O melhor pedaço da Maçã.
Ben Mendelsohn e John Malkovich em "The New Look"

Com a excelência de “The New Look”, Apple TV+ tem sua primeira grande série de prestígio

Você sabe exatamente a que eu me refiro quando falo em uma “grande série de prestígio”. Estou falando daquelas megaproduções opulentas, com um toque meio épico, com elencos caros e cheios de nomes conhecidos, que trazem talentos de renome também para trás das câmeras e conseguem, de alguma forma, se sustentar em meio a todo o peso do hype e criar algo belo, transcendental até, para além de todo esse luxo e riqueza.

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Você sabe que eu estou me referindo àquela fórmula que a HBO basicamente criou e aperfeiçoou ao longo dos últimos 30 anos. Você sabe que eu estou falando de “The West Wing”, “Angels in America”, “Roma”, “Deadwood”, “Succession” ou, para falar de outras produtoras/plataformas, “The Crown”, “Downtown Abbey” e “The Americans”. E não se engane — nós, no Brasil, também temos nossas próprias versões das grandes séries (ou minisséries) de prestígio, vide “Anos Rebeldes”, “A Casa das Sete Mulheres” e “Justiça”.

Você também sabe que, até o momento, o Apple TV+ não tem uma grande série de prestígio para chamar de sua. “Ruptura” (“Severance”), melhor coisa produzida pela plataforma até o momento, não tem a grandiosidade requerida para o fardo. “The Morning Show” cumpre o requisito do elenco superestrelado, mas perde o posto por ser um novelão (sim, um novelão delicioso, mas ainda assim) sem grandes pretensões. “For All Mankind” não tem o star power necessário. Achamos que “Masters of the Air” seria a primeira a cumprir esse papel, mas a história pouco envolvente acabou nos deixando a ver aviões… digo, navios.

Bom, a espera acabou: com sua produção luxuosa, elenco de peso, direção com personalidade na medida certa e um roteiro equilibrando-se delicadamente entre o épico histórico e os dramas pessoais, “The New Look” — que chegou ao Apple TV+ na última quarta-feira, com seus três primeiros episódios já disponíveis — é a primeira grande série de prestígio da Apple.

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Como já amplamente divulgado, a narrativa da série centra-se no estilista Christian Dior (Ben Mendelsohn) conforme sua grife causa uma espécie de revolução em Paris, no contexto do pós-Segunda Guerra, com suas coleções — informalmente apelidadas, muito apropriadamente, de “The New Look” — repletas de peças até então consideradas impensáveis ou imorais, como blazers, saias curtas, cinturas finas e estampas inspiradas em peles de animais. 

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No processo, Dior levanta o moral de uma cidade arrasada pela guerra e ainda sentindo os horrores da ocupação nazista, reerguendo Paris ao seu posto — perdido para centros como Nova York e Los Angeles — de epicentro da moda e da alta costura. Ao mesmo tempo, entretanto, o protagonista precisa lidar com uma concorrência formidável: Coco Chanel (Juliette Binoche), outrora a mais poderosa estilista do mundo e tentando se reerguer após um desconfortável histórico de colaboração com os nazistas.

Apenas a dobradinha sensacional de Dior e Chanel poderia render uma série inteira, mas “The New Look” vai além, explorando a influência de outras figuras em ascensão no universo da moda à época, como Cristóbal Balenciaga (Nuno Lopes) e Pierre Balmain (Thomas Poitevin), além da figura dúbia do costureiro Lucien Lelong (o inigualável John Malkovich, finalmente recebendo um papel à sua altura depois de anos de seca).

Juliette Binoche e Claes Bang em “The New Look”.

Ou seja, temos aqui, para início de conversa, um prato cheio para qualquer pessoa que admire o mundo da haute couture ou uma análise dos movimentos artísticos e sociais, seja no meio que for, que transformam o mundo. Aliás, um dos grandes trunfos da série está em nunca ceder às frequentes, digamos, frivolidades do mundo da moda — em “The New Look”, projetar vestidos e casacos vai muito além das linhas e das tesouras: trata-se de uma forma de expressão, um símbolo de resiliência diante da completa desesperança e uma homenagem ao próprio espírito humano.

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Até por isso, para além da relação conturbada entre Dior e Chanel, a série devota (ao menos nos seus episódios iniciais, que são os que estamos analisando aqui) um bom tempo da sua narrativa à história de Catherine Dior (Maisie Williams) — que tem, de fato, uma biografia nada menos que assombrosa: a irmã do protagonista foi uma figura admirável na resistência francesa durante a Segunda Guerra, envolvida com o serviço de inteligência franco-polonês e barbaramente torturada no campo de concentração de Ravensbrück após a captura pela Gestapo. Williams já provou que sabe interpretar personagens fortes (vide Arya, de “Game of Thrones”), mas Catherine tem um tipo completamente diferente de tenacidade — e a atriz consegue transmitir o trauma daquilo que passou de maneira muito sutil, muito elegante.

Também merece um destaque positivo o comando magnético de Ben Mendelsohn no papel central da história. Mendelsohn é um daqueles atores que definitivamente não têm o reconhecimento que merecem, mas que engrandecem qualquer projeto — veja, por exemplo, a primeira temporada de “Bloodline”, criada pelo mesmo Todd A. Kessler de “The New Look”, e tente entender a razão de uma das primeiras produções originais da Netflix ter passado tão despercebida. Eu não entendo.

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O fato é que, aqui, Mendelsohn finalmente tem a chance de viver um protagonista de alto calibre, e ele agarra a oportunidade com unhas e dentes: seu Dior equilibra-se perfeitamente entre a homenagem e a humanização, sem nunca escorregar para a caricatura mesmo com o sotaque carregado, uma armadilha para atores menos experientes. A tour-de-force de Mendelsohn é carregada basicamente com o olhar, numa aula de interpretação sutil que certamente não atrairá a atenção das grandes premiações (afinal, todo mundo gosta de uma choradeira, de um overacting, e não é o caso aqui), mas que segue consolidando o ator australiano como um dos grandes da sua geração.

Maisie Williams em “The New Look”.

Há de se destacar também o aspecto técnico: “The New Look” é, em todos os sentidos, uma produção impecável, seja na sua recriação meticulosa da Paris dos anos 1940 (com direito a grandes salões glamourosos e cenas estendidas com um número enorme de figurantes, evidenciando a influência do cofrinho quase infinito da Apple) ou no seu time de cineastas comandando os episódios — além de Kessler, temos os canadenses Helen Shaver e Jeremy Podeswa, além da colaboração luxuosa de Julia Ducournau, vencedora da Palma de Ouro em Cannes por “Titane”, em dois capítulos. E, mesmo com tantos nomes de peso, “The New Look” nunca oscila ou tem excessos de estilização nas mãos de um diretor ou outro, sinal da mão firme de Kessler no cargo de showrunner.

O que há mais a se dizer, então? Só que você provavelmente deveria conferir “The New Look” assim que possível. Para usar termos do universo da moda, ela é mainstream, mas é também avant-garde — e, como toda boa peça de roupa, é costurada lentamente e com cuidado, como uma bela obra de slow fashion, mas pronta para ser assimilada por qualquer pessoa, pois é também prêt-à-porter.

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