Sabemos que o setor tecnológico é um dos que mais investe em lobbying em todas as esferas de poder dos Estados Unidos e do mundo, mas ele nunca foi o campeão nesse tipo de gastos — as indústrias do petróleo e do tabaco dividiram a coroa ao longo de muitas décadas. Em 2020, entretanto, o jogo parece ter virado.
Um relatório [PDF] da organização sem fins lucrativos Public Citizen demonstrou que, ao longo do ano passado, a Big Tech gastou mais dinheiro com lobbying do que todas as outras indústrias e segmentos. Só há um detalhe: das empresas amplamente consideradas as gigantes tecnológicas dos EUA (Apple, Google, Facebook e Amazon), a Maçã parece ser a mais comedida nesse tipo de investimento.
O documento adota um tom crítico à prática do lobby e às posições defendidas pelas gigantes tecnológicas, como explicitado nos primeiros parágrafos do resumo que abre o relatório:
Em anos recentes, Amazon, Apple, Facebook e Google têm estado sob um escrutínio cada vez maior por ameaçar a nossa privacidade, os pequenos negócios e os trabalhadores.
Em uma corrida para reunir poder de monopólio em seus respectivos mercados, essas empresas desenvolveram práticas de negócios predatórias que coletam dados dos usuários para lucro próprio e facilitam a discriminação por raça, religião, nacionalidade, idade e gênero. Facebook e Google detiveram uma influência inédita sobre o nosso processo democrático. A Amazon foi acusada de sujeitar trabalhadores a condições inseguras durante a pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), e a maioria da sua força de trabalho é negra, parda e/ou não branca. Todas essas empresas matam, em vez de incentivar, a inovação.
Investimentos cada vez maiores em Washington permitem que esses monopolistas prejudiquem consumidores, trabalhadores e outras empresas, com pouca responsabilização atribuída a elas até o momento. Um relatório da Public Citizen escrito em 2019 (cobrindo o ciclo das eleições de 2018) detalhou como empresas da Big Tech infestaram o Capitólio de lobistas e membros ricos do Congresso com contribuições de campanha.
O relatório segue, então, com algumas descobertas fundamentais: em 2020, Facebook e Amazon foram as empresas que mais gastaram com lobbying nos EUA — acima das líderes tradicionais, a petroleira Exxon e a Philip Morris, da indústria do tabaco.
O segmento tecnológico gastou cerca de US$124 milhões com lobby e contribuições de campanha durante o ciclo das eleições de 2020, com as quatro maiores empresas do ramo adicionaram 40 lobistas aos corredores do Congresso em apenas dois anos — eram 293 em 2018; passaram a ser 333 em 2020.
A Apple, particularmente, não parece ser um foco do relatório. A empresa é geralmente citada em conjunto às outras gigantes tecnológicas, com apenas uma seção dedicada especialmente a Cupertino: o documento cita que Cynthia Hogan, ex-lobista que passou alguns anos como vice-presidente de políticas governamentais e assuntos públicos para as Américas na Maçã, juntou-se à equipe de Joe Biden. Hogan já tinha relações com o presidente e trabalhou como sua conselheira durante o seu mandato de vice no governo Obama.
Resumindo: o lobby da Big Tech é forte e preocupante, mas a Apple não parece ser a figura mais poderosa nessa questão — como já vimos em números, aliás, a Maçã gasta menos que algumas das suas rivais nesse tipo de atividade.
De qualquer forma, a discussão sobre a moralidade do lobby vai longe: há quem diga que ele é uma ferramenta importante para a construção de leis e a defesa de interesses… e há quem defenda que ele não passa de uma espécie de corrupção legalizada. Se algo mudará nos próximos anos, entretanto, só o tempo dirá.
via 9to5Mac