O melhor pedaço da Maçã.

O legado de Tim Cook: o líder certo para o momento certo

Apple/Divulgação
Tim Cook na keynote do evento especial "É hora do show"

Nas últimas semanas, o assunto de uma possível saída de Tim Cook da Apple ganhou destaque na mídia especializada. Além da idade e do tempo de atividade do atual CEO 1Chief executive officer, ou diretor executivo., o tema reacendeu-se devido ao fato de que ele recebeu a décima e última parcela do seu acordo de dez anos com a companhia (uma gorda fatia de 5 milhões de ações, equivalentes a aproximadamente US$750 milhões).

Publicidade

A bolsa de apostas está agitada em relação aos possíveis sucessores à cadeira número um de uma das maiores empresa do planeta. Meu objetivo aqui não é analisar os candidatos ao cargo, mas sim refletir um pouco sobre o legado de Cook para Apple.

O perfil certo, na hora certa

Em meio a muitas críticas ao seu desempenho na função, especialmente afirmações de que em termos de inovação a empresa praticamente estacionou, é importante entender o momento da Apple quanto à sucessão de Steve Jobs para Cook, e o motivo de ela ter sido altamente assertiva e bem-sucedida.

Lembrando ainda que Cook foi a escolha do próprio Jobs, antes de morrer. Para entender melhor o perfil e o papel de Cook, precisamos compreender um pouco sobre os diferentes perfis de líderes no contexto do desenvolvimento de empresas inovativas. São eles: exploradores, pioneiros e colonizadores.

Exploradores

Os exploradores são aqueles que buscam novas oportunidades e territórios inexplorados. No contexto de empresas inovadoras, esses profissionais estão constantemente à procura de novas ideias, tecnologias emergentes e mercados inexplorados.

Publicidade

Eles são movidos pela curiosidade e pelo desejo de descobrir o que ainda não foi encontrado. Exploradores são essenciais nas fases iniciais de uma empresa, quando a identificação de novas oportunidades e a exploração de novas direções são cruciais. Eles ajudam a empresa a diversificar os seus riscos e a encontrar nichos que podem se tornar lucrativos no futuro.

Um exemplo de explorador é Elon Musk. Ele constantemente busca novas fronteiras tecnológicas, como evidenciado por suas empreitadas na SpaceX, na Tesla e na Neuralink. Musk exemplifica o espírito explorador ao desafiar o status quo e buscar soluções para problemas que muitos consideram insolúveis.

Exploradores são fundamentais para iniciar novas tendências e abrir caminhos que outros podem seguir.

Pioneiros

Os pioneiros são os que transformam descobertas em inovações práticas e concretas. Eles pegam as ideias exploradas e começam a moldá-las em produtos ou serviços viáveis. No ciclo de vida de uma empresa inovadora, os pioneiros entram em ação após os exploradores terem identificado uma oportunidade. Eles são responsáveis por desenvolver protótipos, testar conceitos e lançar produtos no mercado. Os pioneiros são essenciais para traduzir a exploração inicial em algo tangível e comercializável.

Publicidade

Um exemplo clássico de pioneiro é Jeff Bezos. Ele transformou a ideia de um mercado online em uma das empresas mais valiosas do mundo. Bezos não só explorou a ideia do comércio eletrônico, mas também foi pioneiro em torná-la prática e lucrativa.

Publicidade

Pioneiros são cruciais para transformar visões em realidades comerciais.

Colonizadores

Os colonizadores são responsáveis por consolidar e escalar inovações. Eles entram em cena quando um produto ou serviço já foi testado e aprovado no mercado. O papel dos colonizadores é otimizar processos, estabelecer operações escaláveis e garantir a sustentabilidade a longo prazo da inovação. Eles são essenciais para levar a empresa de uma fase de crescimento inicial para uma fase de maturidade, em que a eficiência e a consistência operacional são chave.

Um exemplo é Sheryl Sandberg, que ajudou o Facebook a se tornar uma operação altamente eficiente e escalável, focando em monetização e estrutura organizacional.

Colonizadores garantem que as inovações possam ser mantidas e ampliadas de maneira sustentável.


Resumindo, nenhuma empresa pode ir muito longe e ser durável sem exploradores, pioneiros e colonizadores. Cada perfil desempenha papéis distintos, mas complementares, no ciclo de inovação de uma empresa.

Exploradores são visionários que identificam novas oportunidades e definem as bases para futuras inovações. Eles são cruciais no início de novas empreitadas, quando a direção e as possibilidades ainda são incertas.

Pioneiros, por sua vez, são os construtores que transformam essas visões em realidade, desenvolvendo produtos viáveis e introduzindo-os ao mercado. Eles operam na interseção entre inovação e praticidade, garantindo que as ideias exploradas possam ser realizadas.

Os colonizadores, finalmente, entram em cena para consolidar e escalar essas inovações, garantindo que a empresa possa crescer de maneira sustentável e eficiente. Eles são os gestores que transformam a inovação em uma operação contínua e lucrativa.

Juntos, esses perfis garantem que a inovação não apenas aconteça, mas também seja sustentada e escalada, levando ao sucesso a longo prazo da empresa.

Não ficou difícil para você classificar os dois últimos CEOs da Apple nesses perfis. Jobs foi um explorador (embora existam alguns estudiosos do tema que o considerem pioneiro). Ele trouxe a inovação para a Apple, novas perspectivas e encantou o mundo com o iPod, o iPhone e o iPad, entre outras coisas que tornaram a empresa uma das mais inovadoras do mundo.

Mas em sua genialidade, Jobs percebeu que a Apple não precisava de um outro explorador naquele momento, mas de um colonizador. Por isso, escolheu Cook na hora certa. Entendendo o seu papel, o novo líder se concentrou em otimizar a cadeia de suprimentos da Apple e em garantir que a empresa pudesse escalar suas operações globalmente de maneira eficiente.

Tim Cook vs. Steve Ballmer

Recentemente, li um artigo tratando da sucessão da Apple que comparava Cook e Ballmer como sendo correspondentes. Classificar os dois líderes como semelhantes é uma tamanha injustiça com o comandante da Maçã. Vamos analisar números de ambos os gestores para verificar o quão diferentes ambos são — isso sem falar na arrogância de Ballmer contra a simplicidade/discrição de Cook.

Cook assumiu a liderança da Apple em 2011 e, desde então, tem focado em expandir a linha de produtos da empresa, introduzindo dispositivos como o Apple Watch, os AirPods e vários serviços como o Apple Music e o Apple TV+. Vale lembrar que os serviços atualmente ocupam um percentual bastante representativo da receita e principalmente da rentabilidade da empresa.

Cook também tem sido instrumental na expansão da presença da Apple na China. Sob a sua gestão, a companhia atingiu a marca histórica de trilhões de dólares em valor de mercado, refletindo uma significativa valorização das ações. 

Ballmer liderou a Microsoft de 2000 a 2014, um período marcado por grandes mudanças tecnológicas e desafios competitivos. Durante o seu mandato, a Microsoft lançou o Windows XP, o Windows 7 e a linha de produtos Surface, além de adquirir o Skype e a Nokia.

No entanto, a empresa enfrentou dificuldades para se adaptar às novas tendências de computação móvel e de nuvem. A valorização das ações da Microsoft foi moderada durante a maior parte da sua gestão, refletindo um período de transição e competição acirrada. O posicionamento da marca durante a era Ballmer se concentrou mais em software e soluções corporativas, mantendo uma forte presença no mercado de PCs, mas com menos sucesso no mercado de dispositivos móveis.

No quadro a seguir, trago uma visão geral dos principais números e indicadores do período de ambos os gestores em suas empresas: 

IndicadorTim Cook (Apple)Steve Ballmer (Microsoft)
Período de gestão2011 – presente2000 – 2014
Valorização das açõesAproximadamente 1.000%Aproximadamente 40%
Principais lançamentosApple Watch, AirPods, Apple Music e Apple TV+Windows XP, Windows 7, Surface e Xbox 360
Posicionamento da marcaInovação e luxoSoftware e soluções corporativas
Expansão globalFortalecimento na ChinaExpansão moderada
Aquisições importantesBeats ElectronicsSkype, Nokia
DesafiosManter inovação na era pós-JobsAdaptação a dispositivos móveis e nuvem
Valor de mercadoUS$3 trilhões (2024)US$300 bilhões (2014)

Como pode-se observar, mesmo com as devidas proporções de tempo e também época, a gestão de Ballmer foi muito inferior ao trabalho do CEO da Apple. 

Conclusão

Não quero aqui supervalorizar a gestão de Cook e fazer parecer que ele não cometeu erros, pelo contrário: na minha opinião, a empresa realmente poderia ser mais inovadora nesse período, poderia ter arriscado mais e continuado seu legado de disfunção.

Por outro lado, era disso que a Apple precisava para se consolidar no mercado e tornar-se a primeira empresa a valer US$3 trilhões no mundo. Jobs sabia disso —talvez, se ele não tivesse ficado doente, em algum momento teria assumido uma função mais ligada a inovação e passado de qualquer forma o bastão da gestão para Cook. Quem sabe…

Duas coisas podemos concluir, depois de toda essa reflexão. Em primeiro lugar, o legado de Cook é inegável e certamente marcará a Apple por muito tempo. Talvez, como aconteceu no passado sob a gestão de Jobs, ela poderia até ter vacilado em seu crescimento e existência se não tivesse ocorrido essa alteração de comando.

Em segundo lugar, para continuar crescendo, a Apple precisa de um perfil diferente em seu próximo CEO. Depois de dez anos, está na hora de um explorador ou pioneiro ocupar essa cadeira hoje pertencente a um colonizador, ampliando a visão da empresa e preparando o caminho para a vinda de um novo colonizador, para assim o ciclo continuar.

Vamos ver o que será do futuro.

O objetivo desta coluna é trazer relações entre Apple e tecnologia com temáticas do mundo do trabalho, liderança, aprendizado e produtividade. Caso você tenha interesse ou saiba de temas que valem a pena serem discutidos aqui, deixe a sua sugestão nos comentários! 😊

Notas de rodapé

  • 1
    Chief executive officer, ou diretor executivo.

Ver comentários do post

Compartilhe este artigo
URL compartilhável
Post Ant.

Apple TV+ na China seria jogada de mestre, mas com inúmeros desafios

Próx. Post

Como copiar e colar estilos de formatação em quadros no Freeform [iPhone e iPad]

Posts Relacionados