O melhor pedaço da Maçã.

O vídeo “Mãe Natureza” cumpriu exatamente o seu propósito

Quando eu disse na semana passada que essas apresentações pré-gravadas da Apple andam pasteurizadas e imemoráveis, eu não fui totalmente preciso.

Publicidade

No evento de 12 de setembro, um segmento foi repercutido muito mais do que os outros e, por diferentes motivos, não será esquecido tão cedo. Falo, é claro, do vídeo “Status de 2030 | Mãe Natureza”.

YouTube video

Serei sincero: eu achei o vídeo totalmente deslocado e longo demais. Com 5 minutos e 25 segundos de duração, sua exibição na metade do anúncio do Apple Watch Series 9 quebrou totalmente o ritmo da apresentação. Para piorar, logo em seguida veio um segmento de 4 minutos e 22 segundos em que Lisa Jackson (vice-presidente de iniciativas ambientais, políticas e sociais da Apple) basicamente repetiu muitas das informações que havíamos acabado de ver.

Mas, se você é uma das pessoas cujo sangue ferve só de pensar no que viu, lamento informar que esse vídeo foi feito justamente para você.

Ninguém quer saber disso

A maior parte dos permanentemente revoltados comentaristas de internet que se manifestaram contra o vídeo, publicou (com diferentes níveis de educação e habilidade vocabular) variações de uma mesma reação: “Ninguém se importa.”

Publicidade

E quer saber? Eles estão certos.

Dando uma espiada naquela funcionalidade do YouTube que informa as partes mais assistidas de cada vídeo, fica evidente que esse segmento empatou com a seção sobre fotografias do iPhone 15 e a seção sobre o A17 Pro no ranking de desinteresse da audiência.

Captura da interface do YouTube com o gráfico de audiência de cada segmento do vídeo da keynote “Wonderlust”.

Além disso, a Apple publicou inúmeras versões desse vídeo em seus diferentes canais do YouTube, e todas elas somam pouco mais de 4 milhões de visualizações (versus quase 30 milhões de visualizações do vídeo completo do evento).

Publicidade

Mas aqui vão dois pontos importantes:

  1. É óbvio que a Apple sabe que poucas pessoas se interessam de forma espontânea e voluntária por esse tema, afinal, ela tem acesso às métricas de downloads e visualizações dos seus relatórios ambientais e… bem, não devem ser números estrondosos.
  2. Também é óbvio que ela sabia que a maioria dos comentários e reações a esse segmento seriam ruins. Via de regra na internet, quem gosta de alguma coisa se dá por satisfeita e segue com o próprio dia; já quem não gosta, precisa se manifestar.

Não é de hoje que a Apple lida com pessoas que confundem ambientalismo com manifestação política e também não é de hoje que essas pessoas não perdem a chance de se posicionar contra qualquer tangibilização do que elas projetam como um inimigo lacrador.

Publicidade

Com isso em mente, duas coisas ficam óbvias: a inclusão de quase dez minutos de assuntos ambientais no evento mais importante do ano não foi um acidente ou uma atitude irrefletida. Ironicamente, a Apple já contava com a ajuda dos revoltados profissionais de internet para potencializar a divulgação do material.

Existe, na verdade, um terceiro ponto que vale citar: a maioria das pessoas fora da nossa bolha de tecnologia parece ter achado o vídeo divertido, o que sugere que o mundo real tem bem mais senso de humor do que o resto de nós.

De qualquer forma, sabendo que o interesse espontâneo das pessoas por esse assunto geralmente beira o nulo, a Apple decidiu buscar fazer um vídeo lúdico para elencar 11 (eu contei) iniciativas importantes. Ele foi menos engraçado do que a Apple achou que seria? Sem dúvida. Nem a Octavia Spencer, que sempre manda bem em papéis cômicos, conseguiu salvar algumas das piadas que passaram longe do objetivo de provocar risadas.

Ainda assim, a Apple reiterou a sua intenção de zerar o impacto de carbono de todos os seus produtos até 2030 e, agora, uma quantidade bem maior de pessoas está falando sobre isso em comparação ao anúncio feito para o Dia da Terra em que, naturalmente, ninguém prestou atenção.

Relatório de Progresso Ambiental da Apple

O maldito ROI

Em 2014, durante a reunião anual entre a Apple e seus investidores, o grupo NCPPR pediu para Tim Cook detalhar o ROI1Return on investment, ou retorno sobre o investimento. das iniciativas ambientais da Apple e se comprometer a seguir em frente apenas com as que dessem lucro.

O que veio em seguida foi a maior demonstração pública de irritação de Cook até hoje. Ele respondeu:

A Apple faz muitas coisas por motivos que vão além do lucro. Quando nós trabalhamos para tornar os nossos dispositivos acessíveis para pessoas cegas, nós não pensamos no maldito ROI. Quando eu penso em fazer as coisas certas, eu não penso no ROI. Se essa é uma conduta muito dura para você e se você só quer que eu faça as coisas visando o ROI, venda as suas ações.

Foi um exagero? Certamente. Os investidores estão certos de exigirem que seus investimentos deem retorno. Por outro lado, a temática de responsabilidade ambiental acerca da Apple não era exatamente uma novidade e qualquer investidor já deveria saber disso.

Há anos, a Apple já vinha dedicando um (pequeno) segmento dos anúncios de novos iPhones para prestar contas sobre a responsabilidade ambiental de cada versão, a ponto de Phil Schiller ter brincado com isso em 2015, durante a menção dos pontos sustentáveis do iPhone 6s.

YouTube video

Se Cook errou no tom ao defender que as iniciativas ambientais não devam gerar lucro, o pedido público do grupo investidor para desistir dessas iniciativas foi igualmente improdutivo. Situação parecida com a da última semana.

Dando o exemplo

A essa altura, acho que não é polêmico dizer que muito do que a Apple faz, serve como plano de ação para as outras empresas. No caso de questões ambientais, não é diferente. Na verdade, a própria Apple já disse mais de uma vez que ela espera que a concorrência reproduza algumas de suas iniciativas ambientais. E ela a reproduz.

Amazon sinaliza um produto recém-anunciado como amigável ao meio ambiente.

Ao dedicar quase 15% do evento mais importante do ano a um assunto que, na melhor das hipóteses, não ocorre naturalmente para quase ninguém (e na pior, faz algumas pessoas perderem o controle), a Apple passa uma mensagem clara: trazer à tona o assunto sustentabilidade não é apenas uma escolha, mas sim uma prioridade.

É bem provável que cada evento seja uma nova oportunidade de fazer com que todos assimilem (ou enfrentem) isso, mas fica aqui a torcida para que os próximos sejam realmente engraçados. E talvez um pouquinho mais curtos.

Notas de rodapé

  • 1
    Return on investment, ou retorno sobre o investimento.

Ver comentários do post

Compartilhe este artigo
URL compartilhável
Post Ant.

Vídeo: conheça as câmeras dos iPhones 15, 15 Plus, 15 Pro e 15 Pro Max!

Próx. Post

Eddy Cue quer revolucionar a transmissão de esportes com o Apple TV+

Posts Relacionados