa estratégia é fazer muitas coisas bem, mas a ponta da nossa lança, nosso Cavalo de Troia, é o nosso ambiente de desenvolvimento de programas para empresas. Então nosso crescimento depende, entre outras coisas, da comunidade de desenvolvedores disponível para essas empresas. Portanto, mesmo tendo diminuído o tempo de desenvolvimento, sem desenvolvedores por aí, nós não venceremos. Felizmente, eu vejo as empresas aumentando as suas equipes de desenvolvimento, então não acredito que esse será um obstáculo.

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Fantástico, não?

Atualização 11/04/2018 às 18:05

Por algum motivo, os vídeos acima foram apagados do YouTube, mas o leitor Leandro Favarin deu uma dica ainda mais legal: há um registro da aula completa de Jobs no MIT!

YouTube video

O vídeo de mais de uma hora foi postado no fim do ano passado por um canal da própria universidade, mas passou despercebido à época. Vale muito a pena assistir, se você tiver um tempo.

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